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Os nossos políticos
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Os nossos políticos
O Presidente da República não traiu a sua natureza política: falou muito, esburacou e tentou desacreditar PCP e Bloco, humilhou 20% dos portugueses que votaram nestes partidos, deixou claro que prefere um governo PSD/CDS do que outro à esquerda, mas não excluiu verdadeiramente nada.
Deixou para os muitos intérpretes das declarações presidenciais a conclusão do que pretende realmente fazer se o programa de Passos & Portas for chumbado no Parlamento e se depois António Costa for capaz de apresentar uma solução consistente. É uma lástima que nestes momentos Cavaco Silva insista em ser a pior versão dele próprio. Seriam legítimas quase todas as dúvidas sobre a real vontade de o Bloco e o PCP desdizerem muito do que têm afirmado ao longo dos anos. Seria até um serviço ao país esta demonstração musculada de exigência (embora de certa forma excessiva pelo tom épico) num instante tão complicado em que não são permitidos devaneios românticos ou aventuras inconsequentes. É isso que se espera do Presidente da República: que tenha opiniões - ele não é um eunuco -, mas que seja também capaz de encontrar o caminho estreito para uma solução de governo que se comprometa com o elementar cumprimento das obrigações financeiras e institucionais do país.
Pois então em que pé ficamos depois do discurso de ontem? Se Cavaco disse que já tinha estudado tudo e que sabia bem o que iria fazer, o que parece é que ainda não jogou as cartas todas. Prefere Passos & Portas, é certo. Repudia Bloco e PCP, é evidente. Mas será capaz mais à frente de dizer não a um governo do PS com apoio parlamentar da esquerda que aprove explicitamente o programa de governo socialista, estando este dentro dos parâmetros do pacto orçamental? Pode fazê-lo, sim - embora haja quem pense que não -, mas as consequências imediatas dessa recusa mergulhariam o país num caos progressivo e talvez imparável. Dividiria ainda mais Portugal. Um governo de mãos e pés atados até a meio da próxima primavera? Talvez o Presidente acredite que a situação seja temporariamente gerível por um executivo sem força na Assembleia. Talvez pense que os mercados vão acabar por revelar-se complacentes e que os parceiros europeus também deixarão a água e o lodo escorrerem livremente para a sarjeta. Mas há aqui um duplo risco. O primeiro, é de isso não acontecer. Isto é, os juros da dívida dispararem com tudo o que isso implica de dramático para a vida das famílias e das empresas. O segundo risco é de António Costa converter-se de repente numa vítima do Presidente da República e ganhar o apoio geral e moral que hoje manifestamente lhe falta na rua. Costa, uma vítima, um herói - o mundo político dá muitas voltas -, ainda por cima com o apoio militante do PCP e do Bloco.
São muitos os perigos pela frente, há um grau extremo de indefinição que pode acabar tragicamente (acreditará Cavaco que Passos teria ou terá em maio/junho a maioria absoluta que lhe escapou agora?, é essa a aposta?). Se o bem mais precioso neste momento é a estabilidade, Cavaco Silva deu-lhe ontem um forte abanão. Foi veemente, foi brutal, mas não foi 100% claro e isso desmerece a responsabilidade que tem. Um discurso destes que deixa dúvidas, algumas pelo menos, é tão mau como um resultado eleitoral que permite que o vencedor se converta em perdedor em menos de 48 horas. Assim estamos, são estes os políticos que elegemos.
PS: Costa foi prematuro ao matar um acordo com o PSD-CDS. Cavaco foi prematuro ao minar um acordo PS-BE-PCP que ainda não existe.
Editorial
23 DE OUTUBRO DE 2015
00:01
André Macedo
Diário de Notícias
Deixou para os muitos intérpretes das declarações presidenciais a conclusão do que pretende realmente fazer se o programa de Passos & Portas for chumbado no Parlamento e se depois António Costa for capaz de apresentar uma solução consistente. É uma lástima que nestes momentos Cavaco Silva insista em ser a pior versão dele próprio. Seriam legítimas quase todas as dúvidas sobre a real vontade de o Bloco e o PCP desdizerem muito do que têm afirmado ao longo dos anos. Seria até um serviço ao país esta demonstração musculada de exigência (embora de certa forma excessiva pelo tom épico) num instante tão complicado em que não são permitidos devaneios românticos ou aventuras inconsequentes. É isso que se espera do Presidente da República: que tenha opiniões - ele não é um eunuco -, mas que seja também capaz de encontrar o caminho estreito para uma solução de governo que se comprometa com o elementar cumprimento das obrigações financeiras e institucionais do país.
Pois então em que pé ficamos depois do discurso de ontem? Se Cavaco disse que já tinha estudado tudo e que sabia bem o que iria fazer, o que parece é que ainda não jogou as cartas todas. Prefere Passos & Portas, é certo. Repudia Bloco e PCP, é evidente. Mas será capaz mais à frente de dizer não a um governo do PS com apoio parlamentar da esquerda que aprove explicitamente o programa de governo socialista, estando este dentro dos parâmetros do pacto orçamental? Pode fazê-lo, sim - embora haja quem pense que não -, mas as consequências imediatas dessa recusa mergulhariam o país num caos progressivo e talvez imparável. Dividiria ainda mais Portugal. Um governo de mãos e pés atados até a meio da próxima primavera? Talvez o Presidente acredite que a situação seja temporariamente gerível por um executivo sem força na Assembleia. Talvez pense que os mercados vão acabar por revelar-se complacentes e que os parceiros europeus também deixarão a água e o lodo escorrerem livremente para a sarjeta. Mas há aqui um duplo risco. O primeiro, é de isso não acontecer. Isto é, os juros da dívida dispararem com tudo o que isso implica de dramático para a vida das famílias e das empresas. O segundo risco é de António Costa converter-se de repente numa vítima do Presidente da República e ganhar o apoio geral e moral que hoje manifestamente lhe falta na rua. Costa, uma vítima, um herói - o mundo político dá muitas voltas -, ainda por cima com o apoio militante do PCP e do Bloco.
São muitos os perigos pela frente, há um grau extremo de indefinição que pode acabar tragicamente (acreditará Cavaco que Passos teria ou terá em maio/junho a maioria absoluta que lhe escapou agora?, é essa a aposta?). Se o bem mais precioso neste momento é a estabilidade, Cavaco Silva deu-lhe ontem um forte abanão. Foi veemente, foi brutal, mas não foi 100% claro e isso desmerece a responsabilidade que tem. Um discurso destes que deixa dúvidas, algumas pelo menos, é tão mau como um resultado eleitoral que permite que o vencedor se converta em perdedor em menos de 48 horas. Assim estamos, são estes os políticos que elegemos.
PS: Costa foi prematuro ao matar um acordo com o PSD-CDS. Cavaco foi prematuro ao minar um acordo PS-BE-PCP que ainda não existe.
Editorial
23 DE OUTUBRO DE 2015
00:01
André Macedo
Diário de Notícias
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