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Agora é a sério
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Agora é a sério
O novo ciclo chegou. E em força. A mudança no Partido Socialista irá acelerar ainda mais a mudança no debate político.
Há novos Partidos a surgirem, novas candidaturas em velhos Partidos a aparecerem, a paisagem partidária está em mudança.
Do lado do Governo começam a vislumbrar-se os sinais de que estamos em pré-campanha. A subida do salário mínimo, o acenar com a descida do IRS e o aumento das deduções à colecta com saúde e educação.
O próximo Orçamento de Estado será um enorme teste e um excelente barómetro para medir a temperatura politica e económica para o próximo ano.
De um lado os olhos postos na necessidade de dar uma folga ao bolso dos portugueses, do outro a pressão de um novo líder e o inevitável primeiro contacto com as suas potenciais propostas bem como a análise e eventual decisão de apoio ou oposição às propostas do Governo.
É um combate importante para perceber o que mudou e com o que podemos contar.
Cada vez mais, o desfasamento entre a aplicação de uma medida e o seu resultado, se passa no médio-longo prazo, logo extravasa a duração de um mandato. É pois importante perceber se o Governo tem margem de manobra para suavizar os bolsos dos contribuintes, depois de três anos de intensa austeridade.
Os tímidos sinais vindos de fora podem ajudar nessa intenção. O FMI veio defender, num artigo do 'World Economic Outlook', onde já tinha havido uma explicação de multiplicadores orçamentais, que um aumento do investimento público em infra-estruturas pode ajudar a impulsionar a actividade económica e a criar empregos, sem aumentar a dívida. Ora, são boas perspectivas para Portugal, pela expectativa dos efeitos positivos nas economias dos nossos parceiros europeus. No entanto as instituições Europeias são de pendor mais austero do que no FMI, como tal haverá algumas resistências.
A juntar a esta ideia do FMI de que um aumento de um ponto percentual no PIB em despesas de investimento em infra-estruturas aumenta o nível de produção em 0,4% no mesmo ano e em 1,5% quatro anos depois, estão as declarações do nosso novo Comissário Europeu, Carlos Moedas, que passou de forma praticamente unânime, com brilhantismo, nos testes a que foi sujeito, ao declarar que nem sempre concordou com as receitas da Troika.
São duas notícias que nos dão algum alento e podem ajudar a aliviar o fardo da austeridade. Se Angela Merkel alinha é outra questão.
Mas será importante também para o Governo começar a envolver desde já António Costa nas suas medidas para este ano. Uma nova liderança reforçada pode ajudar a entendimentos e consensos. Depois da subida do salário mínimo com o apoio dos patrões e da UGT, um acordo com o PS, sobre o Orçamento para o próximo ano seria uma boa forma de iniciar o novo ano com optimismo. E todos sairiam a ganhar. Costa por demonstrar sentido de Estado e não ter complexos em se associar a medidas que ajudem os portugueses e o Governo por alargar entendimentos a um ano das eleições.
Todavia é necessária cautela com as benesses desenhadas em cima do joelho. O povo não gosta de ser enganado. É preciso saber, neste ano, explicar bem o que foi feito. Cada medida. E já agora, com a saída da Troika, o Governo não perdia nada em explicar as palavras de Carlos Moedas e dizer o que foi imposto de fora e o que foi consentido. E explicar também o que falhou.
Bem sei que Paulo Portas anda nervoso com as sondagens e o efeito Costa, mas é preciso bom senso nesta fase. Estas supostas divergências que nos chegam deviam ser tratadas com recato e muito diálogo.
A semana passada falei aqui em Sócrates e no regresso da sua gente. A nota fiou feita. No entanto, esse discurso não serve de desculpa ao Governo e aos Partidos que o suportam. É preciso capacidade de diálogo com as pessoas e explicar a dura tarefa que tiveram, ao longo destes difíceis três anos.
E é preciso, agora sim, ir além da Troika. Já não há memorando de entendimento para cumprir escrupulosamente. É preciso que cada um, Passos Coelho, António Costa apresente as suas agendas e os seus guiões.
E há pontos que se devem esclarecer à partida. Não há tempo para malabarices ou subterfúgios.
É importante neste ano que esclareçam o que pensam sobre:
- As nossas Contas Públicas (Orçamento e Dívida) e como geri-las;
- Se o valor que é pago de Impostos em Portugal é sustentável;
- Como gerir as pensões no nosso País e que modelo devemos adoptar para o futuro garantindo a Sustentabilidade da Segurança Social;
- A Relação de Portugal com a União Europeia e nomeadamente com Merkel;
- Como fazer o país crescer?;
- O que fazer para combater a desertificação e o desordenamento do território?;
- A Constituição;
- A reforma do Estado.
São estas, mas também muitas outras questões a que devemos exigir respostas. Penso que um ano poderá ser tempo suficiente, para todos se pronunciarem sobre estas interrogações e outras temáticas. Chega de politiquice e de retórica balofa. Venham as propostas, os debates e o confronto. Será sempre enriquecedor para todos.
É um novo tempo que surge e é um tempo exigente. Mas Governar Portugal nunca foi tarefa fácil. Já diziam os Romanos: "Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar".
Ora, quem se propõe a Governar já sabe ao que vai.
DIOGO AGOSTINHO | 7:00 Segunda feira, 6 de outubro de 2014
Expresso
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