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Evitemos poupar para lá das nossas autorizações
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Evitemos poupar para lá das nossas autorizações
HÁ DIAS, NA PRAIA, ouvi alguém, seguramente preocupado com a segurança dos depósitos em dinheiro acima de certo limite, dizer para a pessoa com quem estava a debater o assunto que os bens imobiliários não são transformáveis noutra coisa qualquer mesmo que tenham custado mais de cem mil euros. Ao ouvir estas considerações fiquei com vontade de entrar na conversa, mas férias são férias e abstive-me de lançar mais achas para esse fogo ciclicamente ateado.
Na verdade, quando a situação financeira aperta um pouco mais, há sempre quem se lembre (e não apenas em conversas de praia) dessa solução que a crise de Chipre trouxe para a ribalta política, uma saída cipriota que nem sempre é patriota mesmo que algumas palavras pareçam rimar. A rima pode ser perfeita mas o rumo que ela aponta não. Como não há fumo sem fogo, nestas ocasiões o melhor é agir com a máxima prudência e acautelar as poupanças que têm vindo a ser ameaçadas transferindo-as para investimentos de confiança e claramente visíveis, como são os investimentos em bens imobiliários, nomeadamente em Portugal, onde esta riqueza tem resistido às tentações especulativas de más consequências. Voltando à conversa involuntariamente mas em boa hora captada na praia, a terra e o que nela construímos como património material não desaparecem ou perdem valor da noite para o dia nem correm um risco de grave exposição num fim-de-semana mais atípico e intenso de que há bons e mais exemplos.
Confessando-me atento às informações ocultas que, disfarçadamente, continuei a captar naquela conversa de praia, registei a consciência que aqueles dois veraneantes mostravam da solidez da nossa oferta imobiliária, apesar de reconhecerem que a fiscalidade sobre o património construído chega também a parecer um esbulho. Não tão grosseiro como esse que de quando em vez paira sobre os dinheiros que as pessoas foram juntando, num castigo que implicitamente considera toda a poupança ilegítima e, pior ainda, merecedora de penas mais próprias dos castigos penais que de qualquer outra prática de cidadania.
Como já revelei aos leitores deste texto, resisti à tentação de entrar na conversa mas reacendi uma dúvida que há muito povoa a minha mente quando esta conversa vem a talhe de foice - quem é que terá fixado e em nome de quê a tal fasquia dos cem mil euros? A que montante-padrão correspondem cem mil euros? Talvez seja mais prudente tentar encontrar outros caminhos para a conversa, sem, no entanto, a esquecer. E o melhor caminho, claramente um bom caminho, é saber acautelar o que é legitimamente nosso, salvando o que certas cabeças iluminadas chamam excedentes em aplicações seguras e não voláteis, antes que Portugal se transforme, em certos aspectos, numa ilha como a de Chipre, onde um pé-de-meia de meio cano já é roupa suspeita. O que é muito triste e nada compreensível é ouvirmos por um lado dizer que andamos a gastar para lá das nossas possibilidades enquanto por outro lado também dizem que andamos a poupar para lá das nossas acanhadas autorizações.
Apre, como se diz na minha terra.
Presidente da APEMIP e da CIMLOP
Por Luis Lima
publicado em 25 Ago 2014 - 05:00
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