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Novo porto da Trafaria: o pior do novo-riquismo
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Novo porto da Trafaria: o pior do novo-riquismo
Álvaro Santos Pereira anunciou que o porto de contentores de Lisboa será transferido para a Trafaria. Esta transferência implica uma intervenção na margem sul do Tejo com um brutal impacto ambiental (podemos mesmo falar de um crime ambiental de enormes proporções) e urbanístico, que poderá mesmo ter repercussões nas praias da Costa da Caparica, um importantíssimo ativo para o turismo na região metropolitana de Lisboa. Não por acaso, parece existir um absoluto consenso no concelho de Almada contra este projeto. E não deixa de ser curioso que o governo que avança com este projeto megalómano seja o mesmo que pôs em banho maria a requalificação planeada para a Costa da Caparica, um dos mais desaproveitados potenciais turísticos do País.
Este projeto obrigará à construção de uma linha ferroviária para dar àquele porto o papel de entrada e saída da Europa, para o qual Sines tem muito melhores condições. O novo porto terá sempre limitações em comparação com o de Sines. O Canal do Panamá terá, em 2014, um calado de 18,3 metros, passando a ser navegável pelos post-Panamax. Uma navegabilidade impossível de conseguir na barra sul do Tejo sem um investimento exorbitante, tendo em conta as características do subsolo. Problema que não existe nem existirá para Sines.
O Porto de Lisboa, mais do que o de Sines (adequado para o transshipment), tem um papel fundamental nas exportações e importações. E a origem e destino nacionais das mercadorias (incluindo nos destinos as regiões autónomas) está concentrada a norte do Tejo. Ou seja, a passagem do porto para a margem Sul aumentará os custos de transporte para toda a região que vai de Lisboa a Leiria, aquela para a qual a sua atividade tem maior importância. Sem esquecer que os parques de segunda linha de apoio ao porto de Lisboa estão na Bobadela.
Tendo em conta a situação económica do País, é um mistério porque raio se vão gastar mil milhões de euros naquilo que muito provavelmente se transformará em mais um elefante branco. A prioridade deveria continuar a ser dar ao porto de Sines todas as capacidades para se tornar num porto competitivo no plano europeu e modernizar o porto de Lisboa para cumprir as suas atuais funções.
António Costa aplaudiu esta decisão. A lógica, tal a como a do ministro da Economia, é a delibertar toda a zona ribeirinha da cidade e assim potenciar o turismo. Permitem-me que discorde. Continuando a reabilitar a cidade e a apoiar as infraestruturas de apoio ao turismo, assim como reabilitando as imensas zonas ribeirinhas já libertas pela atividade portuária, Lisboa já tem tudo para ser um dos principais destinos turísticos da Europa. Mas nenhuma capital pode e ou deve ser apenas um cartão postal. Deve diversificar as suas atividades económicas. Deve ter cultura, turismo, serviços, comércio, indústria não poluente e, como qualquer grande cidade costeira, deve ter atividade portuária. Uma cidade não é um museu. Tem de gerar riqueza para além da que o turismo garante. Não pode pôr todos os ovos no mesmo cesto. A atividade portuária de Lisboa e as que dela dependem empregam cerca de 140 mil pessoas e representam 5% do PIB regional. Uma capital não se pode dar ao luxo de desprezar isto.
A substituição da atividade portuária atual por um novo terminal de cruzeiros faz pouco sentido. Os cruzeiros, apesar de potenciarem o turismo, trazem menos dinheiro em pagamentos de Taxa de Uso Portuário (TUP) do que qualquer outro utilizador e ainda menos dinheiro fazem entrar na cidade: são os turistas que, por já terem toda a oferta hoteleira garantida, menos dinheiro gastam nos seus destinos turísticos. Uns cafés, mas lembranças e pouco mais. Perder um porto para ganhar cruzeiros é um péssimo negócio.
Pelo contrário, a aposta na requalificação da Costa da Caparica e da zona ribeirinha sul do Tejo é fundamental para a diversificação da oferta turística na região. Não se pode pensar o turismo em Lisboa com cada um a olhar para a sua capelinha - e, já agora, não se pode continuar a massacrar as populações da margem sul com sucessivos atentados ao ambiente. O turismo é regional e Lisboa tem, desse ponto de vista, tudo para oferecer: lazer, cultura, património, zonas rurais, um estuário de rio de um valor ambiental inestimável e duas costas de praia extraordinárias. Não se pode destruir parte destas valência para transformar a zona ribeirinha de Lisboa numa enorme esplanada (a monofuncionalidade é a pior opção para qualquer intervenção urbanística). A ideia de transformar Lisboa num cartão postal sem outras atividades económicas e a margem sul numa zona ambientalmente desqualificada é irracional e promove o desequilíbrio na região metropolitana. Um desequilíbrio pelo qual todos, lisboetas e almadenses, pagaremos.
Percebo que muitos lisboetas tenham pouca simpatia estética por contentores. Mas uma cidade não é apenas as suas vistas (e, para quem não se lembre, a Trafaria é o que se vê da zona ociedental de Lisboa) nem acaba nos seus limites administrativos. É um centro de uma região económica. Os contentores estão longe de perturbar a extraordinária beleza da cidade, cumprem uma função que dificilmente será garantida pela Trafaria (que nunca poderá competir com Sines). Este projeto é digno do pior novo-riquismo que durante décadas ajudou a enterrar este país. Felizmente, a inconsequência é uma das características do ministro da Economia. Esperemos que assim continue.
Daniel Oliveira
8:00 Segunda feira, 25 de fevereiro de 201
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