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Os invisíveis.......
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Os invisíveis.......
Em Portugal a maioria da população desapareceu da política. Os sucessivos governos servem sempre os mesmos e ainda pedem ao povo que agradeça a sua sorte
Há uns anos as páginas do jornal que se dedicavam às questões da área económica chamavam-se "trabalho", depois passaram a "economia", e recentemente algumas delas apelidavam-se "negócios". Às pessoas que trabalhavam nas empresas chamavam-se "trabalhadores", passaram rapidamente a "empregados" e actualmente é norma chamar-lhes "colaboradores". Quem não perceber que estas mudanças não são inocentes e tentam cristalizar uma perda de poder na sociedade de quem trabalha merece pagar os prejuízos do BES por burrice crónica.
Há um livro muito interessante que explica a perda de peso de quem trabalha nas nossas sociedades, da autoria de um colunista do diário britânico "The Guardian", Owen Jones, que se intitula "Chavs, a demonização da classe operária". Nele se diz que o ataque às condições de vida e de participação política da maioria da população foi acompanhado da deslegitimação da sua própria existência como grupo social.
Na nossa sociedade deixamos, segundo o discurso dominante, de ter quem trabalhe de um lado e gente rica do outro: somos todos classe média. Alguns têm todo o dinheiro do mundo; ao resto da população cabe pensar segundo a bitola dos interesses dos ricos e viver como pobres e calar-se.
Quando nos fazem confundir emprego com privilégio e desemprego com oportunidade, estão a roubar-nos e ainda querem que a gente agradeça.
"Numa só década o tatcherismo mudou o modo como se viam as classes. Adulam-se os ricos. Encorajam- -se todos a ascender socialmente e a definir-se pelo que possuem. Os pobres e os desempregados só se podem culpar a eles próprios", escreve Owen. O desemprego e a miséria deixaram de ser problemas sociais para serem questões do foro do comportamento individual. É este discurso ideológico que sustenta que no pico da crise económica em Portugal sejam cortados a maioria dos apoios sociais, e haja 400 mil desempregados a viver sem nenhum apoio social, enquanto os vários governos se afadigam a salvar os banqueiros e a emprestar, só ao BES, 4500 milhões de euros.
Os interesses da maioria da população são invisíveis e toda a gente fala de uma mítica classe média que se oporia, não aos interesses dos ricos e dos poderosos, mas aos dos pobres chupistas que vivem dos apoios públicos, e só estão desempregados porque são preguiçosos. Pouco importa que as estatísticas revelem que temos a sociedade mais desigual da Europa, que não há mobilidade social e que as fraudes com apoios sociais sejam uma gota de água comparadas com as fugas ao fisco dos mais ricos.
Ao ver a comunicação social e o discurso oficial, o problema deste país parece que foram os míticos "privilégios" de uma das classes trabalhadoras mais mal pagas da Europa, e não o facto de termos governos que só servem os interesses e os negócios dos grandes grupos à conta dos contribuintes.
A escolha da forma como vemos a sociedade define os campos em que procede o conflito político. Está na hora de chamarmos os bois pelos nomes: em Portugal o problema é que há uma casta que tem muito poder, subverteu a democracia, e a justiça não a alcança, e do outro lado estão mais de 90% da população, que não têm direito à palavra e a ver defendidos os seus direitos. O resultado foi mau. Chegou a altura de democratizar a democracia e de dar o poder à maioria das pessoas. Sem isso, nada vai mudar e tudo continuará a piorar.
Editor-executivo
Escreve à terça-feira
Por Nuno Ramos de Almeida
publicado em 26 Ago 2014 - 05:00
Há uns anos as páginas do jornal que se dedicavam às questões da área económica chamavam-se "trabalho", depois passaram a "economia", e recentemente algumas delas apelidavam-se "negócios". Às pessoas que trabalhavam nas empresas chamavam-se "trabalhadores", passaram rapidamente a "empregados" e actualmente é norma chamar-lhes "colaboradores". Quem não perceber que estas mudanças não são inocentes e tentam cristalizar uma perda de poder na sociedade de quem trabalha merece pagar os prejuízos do BES por burrice crónica.
Há um livro muito interessante que explica a perda de peso de quem trabalha nas nossas sociedades, da autoria de um colunista do diário britânico "The Guardian", Owen Jones, que se intitula "Chavs, a demonização da classe operária". Nele se diz que o ataque às condições de vida e de participação política da maioria da população foi acompanhado da deslegitimação da sua própria existência como grupo social.
Na nossa sociedade deixamos, segundo o discurso dominante, de ter quem trabalhe de um lado e gente rica do outro: somos todos classe média. Alguns têm todo o dinheiro do mundo; ao resto da população cabe pensar segundo a bitola dos interesses dos ricos e viver como pobres e calar-se.
Quando nos fazem confundir emprego com privilégio e desemprego com oportunidade, estão a roubar-nos e ainda querem que a gente agradeça.
"Numa só década o tatcherismo mudou o modo como se viam as classes. Adulam-se os ricos. Encorajam- -se todos a ascender socialmente e a definir-se pelo que possuem. Os pobres e os desempregados só se podem culpar a eles próprios", escreve Owen. O desemprego e a miséria deixaram de ser problemas sociais para serem questões do foro do comportamento individual. É este discurso ideológico que sustenta que no pico da crise económica em Portugal sejam cortados a maioria dos apoios sociais, e haja 400 mil desempregados a viver sem nenhum apoio social, enquanto os vários governos se afadigam a salvar os banqueiros e a emprestar, só ao BES, 4500 milhões de euros.
Os interesses da maioria da população são invisíveis e toda a gente fala de uma mítica classe média que se oporia, não aos interesses dos ricos e dos poderosos, mas aos dos pobres chupistas que vivem dos apoios públicos, e só estão desempregados porque são preguiçosos. Pouco importa que as estatísticas revelem que temos a sociedade mais desigual da Europa, que não há mobilidade social e que as fraudes com apoios sociais sejam uma gota de água comparadas com as fugas ao fisco dos mais ricos.
Ao ver a comunicação social e o discurso oficial, o problema deste país parece que foram os míticos "privilégios" de uma das classes trabalhadoras mais mal pagas da Europa, e não o facto de termos governos que só servem os interesses e os negócios dos grandes grupos à conta dos contribuintes.
A escolha da forma como vemos a sociedade define os campos em que procede o conflito político. Está na hora de chamarmos os bois pelos nomes: em Portugal o problema é que há uma casta que tem muito poder, subverteu a democracia, e a justiça não a alcança, e do outro lado estão mais de 90% da população, que não têm direito à palavra e a ver defendidos os seus direitos. O resultado foi mau. Chegou a altura de democratizar a democracia e de dar o poder à maioria das pessoas. Sem isso, nada vai mudar e tudo continuará a piorar.
Editor-executivo
Escreve à terça-feira
Por Nuno Ramos de Almeida
publicado em 26 Ago 2014 - 05:00
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