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Velocidade da informação
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Velocidade da informação
Regresso a um dos meus temas favoritos que é a velocidade com que as coisas mudam no nosso mundo atual.
A consciência da existência dessa mudança recomenda muita prudência na análise dos fenómenos que ocorrem à nossa frente. Em particular, desaconselha veredictos rápidos e inequívocos sobre a realidade. O mesmo se aplica aos juízos de valor sobre as decisões tomadas no dia a dia. Quer seja por nós quer seja por outros.
A catadupa de informação que tem vindo a ser revelada sobre o BES, o GES e as empresas relacionadas ilustra essa velocidade informacional. A informação afeta não apenas os factos formalmente reais, mas também os rumores ou a interpretação dos mesmos. Neste ambiente só o tempo e a filtragem dos dados clarificarão o que é relevante e o que é perfunctório.
A existência de muita informação relevante que vai sendo revelada ou de um processo que é muito dinâmico (isto é quem muda de forma rápida à medida que o tempo passa) torna difícil a apreensão e conhecimento isento da realidade. Acresce que as entidades e pessoas mais bem informadas e conhecedoras da realidade podem ser também as que têm também mais a ganhar ou a perder com a forma como a realidade se vier a materializar.
Estamos assim num cenário em que para os observadores isentos e independentes o ceticismo é a atitude mais prudente. Por um lado não se pode confiar na opinião das pessoas que estejam distantes dos problemas porque a sua visão da realidade é muito incompleta. Por outro, também não se pode confiar no juízo das pessoas que estão próximas da informação correta porque não temos a certeza se nos vão dar toda a informação ou apenas aquela que seja favorável aos seus objetivos ou interesses. Para aqueles que procuram a verdade factual, só podemos confiar na passagem do tempo para compreender o real.
Porém, o reconhecimento da existência de um volume tão grande de informação que se vai revelando mostra que a incerteza aumentou. Ou seja, o reflexo prático de uma velocidade de informação tão grande é uma incerteza muito maior sobre o que irá acontecer. Em termos práticos, a existência de muita informação nova diária sobre o BES ou empresas relacionadas aumentou de forma muito significativa a volatilidade do preço das suas ações. Este processo só deverá abrandar à medida que a informação nova se for tornando essencialmente irrelevante.
Na perspetiva da antecipação da evolução da economia portuguesa, porém, a questão-chave é tentar antecipar se a velocidade informativa que se abateu sobre este banco em concreto contém ou não informação relevante sobre o andamento geral da economia.
Em termos práticos, e espero isentos, parece-me cedo para tirar conclusões.
Em primeiro lugar a economia portuguesa continua sujeita a um conjunto de riscos significativos que podem ter um impacto líquido maior na economia portuguesa. Por exemplo: i) o processo de consolidação orçamental continua a não estar assegurado; ii) as taxas de juro em Portugal ainda não convergiram o suficiente com as restantes economias da zona euro; iii) o processo de abrandamento de estímulos monetários nos EUA (vulgo "tapering"); e ainda, iv) os riscos geopolíticos na Ucrânia, Norte de África e Médio Oriente. A questão prática, portanto, é saber se os riscos decorrentes deste episódio são de dimensão equivalente àqueles outros que influenciam Portugal, mas também a economia europeia e global. Parece-me cedo para responder afirmativamente. Não há ainda informação estatística, ou mesmo anedótica, que permita dizer que a crise no BES terá um impacto significativo na atividade económica, embora pareça já claro que deverá ter um impacto material no valor dos ativos de muitas pessoas, empresas e instituições.
Em segundo lugar, é difícil antecipar a resposta prática e concreta dos acionistas atuais ou novos e das autoridades públicas que podem alterar a dimensão e natureza dos impactos na economia face um cenário hipotético de inação total. Ou seja, a dificuldade em antecipar o impacto na economia resulta também da dificuldade em antecipar as decisões que vierem a ser tomadas por várias entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais. Para um observador independente, que não os quer condicionar, esta incerteza sobre o comportamento dos atores dificulta muito a quantificação ou qualificação desse impacto.
Na minha opinião teremos de aguardar pela publicação de diversos agregados estatísticos, monetários, reais e qualitativos, relativos a julho, agosto e meses posteriores para começar a especular sobre a dimensão deste risco para a economia portuguesa. Por enquanto, não se parece notar nos dados já divulgados. Nos dados diários, o impacto nos juros da dívida pública portuguesa tem sido pequeno, mas na cotação das ações em bolsa tem sido muito grande. Porém, em Portugal a correlação entre o PSI-20 e o PIB não é muito grande, e a subida dos juros não altera o quadro geral relativamente benigno em que estamos desde fevereiro deste ano.
Pela sua dimensão, este risco do BES, passou a estar no radar de quem segue a evolução da economia portuguesa, e só isso já é suficiente para dizer que a incerteza aumentou.
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
03 Agosto 2014, 19:00 por João Borges de Assunção | jba@ucp.pt
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