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As cidades do futuro
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As cidades do futuro
Cidades do futuro, cidades inteligentes ou cidades do século XXI. Nomes não faltam e conceitos também não. Certo é que a concentração de pessoas na Europa nas grandes urbes já vai em 75%.
Já podemos começar a chamar o Homem de citadino. Longe vão os tempos do campo e da lavoura.
Quando uma família se muda para a cidade procura uma melhoria na sua qualidade de vida. Obviamente que o conceito qualidade de vida acaba por ser subjectivo. Está assente em quê? Melhores empregos? Melhores salários? Maior diversidade cultural e de restauração? Maior proximidade de negócios e pessoas? É tudo muito ambíguo se tivermos em linha de conta o já nosso conhecido conceito de que qualidade de vida tem-se é fora da azáfama citadina. Porque lá fora se respira um ar mais puro, porque fora não se apanham filas de trânsito, porque o ritmo de vida é mais calmo. Porque lá fora é que há tempo para a família, sobretudo para a qualidade de vida em família.
Todas estas questões têm um enorme impacto na gestão das cidades.
Vem isto a propósito da recente conferência que o Expresso promoveu, com um painel de luxo, sobre Cidades do Futuro. É um tema a que se deve dar a devida atenção.
As cidades são hoje o motor da economia. A economia de consumo produz para as pessoas consumirem e gastarem na cidade.
Mas como tornar uma cidade inteligente? Bem, penso que são três as áreas que merecem reflexão e soluções à medida dos desafios. O que precisamos para uma melhor qualidade de vida? Urbanismo, trânsito e segurança.
O urbanismo, a reabilitação urbana e a construção "sustentável", são questões que merecem uma profunda reflexão e implicam uma inflexão das actuais políticas. Uma verdadeira política de urbanismo, com coerência é a base de uma cidade inteligente. É óbvio que, nas actuais cidades, será difícil este processo de transformação. Já todos ouvimos falar de cidades que nasceram do nada e estão construídas a pensar no futuro e com grandes inovações. Mas, no caso das cidades antigas, cidades da história e com história, o património do passado não pode ser deitado ao lixo. É preciso saber olhar para o espaço urbano e dotá-lo de condições.
Mas na questão do urbanismo, há também um problema de segregação e polarização social bem evidentes e que criam barreiras a uma cidade mais igualitária.
Outro aspecto a ter em linha de conta, no planeamento da cidade, prende-se com o trânsito. O caótico trânsito que as cidades enfrentam. A mobilidade dentro da cidade é um dos bens mais preciosos. Se temos a concentração dos serviços como escolas, hospitais e tantos outros, não podemos estar prisioneiros dentro das cidades. São necessárias competências para gerir o trânsito e permitir o livre fluxo. Com os mecanismos tecnológicos que existem, tantos carros a entrar dentro das cidades, contamos com um manancial de informação ao minuto, que não é devidamente aproveitado. Teremos hoje boas ofertas das redes de transporte público? Conseguimos hoje tornar o trânsito mais fluido? A dependência do automóvel e o bloqueio do trânsito é um dos grandes desafios de uma cidade inteligente. O impacto no dia-a-dia das pessoas e sobretudo o que provoca no meio ambiente merece uma resposta bem pensada e harmonizada.
Quem sabe se não iremos ver árvores e jardins no topo dos prédios?
À volta de tudo isto está a questão da segurança. O velho hábito de que as cidades são inseguras e não promovem um ambiente saudável para as famílias. É aqui está mais um desafio. A segurança nas cidades é o expoente de atracção de famílias e de fomento a uma cidade mais limpa e agradável. As crianças devem ter a possibilidade de andarem na rua e os mais idosos devem ter a capacidade de se deslocar e serem acompanhados.
E a questão dos idosos faz ainda mais confusão. Vivemos hoje em cidades que são verdadeiros guetos. Quantos são os que conhecem os próprios vizinhos do prédio ou do próprio andar? Quantos são os casos gritantes de pessoas isoladas e sem família, sem ninguém para estar próximo ou ligar? E tudo "à nossa volta".
Será este um conceito de cidade inteligente e na vanguarda? Cada um por si?
É também ao nível das pessoas que se devem construir as cidades do futuro. Com a pessoa no meio da concepção da cidade. Já não é somente no campo que existem "velhinhos" isolados. A inclusão não pode deixar de ser uma forte componente neste projecto de futuro.
É evidente que, nos dias de hoje, quem governa uma cidade deve olhar para a economia da cidade. A criação de emprego sustentável, a típica captação de talento na cidade é um dos eixos essenciais. Há aqui espaço de criar uma economia mais inclusiva. Estamos cá todos, logo devemos pensar em soluções para todos. Há novas oportunidades de negócio e novas formas de estar que devem ser exploradas.
Há uma nova cidade para construir. Mas muita atenção. Cada cidade é uma cidade. Esqueçam as cópias a papel químico, as meras imitações, e os modelos de Estocolmo, Vancouver ou Abu Dhabi. Podem servir de inspiração e como benchmarking. Mas volto a repetir: a cidade é uma cidade, com as suas especificidades, com os seus encantos, com a personalidade sui generis que a tornam única. O futuro obriga a imaginação, bom senso e capacidade de gestão. É o progresso a chegar às nossas cidades.
Diogo Agostinho |
7:00 Segunda feira, 10 de novembro de 2014
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