Políticos na prisão ou nas Urgências?

A sociedade portuguesa regozija-se com a recente perseguição de (ex-)políticos e (ex-)titulares de cargos do Estado pela Justiça. É julgamento comum que a sua actuação só peca por tardia. Mas quem garante que o Estado faz justiça?


Os recentes casos de políticos a contas com a justiça devem-se na sua grande maioria a processos relacionados com corrupção e burla. Uns são ainda arguidos e por isso gozam da inesgotável presunção de inocência (alguns até à prescrição dos seus crimes!), presos preventivamente ou não, mas outros foram já condenados.

As condenações de Armando Vara e Duarte Lima fizeram corar Isaltino Morais, que passou a ser considerado nos meios político-prisionais um "menino de coro". Algo semelhante ao condutor do carro de fuga que é apanhado pela Polícia porque adormeceu ao volante enquanto esperava.

A profissionalização da corrupção e burla seguiu-se à já antiga profissionalização da política e dos políticos de carreira. Hoje em dia são mais e melhores, mais experientes. Principalmente porque não sabem fazer mais nada. Devemos ter políticos corruptos e burlões de 1ª linha. Do melhor que a Europa tem. Tal como Espanha.

Por isso não é de estranhar que também a Justiça e os seus intervenientes tenham melhorado nos últimos anos.

As condenações de Maria de Lurdes Rodrigues, ex-Ministra da Educação de Sócrates, por prevaricação de titular de cargo público é disso um bom exemplo. Bem como a condenação de João da Silva Batista, secretário-geral do Ministério da Educação à data dos factos.

Curiosamente, ou talvez não, o facto de os políticos serem acusados e condenados tem um efeito reconciliador na sociedade. Aproxima a classe política do povo. Afinal somos todos mortais e os políticos também são responsabilizados pelos seus actos. Corruptos ou não.

Assim já quase podemos confiar nos políticos porque se eles nos traírem serão castigados. Já poderemos dormir descansados?

Só falta mesmo a Justiça perseguir e castigar os titulares de cargos públicos, políticos ou não, responsáveis pela supervisão, regulação, inspecção e gestão de serviços públicos. Os responsáveis pela gestão de hospitais e de serviços de saúde pública têm que ser responsabilizados e julgados.

Mas isto ainda tardará em chegar, porque infelizmente incompetência não é crime. Ainda!

Não podem morrer 10 pessoas no 3º maior surto mundial de legionella e não haver responsáveis. Da empresa e das autoridades sanitárias. Mas já nem se fala disso. Certamente tudo será investigado mas não deverão haver culpados.

Não podem morrer pessoas nas filas de espera desumanas do serviço de urgências dos hospitais à espera de um médico. Para depois de morto aparecerem 6 médicos. E dizerem que as reclamações dos familiares até os ajudam a melhorar o serviço. Se não fosse trágico era apenas inaceitável!

Não podem morrer reclusos na hora do recreio das prisões por não haver guardas prisionais no recreio a guardar os reclusos, como aconteceu recentemente. Esperemos que as prisões dos políticos tenham guardas prisionais suficientes. Ou não tenham recreio.

Apesar de tudo, os políticos  devem sentir-se melhor e mais seguros na prisão do que nas Urgências de qualquer hospital do país. Principalmente nas longas horas de visita em constante tertúlia com os amigos e companheiros de partido. Podem bem dispensar a hora do recreio...

Paulo Barradas |
7:00 Terça feira, 6 de janeiro de 2015
Expresso