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Benditos mercados!

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Mensagem por Admin Seg Jan 05, 2015 6:12 pm

Benditos mercados! 396395

Os mercados têm uma face traiçoeira, como se viu em 2008, quando rebentou uma 'bolha' criada artificialmente, dando-se início a uma grave crise que dura até hoje.

O ataque às agências de rating é uma tentativa de atirar para cima do mensageiro as responsabilidades por desgraças que têm outros responsáveis
Mas os mercados têm outra face, indispensável ao bom funcionamento das democracias.

Um claro exemplo disso foi o que aconteceu na última fase do Governo de José Sócrates, quando as taxas de juro da dívida portuguesa começaram a subir em flecha, pondo a nu o endividamento excessivo.

Os socialistas indignaram-se, apontando o dedo aos mercados, vistos como uma espécie de encarnação do Diabo.

As agências de rating foram insultadas por terem posto Portugal no 'lixo' - e houve em Portugal quem as processasse!

Defendeu-se convictamente a criação de agências de rating europeias ou até portuguesas, para contrariar as norte-americanas.

Santa ignorância!

Santa ingenuidade!

As agências de rating são instituições privadas que fazem permanentemente avaliações de risco de crédito a países e a empresas - avaliações estas que as pessoas valorizarão ou não, conforme entenderem.

As agências não impõem nada - só dão classificações e conselhos; depois, quem quiser segue-os, quem não quiser ignora-os.

Ora, criar uma agência europeia com o objectivo de 'facilitar a vida' aos países ou às empresas da Europa em dificuldades, seria o gato escondido com o rabo de fora.

Quem acreditaria nessa agência?

Quem a seguiria?

Para já não falar na credibilidade de uma eventual agência portuguesa…

O ataque às agências de rating é uma tentativa de atirar para cima do mensageiro as responsabilidades por desgraças que têm outros responsáveis.

Vendo a dívida pública tornar-se ingerível, os socialistas viraram-se contra a Standard & Poors, contra a Moody's, contra a Fitch - atribuindo-lhes objectivos políticos inconfessáveis.

O futuro encarregar-se-ia de mostrar o vazio destas suspeitas.

De facto, mesmo após o pedido de resgate e o lançamento das primeiras medidas de austeridade por parte de Passos Coelho, as agências de rating não desarmaram e os juros ainda subiram.

Só quando começou a perceber-se que o novo Governo estava mesmo determinado a baixar o défice e a cumprir as medidas constantes do memorando da troika, aí sim, os juros começaram paulatinamente a descer.

E Portugal começou a recuperar a confiança perdida.

Mas afinal, por que razão dei a este artigo o título de Benditos mercados?

Porque, se não fossem eles, se não fosse a escalada dos juros que colocou a dívida portuguesa num patamar insustentável, Sócrates não teria muito provavelmente arrepiado caminho e a bancarrota teria sido uma realidade - com o rosário de desgraças que acarretaria.

E se não fossem os mercados, talvez tivesse havido mais crises na coligação: recorde-se que a demissão de Paulo Portas, no Verão de 2013, fez disparar imediatamente os juros da dívida - funcionando como uma vacina que terá prevenido a repetição de brincadeiras semelhantes.

Finalmente, se não fossem os mercados, Portugal estaria agora em risco de voltar ao mau caminho, com o abandono da austeridade e o regresso a uma política de gastos excessivos.

Na verdade, os mercados são o grande obstáculo à ocorrência de novos disparates governativos, sejam da actual coligação ou de um eventual futuro Governo socialista.

É certo que Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque não estão virados para aliviar muito o cinto - mas o mesmo não poderá dizer-se do CDS, do PS e mesmo de certos sectores do PSD.

As pressões para voltar à 'velha política' são muito grandes.

 Num país que nunca se soube governar, que sempre tem gasto acima do que produz, os mercados significam uma esperança - ao imporem aos governantes um mínimo de lógica, de bom senso e de racionalidade, dificultando as aventuras.

Enquanto as opiniões públicas dos países pressionam os Governos para abrirem os cordões à bolsa e aliviarem os cortes, os mercados funcionam como um travão, penalizando os défices excessivos e impondo a disciplina orçamental.

Assim, um político que surja hoje a dizer mal dos mercados torna-se suspeito de querer fazer disparates sem ser penalizado por isso.

Ao contrário do que a maioria dos portugueses pensa, as agências de rating e os mercados não são, neste momento, seus inimigos.

São até, em certo sentido, seus aliados - na medida em que dificultam a má governação, acendendo uma luz amarela sempre que as coisas começam a não correr bem.

Os mercados são uma garantia de que os Sócrates deste mundo não poderão levar até ao fim as suas políticas tresloucadas.

José António Saraiva | 05/01/2015 14:47:33
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