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O melhor país possível
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O melhor país possível
Os portugueses e os europeus estão a habituar-se perigosamente a aceitar as coisas menos más da vida como se fossem coisas boas. O resultado não vai ser lá grande coisa.
Bashar al-Assad, um tipo que não hesita em lançar gás sarin sobre o seu próprio povo e que quer perpetuar-se no lugar de presidente de uma república cada vez menos certa, é o menos mau dos tipos que andam ali pela Síria – o que quer dizer que o melhor é que o Ocidente lhe dê algum apoio.
A União Europeia respira de alívio quando um partido de direita vence umas eleições deixando para trás os partidos de extrema-direita – como se o âmago de todos eles em questões fundamentais como a própria União, os refugiados, os imigrantes, não fosse basicamente idêntico.
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aplaude as decisões do Governo em torno do Novo Banco, afirmando, na maior das calmas, que é a menos má.
Os anos de austeridade da troika destruíram milhares de postos de trabalho, alguns deles posteriormente substituídos por empregos mais precários, mais mal pagos, com menos regalias e uma perenidade reduzida– mas isso até nem é mau de todo, podia ser bem pior dado que o povo andou a viver acima das suas possibilidades durante um ror de anos.
Os europeus estão cada vez mais rodeados de coisas ‘o melhor possível’, ‘menos más’, ‘aceitáveis na medida do possível’. Não é o melhor dos mundos, mas, face às alternativas, não é nada mau. Ou, dito de outra forma: o mundo é mesmo mau, mas como podia ser pior, o melhor é estarmos agradecidos. Agradecidos e caladinhos, senão coisas bem piores podem sair-nos ao caminho.
Este estado de coisas não só é inaceitável, como pode levar a extremos que mais tarde não gostaremos de recordar. A sociedade europeia está a aprender a viver virada para dentro de si, sem lugar a mais nada – num esquema de vida em que a defesa das migalhas em vez da luta pelo pão todo passou a fazer sentido. E desta vez a culpa não é dos políticos – aliás, a culpa nunca foi dos políticos – é de cada um de nós, que prefere andar distraído. Essas distrações têm como um dos seus piores resultados a transformação de uma sociedade numa coisa deslaçada.
Uma das mais medonhas formas de avaliar o deslace de uma sociedade está no futebol – na imbecilidade do seu fanatismo, na suprema felicidade das vitórias e na facilidade com que os espetadores se acham no direito de dar cabo das trombas aos árbitros. Menos mal: um nariz partido sempre é melhor que um traumatismo craniano.
António Freitas de Sousa
11:05
Jornal Económico
Bashar al-Assad, um tipo que não hesita em lançar gás sarin sobre o seu próprio povo e que quer perpetuar-se no lugar de presidente de uma república cada vez menos certa, é o menos mau dos tipos que andam ali pela Síria – o que quer dizer que o melhor é que o Ocidente lhe dê algum apoio.
A União Europeia respira de alívio quando um partido de direita vence umas eleições deixando para trás os partidos de extrema-direita – como se o âmago de todos eles em questões fundamentais como a própria União, os refugiados, os imigrantes, não fosse basicamente idêntico.
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aplaude as decisões do Governo em torno do Novo Banco, afirmando, na maior das calmas, que é a menos má.
Os anos de austeridade da troika destruíram milhares de postos de trabalho, alguns deles posteriormente substituídos por empregos mais precários, mais mal pagos, com menos regalias e uma perenidade reduzida– mas isso até nem é mau de todo, podia ser bem pior dado que o povo andou a viver acima das suas possibilidades durante um ror de anos.
Os europeus estão cada vez mais rodeados de coisas ‘o melhor possível’, ‘menos más’, ‘aceitáveis na medida do possível’. Não é o melhor dos mundos, mas, face às alternativas, não é nada mau. Ou, dito de outra forma: o mundo é mesmo mau, mas como podia ser pior, o melhor é estarmos agradecidos. Agradecidos e caladinhos, senão coisas bem piores podem sair-nos ao caminho.
Este estado de coisas não só é inaceitável, como pode levar a extremos que mais tarde não gostaremos de recordar. A sociedade europeia está a aprender a viver virada para dentro de si, sem lugar a mais nada – num esquema de vida em que a defesa das migalhas em vez da luta pelo pão todo passou a fazer sentido. E desta vez a culpa não é dos políticos – aliás, a culpa nunca foi dos políticos – é de cada um de nós, que prefere andar distraído. Essas distrações têm como um dos seus piores resultados a transformação de uma sociedade numa coisa deslaçada.
Uma das mais medonhas formas de avaliar o deslace de uma sociedade está no futebol – na imbecilidade do seu fanatismo, na suprema felicidade das vitórias e na facilidade com que os espetadores se acham no direito de dar cabo das trombas aos árbitros. Menos mal: um nariz partido sempre é melhor que um traumatismo craniano.
António Freitas de Sousa
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