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Mensagem por Admin Sex Nov 07, 2014 11:30 pm

Uma das principais lições da economia é o princípio do custo de oportunidade. Quando queremos decidir se fazer algo é boa ideia, não basta tentar perceber se os benefícios são positivos.

Antes, temos de perceber que o tempo e dinheiro que essa atividade exige retiram tempo e dinheiro para perseguir outras oportunidades. Logo, os benefícios têm de exceder estes custos de oportunidade, pois optar por uma acção implica prescindir de uma série de alternativas.

Como todas as ideias importantes, o custo de oportunidade surge em todo o lado, desde que estejamos de olhos abertos. Nesta semana, encontrei-o em três lugares distintos.

Primeiro, na discussão sobre se o salário dos funcionários públicos deve ser reposto integralmente em 2016 ou gradualmente. A questão não devia só ser se isto é justo ou se vai ajudar na recuperação da economia. Antes, se forem gastos 600 milhões nesta medida, então temos de perceber que outros programas de 600 milhões é que serão cortados, ou que novos impostos serão introduzidos para arrecadar estes 600 milhões.

Com a nossa enorme dívida pública, não basta dizer que uma medida vai custar X euros, pois não podemos incorrer em mais défices. Antes, tem de se dizer onde se vai cortar ou taxar mais para poupar ou arrecadar estes X milhões. Este custo de oportunidade pareceu esquecido na discussão no parlamento ou na praça pública na última semana sobre os salários da função pública.

Segundo, da sociedade civil surgiu um manifesto pedindo a intervenção do Estado na PT, seguido de uma saudável discussão na imprensa sobre os benefícios dessa ideia.

Mas, não chega que os benefícios sejam maiores do que zero. Se salvar a PT custa umas centenas de milhões de euros ao Estado, temos de perguntar que novos impostos é que teriam de ser introduzidos para financiar essa opção. E, se vamos perder tempo e dinheiro nessa empresa, temos de perguntar se esse esforço não seria melhor empregue noutra empresa de telecomunicações.

Terceiro, encontrei mais um dos regulares artigos no jornal lamuriando-se que os alunos hoje não sabem isto ou aquilo, deplorando a qualidade do ensino. É fácil concordar que era útil que os alunos do liceu soubessem mais de geografia portuguesa.

O que é preciso estabelecer, e é muito mais difícil, é se lhes devemos ensinar menos matemática para libertar tempo para que possam aprender os nomes dos rios portugueses. Nas licenciaturas em economia, é muito frequente ouvir-se dizer que era bom se os alunos soubessem mais história do pensamento económico ou mais correntes marginais, como os "pós-keynesianos" ou os "austríacos". Mas o que quase nunca é dito é que se devia ensinar menos econometria ou finanças para abrir espaço no programa dos cursos.

Pensar no prazer que me daria umas férias nas Caraíbas sem tomar em conta o custo das férias não é útil. Nas discussões de políticas públicas, perguntar sempre qual é o custo de oportunidade era dar um passo em frente na qualidade dos debates.

Por Ricardo Reis
07/11/2014 | 11:06 |  Dinheiro Vivo
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