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Putin e o euro
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Putin e o euro
Obama apelou a que a Grécia permanecesse na Zona Euro. Quando a Rússia de Putin prossegue a sua intervenção na Ucrânia perante a impotência europeia, a Turquia se islamiza gradualmente e o 'Estado Islâmico' cresce na Líbia, seria perigoso alienar a Grécia (vários dos partidos de extrema-esquerda que compõem o Siryza são anti-UE e anti-NATO). Para já, pelo menos, a Grécia mantém-se no euro.
Tal como a ameaça soviética ajudou a integração europeia, talvez a agressividade de Putin ajude o euro
Os críticos da austeridade têm razão ao denunciarem os exageros impostos à Grécia. Mas por vezes caem na falácia inversa, ao suporem que um país que vive acima dos seus recursos não precisa de apertar o cinto: a riqueza era a crédito e há empréstimos a pagar.
Um dos maiores críticos da austeridade europeia, o Prémio Nobel da Economia Paul Krugman, disse ao Le Monde há três anos que seria preciso baixar 20% os salários nos países periféricos da zona euro, em relação à Alemanha. Em 2010 Krugman recomendava cortes salariais que poderiam ir até 30% em países como Portugal, Grécia e Espanha. Mas alguns auto-intitulados 'keynesianos' da nossa praça não percebem isto.
Como não percebem que a sustentabilidade da dívida pública depende sobretudo do custo de ir pagando juros e amortizações. Eva Gaspar notava há dias no Jornal de Negócios que o Japão tem uma dívida de 250% do PIB, que não assusta os japoneses nem os mercados, apesar da longa estagnação da economia japonesa. É que o serviço dessa dívida representa apenas 2% do PIB. Na Grécia não é muito mais: 2,6%.
O problema de fundo da economia grega é a falta de competitividade. Vigora ali, mais ainda do que em Portugal, um 'capitalismo de compadres', com muita corrupção e incapacidade na cobrança de impostos pelo Estado (em Janeiro essa cobrança foi catastrófica). Pois se os armadores, os principais milionários do país, constitucionalmente apenas pagam uns ridículos impostos pela tonelagem transportada...
Mudar a cultura ancestral de uma sociedade como a grega não é fácil nem se consegue a curto prazo. O mesmo se diga da cultura prevalecente na Alemanha, com o seu pânico da inflação, quando o problema actual é a deflação. E é preciso convencer a Alemanha de que a coordenação de políticas numa União Económica e Monetária não pode limitar-se a controlar os orçamentos dos Estados do euro. Os alemães deveriam investir mais - nas autoestradas, no canal de Kiel, na Luftwaffe, etc. - no seu próprio interesse e no dos seus parceiros que necessitam de exportar.
Não é tanto 'acabar com a austeridade', como a demagogia vigente proclama, de que o euro necessita. Não havia austeridade em Portugal na primeira década deste século e todavia o nosso crescimento económico foi então decepcionante. Nem se pode corrigir já a arquitectura do euro, reconhecidamente coxa, alterando o Tratado da União - o que levaria a referendos e à provável desintegração da UE.
É necessária mais união política para o euro se solidificar, mas aumenta o populismo eurocéptico na Europa, à direita e à esquerda. Um beco sem saída? Tal como a ameaça soviética ajudou a integração europeia, talvez a agressividade de Putin ajude o euro.
Francisco Sarsfield Cabral | 03/03/2015 16:45:04
SOL
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