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Mensagem por Admin Ter Mar 07, 2017 11:50 am

Profundamente fragilizado pela derrocada de modelos de negócio tradicionais e pressionado pelos desafios da produção e consumo em mobilidade, o Jornalismo é um alvo fácil. Está ali, meio inerte, meio esvaziado, com a pele esticada para todos os lados ao mesmo tempo, pronto para receber as críticas e, sobretudo, já sem grande poder para contrariar os abusos.

A responsável por um dos principais partidos políticos nacionais, Assunção Cristas, usou há dias a expressão "notícias plantadas". Perante uma informação pouco simpática para um dirigente do seu partido, divulgada por um diário nacional, a líder do CDS-PP não hesitou em espalhar um manto de suspeita generalizado sobre os média - o mais importante seria mesmo desviar a atenção, fosse de que forma fosse.

Houve, naturalmente, o antecipado impacto político e também mediático. Por momentos, foi mesmo possível deixar nas pessoas uma sensação de dúvida sobre os processos de seleção editorial.

Esta aritmética política simples, de gestão do imediato "custe a quem custar" tem, com cada vez mais frequência, sido construída à custa do Jornalismo. É, afinal de contas, também cada vez mais fácil fazê-lo. Profundamente fragilizado pela derrocada de modelos de negócio tradicionais e pressionado pelos desafios da produção e consumo em mobilidade, o Jornalismo é um alvo fácil. Está ali, meio inerte, meio esvaziado, com a pele esticada para todos os lados ao mesmo tempo, pronto para receber as críticas e, sobretudo, já sem grande poder para contrariar os abusos.

Sabemos bem, com a ajuda da História e com recurso a exemplos recentes noutras latitudes, que este ataque deliberado à credibilidade do Jornalismo tem implicações que em muito ultrapassam as fronteiras da profissão. Mas, no mais das vezes (aqui e noutras latitudes), os danos só são visíveis em momentos críticos.

Não podemos querer um sector mediático responsável e autónomo e, ao mesmo tempo, contribuir de forma deliberada para a sua fragilização. Não podemos exigir ao Jornalismo que assuma, com rigor e transparência, um papel de relevo numa sociedade democrática e plural e, ao mesmo tempo, não lhe dar condições mínimas de sobrevivência (os média não são fábricas de pneus, como em tempos disse Francisco Pinto Balsemão).

Caricaturar os média para benefício instantâneo é algo que não vai terminar (são cada vez mais populares os exemplos de ‘sucesso’) mas importa manter bem presente que, apesar de todos os mecanismos e entidades reguladoras que temos, foi nos média e através deles que primeiro soubemos de muitos dos episódios mais problemáticos da nossa vida comum. E foi nos média e através deles (com o trabalho esforçado de profissionais de grande qualidade) que – enquanto grupo – encontrámos questionamentos e/ou explicações que não foi possível ter de outra forma.

Plantar notícias sobre as notícias plantadas nos média é uma espécie de foguete de festa de Verão - muito barulho de uma só vez, muita fumaça a seguir e muito pouca preocupação com o destino das canas.

 LUÍS ANTÓNIO SANTOS
06 mar, 2017
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