Que se lixem as eleições?

As previsões económicas são como as previsões políticas. Embora as primeiras sejam baseadas em elaborados modelos matemáticos e as segundas em modelos sociais, ambas possuem elevado nível de certeza nas suas previsões. A certeza que estão sempre erradas.


Em tempos de crise é ainda mais difícil prever o comportamento da evolução da economia, mesmo no curto prazo como se vê pelo número ( de orçamentos rectificativos na actual legislatura. Principalmente porque a economia é muito influenciada pela política. Infelizmente é mais influenciada negativamente pela política financeira e fiscal que influenciada positivamente pela política económica.

Tal como a economia, também a política funciona em ciclos. Enquanto os ciclos económicos são cada vez mais longos devido à globalização e a políticas erradas pró-cíclicas (expansionistas na fase de crescimento e restritivas na fase de contracção, como a actual), os ciclos políticos são cada vez mais curtos devido a múltiplos eventos eleitorais e a crises económicas cada vez mais acentuadas.


As eleições actuais internas no Partido Socialista ("PS") são disso um bom exemplo. Se a moda pegar, os ciclos ficarão ainda mais desajustados...

A política pró-cíclica actual de austeridade motivada por critérios financeiros das contas públicas não se coaduna com o ciclo político que se aproxima: as eleições legislativas de 2015. E embora as eleições europeias não tenham tido grande impacto nas políticas, as eleições legislativas ja estão a ter.

No ano em que os portugueses atingem a carga fiscal máxima da sua história, seria expectável que a proximidade de eleições motivasse uma ligeira diminuição da mesma. No ano em que o único motor de crescimento português volta a pegar (o consumo) e se faz notar no aumento das receitas do IVA, seria expectável que a proximidade de eleições motivasse uma ligeira diminuição da carga fiscal.

E inevitavelmente motivará! Mas não antes das eleições internas do PS . A diminuição da carga fiscal só acontecerá depois.

Até lá continuamos nos preliminares, com o aumento do salário mínimo para 500 euros, congelado desde 2011. E de caminho lançam para a confusão o potencial aumento do IVA para 24%, relembrando a todos quem tem a gasolina para alimentar o velho motor da nossa economia. Nada de preocupante, pois nesta altura é fumo sem fogo.

Mas porquê aumentar o salário mínimo em vez de reduzir impostos?

Porque foi uma promessa eleitoral? Não. Porque assim são as empresas a suportar o esperado aumento do consumo ao mesmo tempo que aumentam as receitas fiscais através do IVA, já que estas diminuíram a sua contribuição em IRC para o Orçamento de Estado.

Serão as empresas capazes de pagar o aumento do salário mínimo? Esperemos que sim, mas afinal isso pouco interessa porque as empresas não votam. O que interessa é que a política também influencia a economia de forma positiva. Pelo menos em ano de eleições quando há vontade política.

Quem disse que se lixem as eleições? Devia ser mais uma previsão errada...

Paulo Barradas |
7:00 Terça feira, 2 de setembro de 2014
Expresso