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Odeia alguma coisa
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Odeia alguma coisa
Odiar parece ser coisa de gente malcriada. Mas o ódio pode ser bom, pode ser uma boa motivação quando toca a fazer.
"Hate something" é um delicioso e muito optimista anunciozinho feito em 2004 para a Honda. É um dos meus preferidos porque é uma ideia bonita e operativa, que convidava a fazer qualquer coisa com o ódio e a resolve-lo tornando o mundo melhor.
Lembrei-me deste anúncio neste fim de ano de tantos ódios e dedico a si como voto de ano novo. Oiça-o aqui: "Hate something, change something, hate something, make something better". O anúncio é sobre motores a diesel melhores e menos poluentes. Mas é mais do que isso, é um pensamento e os pensamentos são a realeza das ideias.
O ódio é uma palavra depreciada. Faz parte daquelas palavras que por cá se diz que não se diz. Odiar parece ser coisa de gente malcriada. Mas o ódio pode ser bom, pode ser uma boa motivação quando toca a fazer. Um odiador é um fazedor. Odiar não é mau: odiar a pobreza, odiar a violência, odiar o preconceito, odiar os edifícios a cair, odiar o lugar comum, odiar os cocós dos cães, odiar as telenovelas, odiar marchandising nos cafés, odiar anúncios. Odiar pode ser uma coisa boa porque faz fazer melhor.
Eu odiava anúncios. Desde que me lembro que odiava publicidade, aquele modo imbecil de tratar as pessoas, aquelas narrativas encomendadas por burros, escritas por burros que pensam que as pessoas comem palha. Vai daí passei anos a tentar fazê-los de outra maneira, melhor, menos estúpida, com mais respeito pelo consumidor.
Também odiava, e odeio, a nossa reputação em quase todo o mundo. A maneira como somos olhados e julgados. A maneira como somos tratados e como os nossos pensamentos, obras e acções são reenquadrados à luz daquela má reputação. Foi por odiar isso que escrevi a estratégia de identidade da Europe"s West Coast. Uma coisa bonita nascida do ódio por uma feia.
Agora o meu ódio de estimação são livros pretensiosos e intragáveis.
Há ódio nos corações, não há nada a fazer. Podemos tentar o amor, a compreensão a tolerância mas as moedas têm sempre duas faces. Haverá sempre ódio. Eu tenho-o com fartura: alguns são estimados, outros não servem para nada, outros ainda, apesar de justos, são ódios grandes demais para os meus talentos e não consigo fazer nada de melhor com eles, como sugere o anúncio - por exemplo, odeio o PS e o PSD mas não tive ainda ideia melhor, nem sei como fazer para resolver aquilo que é um problema muito para além dos meus talentos e possibilidades.
Mas não tenho ódio a gente, só a coisas. O problema do ódio é que deve ser dirigido contra as coisas: as que funcionam mal, as que são feias, as mal cheirosas, as que não prestam, as que fazem mal. Se o ódio não for dirigido para as coisas, então, porque é da natureza do ódio manifestar-se, encontrará pessoas. Odiar coisas é bom, odiar gente é pouco produtivo. Infelizmente neste pequeno país de brandos e ridículos costumes parece haver pouca gente a odiar coisas e muita gente a odiar gente. É curioso que, na minha experiência, quem se dedica a manter as coisas como são, mesmo as que funcionam mal, é gente normalmente bem educada que nunca odeia nada. É uma gente mansa que é especialista em gostar das coisas como estão e que, no fim, acaba por odiar as pessoas que querem mudar. Se quem odeia pode ser chamado de odiador então os amantes do statu quo são apenas amadores. Eis a inesperada conclusão.
Por Pedro Bidarra
02/01/2015 | 10:08 | Dinheiro Vivo
"Hate something" é um delicioso e muito optimista anunciozinho feito em 2004 para a Honda. É um dos meus preferidos porque é uma ideia bonita e operativa, que convidava a fazer qualquer coisa com o ódio e a resolve-lo tornando o mundo melhor.
Lembrei-me deste anúncio neste fim de ano de tantos ódios e dedico a si como voto de ano novo. Oiça-o aqui: "Hate something, change something, hate something, make something better". O anúncio é sobre motores a diesel melhores e menos poluentes. Mas é mais do que isso, é um pensamento e os pensamentos são a realeza das ideias.
O ódio é uma palavra depreciada. Faz parte daquelas palavras que por cá se diz que não se diz. Odiar parece ser coisa de gente malcriada. Mas o ódio pode ser bom, pode ser uma boa motivação quando toca a fazer. Um odiador é um fazedor. Odiar não é mau: odiar a pobreza, odiar a violência, odiar o preconceito, odiar os edifícios a cair, odiar o lugar comum, odiar os cocós dos cães, odiar as telenovelas, odiar marchandising nos cafés, odiar anúncios. Odiar pode ser uma coisa boa porque faz fazer melhor.
Eu odiava anúncios. Desde que me lembro que odiava publicidade, aquele modo imbecil de tratar as pessoas, aquelas narrativas encomendadas por burros, escritas por burros que pensam que as pessoas comem palha. Vai daí passei anos a tentar fazê-los de outra maneira, melhor, menos estúpida, com mais respeito pelo consumidor.
Também odiava, e odeio, a nossa reputação em quase todo o mundo. A maneira como somos olhados e julgados. A maneira como somos tratados e como os nossos pensamentos, obras e acções são reenquadrados à luz daquela má reputação. Foi por odiar isso que escrevi a estratégia de identidade da Europe"s West Coast. Uma coisa bonita nascida do ódio por uma feia.
Agora o meu ódio de estimação são livros pretensiosos e intragáveis.
Há ódio nos corações, não há nada a fazer. Podemos tentar o amor, a compreensão a tolerância mas as moedas têm sempre duas faces. Haverá sempre ódio. Eu tenho-o com fartura: alguns são estimados, outros não servem para nada, outros ainda, apesar de justos, são ódios grandes demais para os meus talentos e não consigo fazer nada de melhor com eles, como sugere o anúncio - por exemplo, odeio o PS e o PSD mas não tive ainda ideia melhor, nem sei como fazer para resolver aquilo que é um problema muito para além dos meus talentos e possibilidades.
Mas não tenho ódio a gente, só a coisas. O problema do ódio é que deve ser dirigido contra as coisas: as que funcionam mal, as que são feias, as mal cheirosas, as que não prestam, as que fazem mal. Se o ódio não for dirigido para as coisas, então, porque é da natureza do ódio manifestar-se, encontrará pessoas. Odiar coisas é bom, odiar gente é pouco produtivo. Infelizmente neste pequeno país de brandos e ridículos costumes parece haver pouca gente a odiar coisas e muita gente a odiar gente. É curioso que, na minha experiência, quem se dedica a manter as coisas como são, mesmo as que funcionam mal, é gente normalmente bem educada que nunca odeia nada. É uma gente mansa que é especialista em gostar das coisas como estão e que, no fim, acaba por odiar as pessoas que querem mudar. Se quem odeia pode ser chamado de odiador então os amantes do statu quo são apenas amadores. Eis a inesperada conclusão.
Por Pedro Bidarra
02/01/2015 | 10:08 | Dinheiro Vivo
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