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O queijo e a democracia
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O queijo e a democracia
Mas José Sócrates foi detido, é verdade, numa operação tão ordinareca e tão rasteira quanto serão os crimes de que é acusado, se é que os cometeu
Diz a lenda que quem come muito queijo esquece depressa ou nunca chega a aprender. Não consta a boa memória do currículo de José Sócrates, nem no que já prometeu e não cumpriu, nem no que já disse e depois negou, afirmando o contrário. José Sócrates tem um passado escolar, no mínimo, difícil de compreender, uma espécie de licenciatura que, sem ser por correspondência, diz-se ter terminado num dominical fax. Desenhou ou projectou, enquanto engenheiro - não sei se técnico -, umas coisas com um gosto próprio. Tem uma forma de estar na política pouco democrática, tem uma forma de estar na sociedade pouco menos que ditatorial. Elegeu como grande amigo do seu último mandato um cacique venezuelano de segunda categoria, e como amigo privilegiado, isto é, com a sorte de lhe fazer "empréstimos", um personagem igualmente difícil de compreender.
José Sócrates governou como quis quando por São Bento passou. Desfez o país, criando medo em todos quantos se atreviam a confrontá-lo, desde empresários a jornalistas, criando falsos negócios para Portugal - como os barcos que vendeu a Chávez -, permitindo que alguns grupos nascessem e medrassem com o seu apoio, deixando que se criasse uma teia de interesses nociva para a vida em sociedade. José Sócrates apresentou alunos a inaugurar redes de computadores que, afinal, eram apenas figurantes pagos para o fazer; apoiou empresas com milhões de dívidas ao fisco, esquecendo o que custa às que pagam o que devem ter de concorrer sem condições de igualdade; alimentou fantasias de negócios inenarráveis como realizações de estudos para aeroportos de contos de fadas, estabelecendo um "ringfence" no qual o núcleo duro do governo a que presidia tinha papel de executante e o restante governo era institucionalmente solidário até ao dia em que as finanças quebraram.
Foi um período negro para a economia portuguesa, pouco são para a solidificação da nossa democracia e seus princípios, enfim, foi um período que merece muito mais que um qualquer queijo de Leiria. Creio que só lá vai com bem curado queijo de S. Jorge. A qualidade do mesmo faz-nos esquecer qualquer outra realidade que nos afecte.
Mas José Sócrates foi detido, é verdade, numa operação tão ordinareca e tão rasteira quanto serão os crimes de que é acusado, se é que os cometeu. E, como sempre, José Sócrates já se esqueceu, convenientemente, das razões pelas quais foi detido, estando a focar as atenções e a despertar o populismo mais básico com cartas e entrevista - entremeadas com visitas mais ou menos estudadas - feitas a preceito, em que se contradiz como sempre fez.
Mas se a reacção de José Sócrates é "normal", isto é, se qualquer 'ditadorzeco' de telenovela tenta sempre a sua golpada para subir outra vez ao poleiro, até ao dia em que um coronel ainda mais ditador lhe chega a roupa ao pêlo ou o chumbo ao peito, já a reacção de outras figuras da democracia mostra que há mais queijo para além do de São Jorge em circulação. Acabámos de assistir a uma série de episódios que recordam os tempos de Batista, em Cuba, ou de Saddam, no Iraque. À beira do fim, a negação foi o caminho escolhido.
Sócrates, por um lado, deixa cair que está a ser vítima de um julgamento político. Convenientemente, saem notícias a dizer que poderá ser o candidato de Ferro Rodrigues à Presidência da República, tentando minar-se a credibilidade, não de Ferro, mas de Costa, obrigando este a uma gestão difícil entre o que sabe ser o melhor para o partido e aquilo que quer para o país. Sócrates, que não consegue pensar para além de si próprio, crê ter a coisa controlada e nem percebe que, quanto mais fala, mais se contradiz.
E se isso não bastasse, se Sócrates, ele mesmo, não fosse o veneno ingerido pelo próprio na tragicomédia que é a sua existência, algumas figuras da democracia portuguesa têm protagonizado momentos de total irresponsabilidade, confundindo sentimentos pessoais com posturas de Estado. E falo, claro, de Mário Soares. O ex-Presidente da República foi um elemento importante na luta contra a ditadura. Foi ainda mais essencial na oposição à tentativa de impor uma ditadura comunista no país. Tem mundo, deu-nos dois mandatos presidenciais que, com mais crítica, menos crítica, foram positivos. Ouvir Mário Soares, então para quem gosta dele, é penoso. Ver como se aproveitam dele mais penoso é. Mas ouvir Mário Soares a querer acabar com um dos mais essenciais pilares da democracia, como é o princípio da separação de poderes, brada aos céus.
Que quem o prendeu o liberte imediatamente e lhe peça desculpa só tem igual na frase de Otelo quando diz que do que isto precisava era de um Salazar - ou algo assim -, ou na de Manuela Ferreira Leite quando pede a suspensão da democracia por seis meses. Que o sr. dr. Mário Soares não esteja bem, aceita-se, mas tirem-lhe o queijo, pois parece esquecer-se do que muitos em Portugal passaram pelo facto de a PIDE não ser dirigida pelo poder judicial e por este ter sido tantos anos um mero instrumento de quem nos tolhia a liberdade.
Empresário
Escreve à terça-feira
Por António Cunha Vaz
publicado em 6 Jan 2015 - 08:00
Jornal i
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