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Um cogumelo biológico chinês
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Um cogumelo biológico chinês
A agricultura biológica que a estratégia do Governo promove tem muito pouco de sustentável.
O Governo de Portugal lançou recentemente uma Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica. Como é próprio de um Estado socialista, temos uma vez mais o Governo a ditar o que devem os privados fazer e que estratégias devem seguir. Afinal, os empresários não sabem bem o que fazer com o seu dinheiro e o Estado sente a necessidade de os instruir.
Agora, num tema de pouca importância, a nossa alimentação — afinal nem todos comemos, não é? —, temos num documento estratégico do Estado a total confusão entre ciência, política e ideologia. Naturalmente a tão natural agricultura biológica viu-se uma vez mais alvo de tantos elogios públicos. E se eu resolver discordar? Devo dizer que esta não é nem tem de ser uma prática mais amiga do ambiente, quando comparada com uma agricultura de grande aplicação tecnológica.
Fatores como a vida do solo, a qualidade dos alimentos e o preço final dos bens (questão essencial no que respeita à alimentação das populações mais carenciadas) em nada beneficiam com uma agricultura orgânica. Naturalmente que, tendo esta um espaço crescente junto do consumidor — eu mesmo fui agricultor biológico —, deve ter o seu espaço na produção, mas para isso a União Europeia já a inunda de dinheiros públicos. Se o preço final dos produtos é, também ele, superior ao convencional, para quê meter ainda mais dinheiro nacional neste cesto?
Naturalmente, nada tenho contra uma agricultura moderna e biológica. Mas o que significam 70% de “área biológica” serem pastagens? Ou ainda 0,6% e 1,5% serem, respetivamente, de horticultura e fruticultura? Eu atiro uma pedra ao charco: a esmagadora maioria destes agricultores vê neste tipo de agricultura uma forma de receber mais um subsídio tão importante para a rentabilidade das suas explorações. Deve, pois, concluir-se que a verdadeira produção de alimentos biológicos ainda não acontece em Portugal.
Como é sabido, as importações aumentaram mais de 730% entre 2014 e 2016, com a maioria dos produtos a serem comprados à China. Quando o Governo se propõe colocar uma “percentagem de produtos biológicos no novo regime de frutas e leite nas escolas, prevendo-se igualmente fomentar a incorporação destes produtos nas ementas dos refeitórios públicos e incentivar a criação de ementas biológicas nos refeitórios”, pretende assim colocar um bonito cogumelo chinês no prato dos alunos portugueses? Não seria mais sustentável promover antes e só a agricultura nacional? Por exemplo, em escolas alentejanas, a carne consumida pelos alunos ser do Alentejo? Ou numa escola açoriana o leite provir de uma cooperativa dos Açores?
Imaginação não falta à equipa do Terreiro do Paço, mas a verdadeira forma de Portugal ter uma agricultura capaz de gerar riqueza é, antes de mais, mediante a incorporação de tecnologia. Se o Governo vai promover o “Dia Nacional da Agricultura Biológica”, para quando o “Dia da Agricultura de Conservação”, ou o “Dia da Agricultura de Precisão”? A agricultura biológica que este novo documento promove de sustentável tem ainda muito pouco. Os produtos viajam distâncias inimagináveis até chegarem a Portugal. Esta realidade pouco ou nada tem que ver com o espírito de uma agricultura verdadeiramente biológica. Primeiro teremos de incentivar o consumo nacional, e só depois olhar para estes nichos.
Como se verifica, esta estratégia nacional pouco tem de sustentável, mas apenas de ideológico. Capoulas Santos tem conhecimento de que, no sector agrícola, a esmagadora maioria das políticas públicas vem de Bruxelas. Assim, este tipo de documento serve para… o PAN ver. O modelo agrícola que hoje devemos incentivar é o da produção nacional sustentável, e não este da importação desmedida de produto estrangeiro com um símbolo de sustentabilidade completamente descabido.
O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico
Engenheiro Agrónomo
LOPO DE CARVALHO
6 de Abril de 2017, 8:05
Público
O Governo de Portugal lançou recentemente uma Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica. Como é próprio de um Estado socialista, temos uma vez mais o Governo a ditar o que devem os privados fazer e que estratégias devem seguir. Afinal, os empresários não sabem bem o que fazer com o seu dinheiro e o Estado sente a necessidade de os instruir.
Agora, num tema de pouca importância, a nossa alimentação — afinal nem todos comemos, não é? —, temos num documento estratégico do Estado a total confusão entre ciência, política e ideologia. Naturalmente a tão natural agricultura biológica viu-se uma vez mais alvo de tantos elogios públicos. E se eu resolver discordar? Devo dizer que esta não é nem tem de ser uma prática mais amiga do ambiente, quando comparada com uma agricultura de grande aplicação tecnológica.
Fatores como a vida do solo, a qualidade dos alimentos e o preço final dos bens (questão essencial no que respeita à alimentação das populações mais carenciadas) em nada beneficiam com uma agricultura orgânica. Naturalmente que, tendo esta um espaço crescente junto do consumidor — eu mesmo fui agricultor biológico —, deve ter o seu espaço na produção, mas para isso a União Europeia já a inunda de dinheiros públicos. Se o preço final dos produtos é, também ele, superior ao convencional, para quê meter ainda mais dinheiro nacional neste cesto?
Naturalmente, nada tenho contra uma agricultura moderna e biológica. Mas o que significam 70% de “área biológica” serem pastagens? Ou ainda 0,6% e 1,5% serem, respetivamente, de horticultura e fruticultura? Eu atiro uma pedra ao charco: a esmagadora maioria destes agricultores vê neste tipo de agricultura uma forma de receber mais um subsídio tão importante para a rentabilidade das suas explorações. Deve, pois, concluir-se que a verdadeira produção de alimentos biológicos ainda não acontece em Portugal.
Como é sabido, as importações aumentaram mais de 730% entre 2014 e 2016, com a maioria dos produtos a serem comprados à China. Quando o Governo se propõe colocar uma “percentagem de produtos biológicos no novo regime de frutas e leite nas escolas, prevendo-se igualmente fomentar a incorporação destes produtos nas ementas dos refeitórios públicos e incentivar a criação de ementas biológicas nos refeitórios”, pretende assim colocar um bonito cogumelo chinês no prato dos alunos portugueses? Não seria mais sustentável promover antes e só a agricultura nacional? Por exemplo, em escolas alentejanas, a carne consumida pelos alunos ser do Alentejo? Ou numa escola açoriana o leite provir de uma cooperativa dos Açores?
Imaginação não falta à equipa do Terreiro do Paço, mas a verdadeira forma de Portugal ter uma agricultura capaz de gerar riqueza é, antes de mais, mediante a incorporação de tecnologia. Se o Governo vai promover o “Dia Nacional da Agricultura Biológica”, para quando o “Dia da Agricultura de Conservação”, ou o “Dia da Agricultura de Precisão”? A agricultura biológica que este novo documento promove de sustentável tem ainda muito pouco. Os produtos viajam distâncias inimagináveis até chegarem a Portugal. Esta realidade pouco ou nada tem que ver com o espírito de uma agricultura verdadeiramente biológica. Primeiro teremos de incentivar o consumo nacional, e só depois olhar para estes nichos.
Como se verifica, esta estratégia nacional pouco tem de sustentável, mas apenas de ideológico. Capoulas Santos tem conhecimento de que, no sector agrícola, a esmagadora maioria das políticas públicas vem de Bruxelas. Assim, este tipo de documento serve para… o PAN ver. O modelo agrícola que hoje devemos incentivar é o da produção nacional sustentável, e não este da importação desmedida de produto estrangeiro com um símbolo de sustentabilidade completamente descabido.
O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico
Engenheiro Agrónomo
LOPO DE CARVALHO
6 de Abril de 2017, 8:05
Público
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