Olhar Sines no Futuro
BEM - VINDOS!!!!

Participe do fórum, é rápido e fácil

Olhar Sines no Futuro
BEM - VINDOS!!!!
Olhar Sines no Futuro
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Procurar
 
 

Resultados por:
 


Rechercher Pesquisa avançada

Tópicos semelhantes
Entrar

Esqueci-me da senha

Palavras-chaves

2012  2016  2017  2014  cais  2013  2018  2019  2015  tvi24  2023  2011  cmtv  2010  

Últimos assuntos
» Sexo visual mental tens a olhar fixamente o filme e ouvi fixamente
Democracia culta EmptyQui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin

» Apanhar o comboio
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin

» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin

» A outra austeridade
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin

» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin

» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin

» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin

» Pelos caminhos
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin

» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Democracia culta EmptySeg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin

Galeria


Democracia culta Empty
novembro 2024
DomSegTerQuaQuiSexSáb
     12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930

Calendário Calendário

Flux RSS


Yahoo! 
MSN 
AOL 
Netvibes 
Bloglines 


Quem está conectado?
445 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 445 visitantes :: 1 motor de busca

Nenhum

O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm

Democracia culta

Ir para baixo

Democracia culta Empty Democracia culta

Mensagem por Admin Sáb Ago 16, 2014 11:30 am

É hoje pacífico que a cultura transcende as divisões sectoriais, influindo na economia, no emprego, na coesão social, no turismo, no urbanismo. Disso dão conta os grandes documentos estratégicos da União Europeia ou da UNESCO.

No que toca a Portugal, estudos elaborados por economistas desvendaram nos últimos anos os números associados ao sector, praticamente desconhecidos há uma década atrás. Seria um erro crasso subestimar a validade do sector na criação de postos de trabalho e contributo para o PIB. Mas tais análises escondem uma dimensão menos benigna.

Começamos hoje a assistir a um desvirtuar da autonomia e do valor intrínseco da cultura em favor de metas económicas, em nome da sacrossanta competitividade. Esse fenómeno tem levado à conversão forçada dos criadores em gestores. A cultura tende hoje a ser colonizada pela “cultura” empresarial. Os artistas e agentes culturais são obrigados a competir por apoios públicos, a fazerem, no limite, cedências estéticas para obterem dividendos, desmultiplicando-se em ações de diplomacia económica, hoje dita fund-raising. A designação é em si mesma reveladora, em perfeita sintonia com a anglicização da língua-mãe que grassa no nosso meio artístico, gritante nos títulos em inglês com que a eito se baptizam exposições e colóquios, ao mesmo tempo que em discursos e discursatas se proclama a língua portuguesa um dos principais “activos” – como sói dizer-se em economês – do país. O fenómeno já inquietava João de Barros nos idos de 1539, levando-o a escrever que “a quem não falecer matéria e engenho para demonstrar sua tenção, em nossa linguagem não lhe falecerão vocábulos”.

Fizeram escola as teorias das incubadoras e ecossistemas criativos, das indústrias criativas e outras etiquetas de bom-tom. Não raro o que lhes subjaz é uma ideologia puramente economicista, que marginaliza ou despreza o valor cultural em detrimento do valor económico e admite deixar o destino da cultura nas mãos dos mercados.

Uma série de nomes sonantes do pensamento europeu fizeram a crítica sistemática da industrialização e mercantilização da cultura. Da Escola de Frankfurt a nomes hoje tão requisitados quanto Bauman e Lipovetsky, passando por Walter Benjamin ou Hannah Arendt, assinalou-se a perda da singularidade da obra de arte em benefício da sua reprodução em série, da sua assimilação a ciclos de produção/consumo que fazem dela uma mercadoria efémera e descartável. É assim que, enquanto o Governo envia a um leilão de duvidosa legalidade 85 quadros de Joan Miró com o fito de arrecadar alguns milhões, as lojas dos museus – inclusive nacionais, onde Miró escasseia – vendem peças de “merchandising” que reproduzem obras do artista catalão, porventura alguma das telas enviadas para a Christie’s. São notícia por estes dias as façanhas de empresas especializadas que fornecem o mercado das lojas de museus com inestimável arsenal de lápis, canecas, porta-chaves, ímanes, chávenas, capas para iPhone e iPad, t-shirts e igualha com que os consumidores ocidentais provam a sua devoção pela arte, pendurando-a nos frigoríficos ou vertendo nela a infusão de cidreira.

A cultura equipa os cidadãos de instrumentos para interpretar a realidade histórico-social nas suas complexidades e subtilezas, e tal equipagem cognitiva não tem tradução monetária. Tal como na Grécia antiga, a cultura, nas suas múltiplas dimensões patrimonial, civilizacional, mítico-simbólica e ontológica, serve de espelho ao homem. Nas representações e criações culturais o homem reconhece-se na sua humanidade, nos seus defeitos e virtudes. Nela se espelham as tensões e paradoxos da democracia no que têm de mais subtil e de inexpugnável. Na definição de António Machado, a cultura é “o diálogo do homem com o seu tempo”; diálogo enquadrado por uma estética, por uma técnica e por uma ética.

A nossa identidade surge fixada, no que tem de fixável, nas representações culturais. Se a arte imita a vida, também a vida imita a arte. A nossa paleta afectiva e mental foi modalizada e enriquecida pelos intérpretes privilegiados da vida: pintores, músicos, cineastas, escritores, encenadores e outros. Servem estes de consciência crítica à cidade: imaginam-lhe futuros, resgatam-lhe valores do passado, testam-na, desafiam-na, aproximam-nos uns dos outros, destruindo preconceitos e gerando tolerância. Na sua maioria não se encontram reféns do imediato, não actuam sob o signo da urgência.

Mas em vários países da União Europeia, sobretudo nos mais fragilizados pela crise, a ideologia reinante parece dizer: “obtenham lucro com a cultura, ou abstenham-se da cultura”. Um pouco por toda a Europa este directório tem ditado o recuo do Estado no apoio à cultura. Todavia, se assumimos a cultura como um bem público essencial, temos de reconhecer que as lógicas do mercado são insuficientes para sustentar uma política cultural. A esquerda democrática europeia libertou a cultura do monopólio das elites. Cabe-lhe agora a responsabilidade de protegê-la dos excessos da lógica empresarial e de salvaguardar a autonomia da criação artística. Alcançada a democratização da cultura há que criar condições para o emergir de uma democracia culta. Será sem dúvida uma democracia mais apta a desmistificar a inevitabilidade do empobrecimento a que nos sujeitam, menos vulnerável ao proselitismo economicista e a simplificações grosseiras da realidade. 


Escritor, professor, doutorado em Literatura Portuguesa


RUI LAGE 16/08/2014 - 04:50
Público
Admin
Admin
Admin

Mensagens : 16761
Pontos : 49160
Reputação : 0
Data de inscrição : 07/12/2013
Idade : 37
Localização : Sines

http://olharsinesnofuturo.criarforum.com.pt

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos