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O guia que faltava para conhecer as plantas da costa alentejana e vicentina
Olhar Sines no Futuro :: Categoria :: Portugal :: Alentejo :: Litoral Alentejano
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O guia que faltava para conhecer as plantas da costa alentejana e vicentina
A espécie Diplotaxis vicentina é um endemismo de Portugal continental com estatuto de protecção. É considerada geográfica e demograficamente rara sendo no Cabo de São Vicente, em Sagres, que se encontra a sub-população com maior número de indivíduos. DR
Espécie Klasea integrifolia é um endemismo exclusivo de Portugal continental, sobre o qual há pouca informação escrita, segundo as autoras. DR
Duas "entusiastas da Natureza" juntaram-se para criar o primeiro guia da flora do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Objectivo é mostrar a riqueza da região e também alertar para as ameaças que pairam sobre algumas espécies em extinção
Na Grécia Antiga, acreditava-se que o gaimão (Asphodelus ramosus) povoava os campos no reino dos mortos. Hoje, esta planta alta de flores brancas vistosas, também conhecida como asfódelo ou abrótea, cresce nos matos e nos caminhos que serpenteiam nas paisagens paradisíacas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. A espécie é uma das 200 descritas no primeiro guia sobre a flora desta zona litoral.
As autoras, Ana Clara Cabrita e Ana Luísa Simões, têm muito mais em comum do que o primeiro nome: a paixão pela vegetação mediterrânica. Foi isso, e a inexistência de um guia dedicado à flora da costa entre Sines e Burgau, que as levou a passar os últimos dois anos a fotografar, pesquisar, ler e escrever sobre o assunto.
“Tinha dificuldade em encontrar informação sobre a vegetação desta zona, e muitas vezes andava pelos trilhos com um guia da flora de Cascais e Sintra”, diz Ana Clara Cabrita, de 42 anos, que é guia de natureza na costa vicentina e colabora com projectos de cariz ambiental. Ana Luísa Simões tem 39 anos, é natural do Porto mas vive em Odemira, no Alentejo. Trabalhou em animação e educação ambiental em áreas protegidas de França, onde se dedicou ao estudo da flora mediterrânica.
Não são biólogas mas sim “entusiastas da Natureza”. Ana Luísa tem alguns conhecimentos de botânica e foi ela que deu impulso a uma vontade antiga de Ana Clara. “Ligou-me a propor escrevermos o guia juntas”, conta a guia de natureza. A ajuda do coronel José Rosa Pinto, naturalista, professor e responsável pelo herbário da Universidade do Algarve, foi preciosa para preencher as lacunas e entender as contradições da bibliografia existente sobre a flora portuguesa.
O livro 200 plantas do SW Alentejano&Costa Vicentina resume as características e curiosidades sobre 200 das cerca de 1000 plantas existentes no parque natural, que se estende numa faixa marítima abrangendo os concelhos de Aljezur, Odemira, Sines e Vila do Bispo. A relevância desta zona litoral foi reconhecida a nível europeu, com a sua inclusão na Lista de Sítios de Importância Comunitária, como Zona Especial de Conservação.
O guia é composto de 250 páginas com fichas que incluem a fotografia de cada planta, o nome científico da espécie e a respectiva família botânica, os nomes comuns e uma breve descrição, incluindo o estatuto de protecção. As fichas estão organizadas pela cor da flor, facilitando a identificação no terreno, e no final do livro existe um glossário, para que qualquer pessoa possa compreender termos menos comuns.
Muitas das espécies retratadas no guia são endémicas da região, como a alcachofra-do-Algarve (Cynara algarbiensis). Algumas estão ameaçadas de extinção, como a diabelha-do-almograve (Plantago almogravensis) cuja população está em regressão, ou a Diplotaxis siifolia (nome comum desconhecido), planta amarela rara que tem no Cabo de São Vicente a sub-população com maior número de indivíduos. “As restantes sub-populações apresentam menos de 25 indivíduos e encontram-se em núcleos bastante afastados entre si”, explica Ana Clara.
As autoras quiseram incluir no guia as ameaças que cada espécie enfrenta, com destaque para o pisoteio, a expensão urbano-turística e a extracção ilegal de areias. “Temos consciência de que é preciso ter cuidado na forma como o turismo de Natureza se está a desenvolver e se a comunidade não souber a riqueza que aqui está, isto fica a saque”, sublinha a guia de Natureza.
O guia foi pensado, antes de mais, para “sensibilizar a população local”, mas piscando o olho a quem vem de fora. O livro está escrito em português e inglês, a pensar nos milhares de turistas que todos os anos visitam esta zona do país e também na comunidade estrangeira que ali reside.
A selecção de 200 plantas não foi ao acaso. “Quisemos escolher plantas mais fáceis de observar”, explica Ana Clara. Outras foram “deliberadamente deixadas de fora”, como as que existem em “núcleos muito exclusivos”, para evitar que a procura acabe por prejudicar os indivíduos que restam. Mas a autora não descarta a possibilidade de repetir a dose com um novo volume sobre outras espécies em falta.
O guia, que custa 15 euros, pode ser comprado directamente às autoras (200plantassw@gmail.com) ou nas livrarias. Está à venda na Livraria “Ria Formosa” em Lagos, nas livrarias “Leya” da rua Santa Catarina, e “Publicações Europa-América”, no cimo da rua 31 de Janeiro, ambas no Porto. A obra está também na FNAC da Guia e vai estar na de Faro, onde as autoras farão a sua apresentação pública, no último fim-de-semana de Janeiro.
A publicação foi apoiada pela Direcção Regional de Cultura do Algarve e pelas quatro câmaras municipais abrangidas pelo parque natural.
MARISA SOARES 04/01/2015 - 07:03
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