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SAÍDA DO EURO: As ilusões europeias de António Costa
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SAÍDA DO EURO: As ilusões europeias de António Costa
Deixaria uma sugestão a António Costa antes de alimentar mais expectativas irrealistas. Faça uma viagem por algumas capitais europeias. Basta visitar quatro. Comece por Berlim, pelo líder do SPD.
A saída do Euro constitui a única verdadeira alternativa à política do governo. Conhecendo a história do seu partido, António Costa sabe muito bem que um eventual governo liderado pelo PS não poderá retirar Portugal do Euro. Seria uma traição à vocação “europeísta” dos socialistas, impossível de imaginar. Em segundo lugar, se não sabe, tem no PS pessoas que lhe saberão explicar que a manutenção no Euro exige no essencial a mesma política da actual coligação.
A promessa, pelo novo líder do PS, de uma “verdadeira alternativa ao governo”, apoia-se numa esperança: a mudança de políticas por parte da União Europeia. Só isso permitirá a Costa manter as suas promessas. Se a Europa não mudar, no caso de o PS formar governo (um grande se), não poderia cumprir o que prometeu. Correria assim o risco de grande parte do PS se virar contra um governo por si liderado (olhe-se para França) e teria um mandato político fraco. Quem é eleito com a promessa de mudanças e oferece mais do mesmo não tem força para governar.
A campanha do PSD/CDS contra o PS será muito simples: para manter Portugal no Euro, o próximo governo terá que continuar as nossas políticas; e é uma ilusão acreditar que a Europa vai mudar. A questão central é precisamente a seguinte: por que razão a Europa não vai mudar? A Europa não vai mudar porque a Alemanha é mais vulnerável do que julgam aqueles que acreditam na ilusão da mudança. Os que pedem à Europa para mudar estão a pedir simplesmente mais dinheiro para gastar. A França não tem dinheiro, o Reino Unido está fora do Euro; por isso, resta a Alemanha. Estão assim a pedir dinheiro à Alemanha para se poder gastar mais. O aumento da despesa pela Alemanha teria várias formas: ou através de eurobonds, ou indirectamente através do BCE, ou com o aumento do consumo interno na Alemanha. Mas o dinheiro tem que vir de algum lado. E de um modo ou de outro teria que vir da Alemanha.
Ora, a Alemanha não tem dinheiro suficiente para a dimensão dos problemas da zona Euro; e os alemães têm consciência disso, ao contrário daqueles que pedem o “fim da austeridade”. Prestem atenção ao tom de angústia, e quase desespero, do debate na Alemanha sobre o futuro do Euro. Não é por acaso que duas das três últimas eleições resultaram em governos de grande coligação. Os alemães estão em geral preocupados e mesmo pessimistas. E o crescimento do partido “anti-Euro” (a Alternativa para a Alemanha) torna mais difícil qualquer mudança da política alemã. Berlim enfrenta um dilema complicado: o fim do Euro seria dramático, mas a Alemanha sozinha não tem capacidade para salvar o Euro. A crise expõe os limites do poder económico e financeiro da Alemanha. O Presidente francês e o primeiro-ministro italiano podem encontrar-se todas as semanas e pedir a Berlim para mudar. Mas não vão conseguir mudança alguma. Aliás, olhem com atenção para a composição e a distribuição de competências na nova Comissão e tentem perceber o que mudou em relação à “austeridade” da Comissão Barroso. Quase nada mudará, apenas uma coisa: Berlim terá mais influência.
Deixaria assim uma sugestão a António Costa antes de continuar a alimentar expectativas irrealistas. Faça uma viagem por algumas capitais europeias. Basta visitar quatro. Comece por Berlim. Nem sequer precisa de visitar a diabólica “senhora Merkel”. Basta um encontro com o número dois do governo, líder do SPD e seu “camarada”. Ele explicará com grande clareza por que razão o governo alemão não pode mudar de política (o que também explica as três derrotas seguidas do seu partido). A seguir, apanhe um avião para Bruxelas. Na “capital europeia”, será suficiente encontrar-se com mais dois “camaradas”: o “primeiro vice-presidente” da futura Comissão, Timmermans (do partido trabalhista holandês), e o Presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz. Os dois também explicarão por que razão a “austeridade” não irá desaparecer depressa. De Bruxelas a Paris, é uma hora de comboio. Visitar o Eliseu é sempre simpático (e, ao contrário de uma visita a Merkel, permite sempre uns bons títulos nos jornais). E Hollande certamente que lhe contará como é diferente prometer na oposição e governar sem dinheiro para gastar e com Berlim a fiscalizar. Por fim, se ainda não estiver convencido, vá a Roma conversar com Renzi, mais um “camarada” (os encontros seriam todos com “camaradas”; nada de “neo-liberais”). Ele dirá como Berlim é completamente indiferente aos seus belos discursos.
Quando regressar a Lisboa, pense bem no que ouviu nas capitais europeias. E num daqueles momentos solitários em que conseguimos ser absolutamente francos, pergunte: “será que posso continuar a alimentar a ilusão de que estou a preparar uma verdadeira alternativa a este governo?”
João Marques de Almeida
6/10/2014, 6:13
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