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A liberdade não tem 'mas'
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A liberdade não tem 'mas'
Quando alguém diz: «Eu defendo a liberdade, mas», a liberdade morre. O 'mas' é um muro e a liberdade é asa voando infinitamente.
Há umas décadas - não muitas - julgaríamos que este princípio fundamental estava assegurado, pelo menos nas sociedades ocidentais e democráticas, que a duras penas o haviam descoberto e consagrado.
O terror conseguiu já uma vitória: a da mistificação. Sempre que nos opomos ao 'mas', surgem rebanhos de gente ingratamente livre atirando-nos com a necessidade de 'respeitar' os valores de outras culturas - mesmo quando esses valores 'outros' são os do desrespeito por direitos básicos como a integridade física e a possibilidade de cada um escolher como quer viver e com quem quer casar.
Vejo raparigas muito jovens - e muito mal informadas, e muito pouco habituadas ao exercício da empatia - fascinadas com véus islâmicos e mesmo burkas, pontificando sobre o tema sem que por um segundo lhes ocorra que essas mulheres cobertas são feitas da mesma matéria que elas e que não existe 'escolha' sem conhecimento e liberdade inicial.
Vivemos a era do 'exotismo' travestido de 'inteligência multicultural', começámos por aceitar tudo para não parecermos parvos, movidos pela velha arrogância colonial de entender os indígenas para melhor os explorar; agora aceitamos tudo por medo que a próxima bomba, o próximo massacre, ocorram à nossa porta, em vez de em França ou na Dinamarca.
É natural que o exercício da liberdade de uns ofenda as convicções de outros; o custo da democracia é esse, de vivermos num mundo efectivamente multicultural, feito de visões opostas.
As religiões, como quaisquer outras associações, têm direito aos seus rituais e aos seus interditos: espanta-me sempre o alarido que volta e meia aparece porque, por exemplo, a Opus Dei faz listas de livros proibidos.
Ora só pertence à Opus Dei quem quer, e normalmente isso de proibir leituras funciona perversamente como um estímulo ao interesse pelas mesmas, pelo que a mim nada me incomoda.
A Igreja Católica deixou há séculos de queimar hereges nas praças públicas e integrou-se no funcionamento das sociedades laicas e democráticas. O laicismo é mais importante para o desenvolvimento global do que a física quântica, até porque em sociedades dominadas pela religião a ciência acaba amordaçada.
O que está neste momento em causa é a defesa do mundo da Razão e do Pensamento Livre, que levou toda a história da humanidade a ser criado.
Essa defesa começa na recusa absoluta de qualquer tentativa de equivalência entre os valores da liberdade e da opressão.
Não podemos respeitar quem não respeita, e a ilusão de que diminuindo a nossa liberdade nos faremos respeitar pelos desrespeitadores é exactamente e apenas isso: uma ilusão - e perigosa.
Quanto mais nos vergarmos, maior será a retaliação. É assim desde que o mundo é mundo, basta ler. Reivindicamos o direito à crítica, à sátira, ao riso - esse elemento essencial do pensamento, que nos ensina a afastarmo-nos do nosso importantíssimo ego e a relativizarmos as situações, para melhor reflectirmos sobre elas.
O 'liberdade, mas' é equivalente ao 'estou tão triste com a tua opinião' - chantagem emocional, coacção, abandono ao medo e à lei do irracional, que institui o caos ordenado do totalitarismo, de onde ninguém sai vivo.
Inês Pedrosa | 03/03/2015 16:40:53
SOL
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