Tudo isto é Porto, tudo isto é fado

Segundo me explicam alguns operadores turísticos, existe no Porto uma crescente procura de espectáculos de fado. Do mesmo modo que admitem perfeitamente tomar um porto em Lisboa ou almoçar tripas no Algarve, os turistas que vêm ao Porto querem ouvir cantar o fado. E como isso começa a ser possível e mais frequente, acaba por ser o país a ficar bem menos pequeno do que estava habituado a ser.

A afirmação "o Porto está na moda" já ganhou o estatuto de lugar- -comum. O que, sendo uma contradição com a natureza provisória da moda, revela um dado adquirido: o Porto é (os menos optimistas ainda só conseguirão dizer que está...) uma cidade atraente. A evolução é cultural, tem dimensão nacional e beneficia sobretudo o país inteiro.

Em Junho, por altura do Santo António, decorre no Porto o Caixa Ribeira - um festival de dois dias, com os melhores intérpretes de fado a actuarem em dez palcos montados na Ribeira. Estranho? Nem por isso. O festival, de iniciativa privada, existe porque há procura local. E não é só para inglês ver. Ou para turista ouvir. Haver no Porto quem goste de fado de Lisboa é tão pouco motivo de espanto como haver em Lisboa imensos adeptos do FC Porto.

O fado na Ribeira sucede uma semana depois do NOS Primavera Sound (homólogo do festival de Barcelona e que já tem perto de 40% de espectadores estrangeiros) e antecede o S. João do Porto, cada vez mais uma festa nacional.

A distância física entre Porto e Lisboa pode parecer-nos longa mas é quase insignificante à escala europeia. A verdade é que, sendo Portugal um país pequeno, termos fado no Porto e vinho do Porto em Lisboa faz de nós todos bem maiores por dentro. E alargar horizontes nunca fez mal a ninguém.

Escreve à sexta-feira

Por Jorge Afonso Morgado
publicado em 12 Fev 2015 - 08:00
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