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Era uma vez dois mortos-vivos de Lisboa
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Era uma vez dois mortos-vivos de Lisboa
Por mais que o título do presente artigo pareça querer remeter o leitor para o universo cinematográfico da UFA alemã, do cinema mudo, ou para o pai de todos os sonoros, George Romero - um universo refeito até à exaustão por tudo quanto é filme e série televisiva do momento -, a verdade é que os zombies em apreço são na verdade dois edifícios emblemáticos de Lisboa que a CML acaba de resgatar para o mundo dos bem vivos, para gáudio de todos quantos gostam genuinamente da cidade e têm boas recordações de ambos: o Pavilhão dos Desportos (Carlos Lopes desde 1984) e o Capitólio (Raul Solnado desde 2009).
E são curiosos os percursos de vida e de morte anunciada de um e outro, pois para lá do rebaptismo de que foram alvo, o primeiro no calor da medalha de ouro do atleta, o segundo na emoção do adeus ao actor; quer o Pavilhão Carlos Lopes quer o Cine-Teatro Capitólio foram tão amados quanto odiados ou, na melhor das hipóteses, menosprezados.
O Pavilhão, porque esta obra dos manos Rebello de Andrade, conhecidos arquitectos do revivalismo joanino, género já de si pouco amado por força da imponência que quer ter e dos enfeites que sempre implicou; era para ser efémero e virou definitivo, era para acolher exposições e, mal assentou alicerces no Parque Eduardo VII, regressado do Rio, prestou-se a campeonatos de hóquei em patins (no tempo em que esta era modalidade primeira entre nós), ginástica, pingue-pongue, luta, entre outros, para mais tarde passar a outras lutas, das corporativas aos comícios partidários de cores opostas.
O Cine-Teatro (na realidade talvez fosse para ser mais cinema, mas isso é outro assunto) porque, apesar de as elites aí já estarem impossibilitadas de o ignorar, por ser obra de referência do nosso Modernismo, ponto, é da autoria de Cristino da Silva, o mais conotado dos arquitectos do Estado Novo e por isso politicamente incorrecto.
Fosse como fosse, não fosse a população de Lisboa, e alguma dela em especial (desde logo o punhado de "Cidadãos pelo Capitólio" que em 2004 candidataram o dito à UNESCO e aos seus 100 Most Endagered Sites), na realidade, recuando 15-20 anos e à vontade de alguns políticos efémeros de então, hoje já não haveria nem Pavilhão nem Capitólio para ninguém, com ou sem taxa turística, com ou sem Parque Mayer, porque ambas as certidões de óbito foram emitidas e só faltava o camartelo para lhes pôr fim, como pôs a um sem-número de outros edifícios que não tiveram a sorte destes e que não tiveram direito a parangona.
Mas assim não aconteceu. O que parecia um final infeliz, digno do mais terrífico filme de terror, acabou por se revelar de final feliz, graças à tomada de consciência de quem de direito, forçado em parte pela opinião pública, mas também, há que dizê-lo, pela mudança de mentalidades e o novo entendimento das coisas que se impunha, que nestes casos chegou a tempo.
Portanto, temos Pavilhão Carlos Lopes e temos Capitólio, com o quê doravante não se sabe, na realidade isso pouco importa nesta altura. O que importa é que eles estão aí, recuperados na sua dignidade de outrora, nas suas formas e ritmos, nas suas decorações (em certa medida opostas no tempo e no modo), do imenso potencial de ambos e de que a cidade já carecia e que muitos nunca conheceram, apenas os reconhecendo como edifícios fantasmagóricos, vandalizados e vilipendiados, de "resgate impossível", como nos disseram durante quase três décadas.
Pois bem, foi possível. Houve arte e engenho para se estancar o inevitável e para se gerar dinheiro e reunir vontades e saber. E ei-los de volta. Obrigado à CML por isso.
Contudo, e já vem sendo um hábito ultimamente, mais uma vez não houve bela sem senão: Bruno Soares e Souza Oliveira, os arquitectos responsáveis, respectivamente, pelos projectos de reabitação do Pavilhão e do Cine-Teatro, resolveram inventar e deixar a sua marca de autor; neste último acrescentando-lhe um corpo negro a tardoz, medonho e redundante, qual ecrã de televisor de antanho (imagino que para assustar as espécies do Jardim Botânico), naquele outro não repondo os pináculos decorativos há muito desaparecidos da fachada e, imagine-se, exterminando-lhe as bancadas e os varandins de ferro no interior, que o faziam... pavilhão, virando por isso hangar da parte de dentro, um imenso armazém sem alma, e como se tal não bastasse ainda houve abate de árvores em volta para se erguerem "estruturas" e abrirem valas para escadas rolantes (um paradoxo se pensarmos que estas ainda não são modalidade desportiva...).
Foi o preço do resgate. Justo? Talvez.
E com isto já me esquecia do 3.º morto-vivo, também ele com resgate anunciado pela CML e talvez só concretizado daqui por quatro anos: a Estação Sul e Sueste, de Cottineli Telmo. Haja obra!
Fundador e ativista do movimento Fórum Cidadania Lx
31 DE MARÇO DE 2017
00:00
Paulo Ferrero
Diário de Notícias
E são curiosos os percursos de vida e de morte anunciada de um e outro, pois para lá do rebaptismo de que foram alvo, o primeiro no calor da medalha de ouro do atleta, o segundo na emoção do adeus ao actor; quer o Pavilhão Carlos Lopes quer o Cine-Teatro Capitólio foram tão amados quanto odiados ou, na melhor das hipóteses, menosprezados.
O Pavilhão, porque esta obra dos manos Rebello de Andrade, conhecidos arquitectos do revivalismo joanino, género já de si pouco amado por força da imponência que quer ter e dos enfeites que sempre implicou; era para ser efémero e virou definitivo, era para acolher exposições e, mal assentou alicerces no Parque Eduardo VII, regressado do Rio, prestou-se a campeonatos de hóquei em patins (no tempo em que esta era modalidade primeira entre nós), ginástica, pingue-pongue, luta, entre outros, para mais tarde passar a outras lutas, das corporativas aos comícios partidários de cores opostas.
O Cine-Teatro (na realidade talvez fosse para ser mais cinema, mas isso é outro assunto) porque, apesar de as elites aí já estarem impossibilitadas de o ignorar, por ser obra de referência do nosso Modernismo, ponto, é da autoria de Cristino da Silva, o mais conotado dos arquitectos do Estado Novo e por isso politicamente incorrecto.
Fosse como fosse, não fosse a população de Lisboa, e alguma dela em especial (desde logo o punhado de "Cidadãos pelo Capitólio" que em 2004 candidataram o dito à UNESCO e aos seus 100 Most Endagered Sites), na realidade, recuando 15-20 anos e à vontade de alguns políticos efémeros de então, hoje já não haveria nem Pavilhão nem Capitólio para ninguém, com ou sem taxa turística, com ou sem Parque Mayer, porque ambas as certidões de óbito foram emitidas e só faltava o camartelo para lhes pôr fim, como pôs a um sem-número de outros edifícios que não tiveram a sorte destes e que não tiveram direito a parangona.
Mas assim não aconteceu. O que parecia um final infeliz, digno do mais terrífico filme de terror, acabou por se revelar de final feliz, graças à tomada de consciência de quem de direito, forçado em parte pela opinião pública, mas também, há que dizê-lo, pela mudança de mentalidades e o novo entendimento das coisas que se impunha, que nestes casos chegou a tempo.
Portanto, temos Pavilhão Carlos Lopes e temos Capitólio, com o quê doravante não se sabe, na realidade isso pouco importa nesta altura. O que importa é que eles estão aí, recuperados na sua dignidade de outrora, nas suas formas e ritmos, nas suas decorações (em certa medida opostas no tempo e no modo), do imenso potencial de ambos e de que a cidade já carecia e que muitos nunca conheceram, apenas os reconhecendo como edifícios fantasmagóricos, vandalizados e vilipendiados, de "resgate impossível", como nos disseram durante quase três décadas.
Pois bem, foi possível. Houve arte e engenho para se estancar o inevitável e para se gerar dinheiro e reunir vontades e saber. E ei-los de volta. Obrigado à CML por isso.
Contudo, e já vem sendo um hábito ultimamente, mais uma vez não houve bela sem senão: Bruno Soares e Souza Oliveira, os arquitectos responsáveis, respectivamente, pelos projectos de reabitação do Pavilhão e do Cine-Teatro, resolveram inventar e deixar a sua marca de autor; neste último acrescentando-lhe um corpo negro a tardoz, medonho e redundante, qual ecrã de televisor de antanho (imagino que para assustar as espécies do Jardim Botânico), naquele outro não repondo os pináculos decorativos há muito desaparecidos da fachada e, imagine-se, exterminando-lhe as bancadas e os varandins de ferro no interior, que o faziam... pavilhão, virando por isso hangar da parte de dentro, um imenso armazém sem alma, e como se tal não bastasse ainda houve abate de árvores em volta para se erguerem "estruturas" e abrirem valas para escadas rolantes (um paradoxo se pensarmos que estas ainda não são modalidade desportiva...).
Foi o preço do resgate. Justo? Talvez.
E com isto já me esquecia do 3.º morto-vivo, também ele com resgate anunciado pela CML e talvez só concretizado daqui por quatro anos: a Estação Sul e Sueste, de Cottineli Telmo. Haja obra!
Fundador e ativista do movimento Fórum Cidadania Lx
31 DE MARÇO DE 2017
00:00
Paulo Ferrero
Diário de Notícias
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