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Mensagem por Admin Qui Dez 25, 2014 8:54 pm

     A mudança 13830794422249

No que é básico para a vida precisamos de começar a ter respostas estruturadas e sustentadas, e não apenas descargas de consciência

O ano termina com o sentimento de que algo está a mudar nos paradigmas da sociedade portuguesa. Mas os abalos registados em 2014 têm de corresponder a mudanças de substância, além da espuma mediática ou das expressões de agendas inconsequentes. Embora legítimo, valerá de muito pouco qualquer sentimento de satisfação com as aparentes erradicações das lógicas de impunidade ou com as denúncias de esquemas na gestão dos bancos, de entidades na órbita do Serviço Nacional de Saúde ou da economia, se as dinâmicas dos poderes e da sociedade continuarem a não gerar uma cultura cívica de responsabilidade, de participação e de transparência.

De um governo e de uma maioria política esgotada, que não consegue dar um passo ou tomar uma decisão sem se justificar com o passado, da herança aos precedentes, já muito pouco se pode esperar. Aliás, a prova da sua falta de confiança nas capacidades endógenas é a dificuldade em renovar a convergência de amuos e interesses em que se transformou a coligação entre o PSD e o CDS/PP, acrescida da renascida réstia de esperança de um resultado eleitoral positivo em 2015 resultar de motivos alheios aos resultados da governação. E depois há o paradoxo da conjuntura. No ano em que, segundo a narrativa da maioria, a governação de Portugal saía do "protectorado" da troika e ganhava autonomia, o governo e a maioria que o suporta dão sinais de já não depender de si próprios.

É certo que apostam na memória curta, no valor acrescentado de algumas medidas com impacto positivo na vida das pessoas e na indução de sentimentos de retoma com débeis nexos com a realidade.

É certo que o preço dos combustíveis pode baixar e que o dinheiro dos fundos comunitários pode começar a rolar em 2015, embora com mais de um ano de atraso em relação à meta definida pelo ministro Poiares Maduro ("Vamos conseguir iniciar a execução do próximo programa [comunitário] já no início de 2014."). O problema é que com este governo a receita é conhecida, os resultados são parcos e tudo já soa a paliativo. Ainda esta semana ficou claro que o desemprego só teria descido 2% se não fosse a ajuda de maquilhagem dos estágios e dos programas do Instituto de Emprego e Formação Profissional.

É, por tudo isto, a pensar nas pessoas e no futuro, que é fundamental a apresentação de uma alternativa política diferenciadora, responsável, sólida, com sentido humanista e visão de futuro, que consiga gerar a recuperação da confiança dos portugueses na política e nos políticos. Só se gera confiança se os cidadãos visualizarem com o que contam em caso de mudança, como serão concretizadas as mudanças e quais são os objectivos nas questões que mexem com a sua vida e as opções de futuro para Portugal. O que é manifestamente incompatível com a percepção do piscar de olho à esquerda e à direita ou com a opacidade das propostas. Em especial quando ambição política está no Olimpo da maioria absoluta.

2014 foi um ano atípico, mesmo no quadro de austeridade, de aumento das desigualdades e de descrença no futuro que caracteriza os últimos anos. E o final de ano, vivido por muitos num contexto de desemprego, precariedade, solidão, pobreza e escassez de recursos, é sempre uma oportunidade para fazer um balanço crítico do ano que finda e gerar alguma esperança no que possamos construir no ano novo. Dar fundamento a essa esperança gerada em cada um de nós no início de cada ano é o primeiro desafio de quem tem a ambição de ser portador de mudança na sociedade portuguesa. E porque não começar por estender o sentimento de solidariedade, humanismo e proximidade aos que mais precisam que se vive sempre por ocasião do Natal aos restantes dias do ano? É que no que é básico para a vida, dos indivíduos e das comunidades, precisamos de respostas estruturadas e sustentadas e não apenas descargas de consciência.

E porque hoje é Natal, desejamos a todos um feliz Natal, com o calor único da oportunidade de estar com aqueles de quem mais gostamos.

Membro da comissão política nacional do PS

Por António Galamba
publicado em 25 Dez 2014 - 08:00
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