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Democracia(s) e lideranças
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Democracia(s) e lideranças
Transcorridas seis décadas sobre o Tratado de Roma é natural que me refira a esse momento fundador e à Europa a que ele deu origem. Mas mais do que ser natural é justo que o faça. Porque se trata de uma ideia e de uma prática de cooperação internacional sem paralelo na história do homem.
Portugal fez metade dessa viagem comum que começou com seis membros e se multiplicou até 28. Também por essa realidade é justo assinalar a efeméride: já pensaram como seriam a nossa economia e a nossa democracia, o que seríamos sem esta Europa? Como estaria a nossa autoestima, sem esse sentimento de pertença a um espaço privilegiado, de um Mundo global? Ou como será o nosso futuro sem ela ou fora dela? Demasiadas vezes se assiste a declarações negativas - a irresistível atração para nos munirmos sempre de uma boa dose de "capital de queixa" - sem valorizarmos devidamente o que ganhámos com a nossa adesão plena ao que hoje é a União Europeia.
Porque a Europa tem muitas coisas que os outros não têm e por isso continua a ser reconhecida, a nível mundial, como o melhor lugar para se viver. O que a Europa não pode é sair do seu quadro de valores: solidariedade, respeito pelos direitos fundamentais, aceitação das diversidades culturais e das minorias. Há, imperativamente, que dizer não às agendas nacionalistas autoritárias, ao populismo, às lógicas de confronto e de desintegração. E o que a Europa não pode mesmo, diante destes sinais e face a tão grandes massas críticas de outros (EUA, China, Rússia, Índia, etc.), é deixar de ser União, ter a liderança política apropriada. É aqui que a dificuldade aparece!
A evolução dos tempos tem acarretado alterações profundas no estilo de liderança. De porta-estandartes visionários, apontando caminhos, esclarecendo e construindo - não necessariamente com muito respeito por dinâmicas democráticas - evoluímos depois para uma tipologia de liderança através da obtenção de consentimento em lugar de o ser por imposição, mais ou menos autoritária. Mas de onde se passou, muito rapidamente, ao líder enquanto especialista em interpretar a opinião "em vigor" e em comportar-se de acordo com as expectativas que os outros têm do modo como ele se comporta.
Estamos já menos perante o estratega que vê longe, e mais deparando-nos com quem vai atrás. Ora a aceleração da história presente onde as lógicas democráticas mudam mais devagar que outros aspetos do Mundo, acentua facilmente esse tipo de "liderança": sem base ideológica concreta, em que se ganha por se interpretar bem o que os eleitores esperam ouvir, capitalizando de modo oportunista algum desencantamento da política. Daí ao populismo de massas, no qual a coerência e a substância são substituídas pelo simples carisma e pelo pior pragmatismo, e onde o objetivo principal do "líder" é preservar-se a si próprio vai um simples passo. Há que inventar uma nova categoria de liderança, uma via alternativa, que permita preservar a(s) democracia(s) e reforçar o projeto da União.
* REITOR DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
Manuel António Assunção*
Hoje às 00:02
Jornal de Notícias
Portugal fez metade dessa viagem comum que começou com seis membros e se multiplicou até 28. Também por essa realidade é justo assinalar a efeméride: já pensaram como seriam a nossa economia e a nossa democracia, o que seríamos sem esta Europa? Como estaria a nossa autoestima, sem esse sentimento de pertença a um espaço privilegiado, de um Mundo global? Ou como será o nosso futuro sem ela ou fora dela? Demasiadas vezes se assiste a declarações negativas - a irresistível atração para nos munirmos sempre de uma boa dose de "capital de queixa" - sem valorizarmos devidamente o que ganhámos com a nossa adesão plena ao que hoje é a União Europeia.
Porque a Europa tem muitas coisas que os outros não têm e por isso continua a ser reconhecida, a nível mundial, como o melhor lugar para se viver. O que a Europa não pode é sair do seu quadro de valores: solidariedade, respeito pelos direitos fundamentais, aceitação das diversidades culturais e das minorias. Há, imperativamente, que dizer não às agendas nacionalistas autoritárias, ao populismo, às lógicas de confronto e de desintegração. E o que a Europa não pode mesmo, diante destes sinais e face a tão grandes massas críticas de outros (EUA, China, Rússia, Índia, etc.), é deixar de ser União, ter a liderança política apropriada. É aqui que a dificuldade aparece!
A evolução dos tempos tem acarretado alterações profundas no estilo de liderança. De porta-estandartes visionários, apontando caminhos, esclarecendo e construindo - não necessariamente com muito respeito por dinâmicas democráticas - evoluímos depois para uma tipologia de liderança através da obtenção de consentimento em lugar de o ser por imposição, mais ou menos autoritária. Mas de onde se passou, muito rapidamente, ao líder enquanto especialista em interpretar a opinião "em vigor" e em comportar-se de acordo com as expectativas que os outros têm do modo como ele se comporta.
Estamos já menos perante o estratega que vê longe, e mais deparando-nos com quem vai atrás. Ora a aceleração da história presente onde as lógicas democráticas mudam mais devagar que outros aspetos do Mundo, acentua facilmente esse tipo de "liderança": sem base ideológica concreta, em que se ganha por se interpretar bem o que os eleitores esperam ouvir, capitalizando de modo oportunista algum desencantamento da política. Daí ao populismo de massas, no qual a coerência e a substância são substituídas pelo simples carisma e pelo pior pragmatismo, e onde o objetivo principal do "líder" é preservar-se a si próprio vai um simples passo. Há que inventar uma nova categoria de liderança, uma via alternativa, que permita preservar a(s) democracia(s) e reforçar o projeto da União.
* REITOR DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO
Manuel António Assunção*
Hoje às 00:02
Jornal de Notícias
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