A Esquerda estúpida

Hoje em dia, no panorama político português começa a levantar-se uma dúvida metódica que pode parecer indelicada mas a que não consigo fugir: os políticos de Esquerda em Portugal são pouco inteligentes porque são de Esquerda ou são de Esquerda porque são pouco inteligentes?

Segundo um estudo que ontem vi publicado, o quociente de inteligência das novas gerações terá subido 20 pontos em média nos últimos anos. Se eu fosse um homem de Esquerda típico diria que a inteligência, como tudo o resto, deveria ser distribuída irmãmente e tal como deveria existir uma sociedade sem classes, também não era suposto que a inteligência beneficiasse mais os políticos de Direita do que os políticos de Esquerda.

Indo ao cerne da questão, nas democracias ocidentais, de cada vez que o regime se põe a jeito para ser posto em causa, há uma tendência para que os extremos do espectro partidário se avolumem em detrimento dos partidos do centrão, que encolhem. Em Portugal, depois do que aconteceu nestes anos de troika, podemos dizer que estamos numa situação deste tipo, em que é natural que os extremismos ganhem alento. O que fazem ou se preparam para fazer a Direita e a Esquerda portuguesas? Enquanto na Direita ninguém fala em constituir um novo partido, e pelo contrário há um toque a rebate fazendo jus à expressão que a união faz a força (e até a coligação no poder estará prestes a revalidar-se), do lado da Esquerda, todas as semanas assistimos à criação de novos partidos, demissões e dissidências, na clara convicção de que bem ao contrário, segundo eles, é na desunião que vão conseguir a força. No caso da Direita, a única nota dissonante será talvez a polémica que tem agitado o CDS, por causa da inclusão de alguns elementos históricos que se afastaram de Paulo Portas, mas que agora exactamente em resposta a esta crise, têm preferido regressar às antigas trincheiras em vez de se porem a fundar grupinhos, grupelhos, movimentos ou associações sem qualquer fim inteligente.

É incrível como é que as várias "sensibilidades" anteriormente reunidas no Bloco de Esquerda não têm sido sensíveis à ideia de que quanto mais se esfarelam, mais impossível tornam a capacidade de adquirirem alguma relevância política em termos de intervenção nos destinos do país. A não ser que pessoas como Joana Amaral Dias, Daniel Oliveira, Rui Tavares, Ana Drago e quejandos mais não queiram do que umas linhas de jornal e uns minutos de televisão, que lhes possam assegurar um putativo convite para integrar as listas do PS para as próximas eleições legislativas.

04.03.2015

MANUEL SERRÃO

Jornal de Noticias