Como um político vende o destino Portugal na CNN

Três minutos e 38 segundos perante uma audiência global não é coisa que se tenha todos os dias. Talvez por isso, o secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, aproveitou o final da entrevista a Richard Quest, no primetime da CNN Internacional, para "convidar as pessoas a visitar o meu país". Acaba aí o vídeo disponibilizado quarta-feira no site da CNN. Mas não acabou aí a entrevista, a que o Expresso assistiu. Durou mais uns segundos.


"Você é mesmo um político!", comentou Quest, bem disposto, perante a forma como o governante português tinha olhado para a câmara e aproveitado o momento para desafiar a audiência global do programa a descobrir o caso de sucesso de Portugal. "Pois sou", respondeu Mesquita Nunes, enquanto faziam o aperto de mão final.

Imediatamente antes, o secretário de Estado tinha defendido a importância da promoção de Portugal ser feita "com uma abordagem técnica" e não política, apenas com a preocupação de dar as melhores condições para os privados fazerem o seu trabalho. "É isso que estamos a fazer: despolitizar a promoção", sublinhou. Foi nesse contexto que surgiu o comentário final, em tom divertido, de Quest: o traquejo político de saber quando olhar para a câmara e não desperdiçar a audiência, nestes casos, mal não faz.

"O bom problema" de estar na liga dos grandes
Mesquita Nunes esteve em Londres entre segunda e quarta-feira para o World Travel Market, uma das principais feiras mundiais do sector, acompanhando com o Turismo de Portugal uma representação de quatro dezenas de empresas nacionais. Num ano em que os recordes continuam a ser batidos no sector, tanto em termos de turistas e dormidas, quer de receitas, Quest, o jornalista-vedeta que apresenta o programa diário "Quest Means Business", salientou a importância do turismo na situação económica do país. O sector já vale entre 9% e 10% do PIB e Quest usou a palavra "crucial" para o definir no contexto da recuperação portuguesa. Adjetivo que o governante repetiu: "É crucial para o PIB, para o emprego e para as exportações."

Entrevistado em direto a partir dos estúdios de Londres da CNN, na segunda-feira à noite, o secretário de Estado contrariou a ideia de que este boom se deva aos preços baixos - estão a subir, salientou, e deverão subir mais conforme cresce a procura - e respondeu de forma inequívoca à pergunta sobre "o que é que precisa agora do seu primeiro-ministro, dos seus colegas de Governo, para manter esse crescimento?": "Precisamos de ter, como temos tido, o turismo como uma prioridade".

O responsável pelo turismo defende que esta é uma área "muito transversal". "[Por isso], se os meus colegas da cultura, transportes, economia, agricultura, não estiverem também focados no turismo, muita coisa se pode perder. Criámos um Conselho de Ministros só focado no turismo. Foi assim que começámos, e foi um sucesso, a desregular o sector e criámos melhores condições para as nossas companhias investirem e terem sucesso. O turismo é uma indústria privada e é nisso que temos de nos concentrar."

O entrevistador confrontou o responsável português com a enorme concorrência de outros destinos europeus. "Espanha quer o vosso mercado, Itália quer o vosso mercado, França quer o vosso mercado", lembrou Quest, referindo o crescimento acima de 10% que Portugal está a registar em todos os indicadores durante este ano, mesmo em comparação com 2013, que já tinha sido o melhor de sempre. "Crescer mais do que Espanha e França, como estamos a fazer, é um bom problema para se ter", respondeu Mesquita Nunes.

FILIPE SANTOS COSTA | 14:05 Quinta feira, 6 de novembro de 2014
Expresso