Filhos e enteados

Alguns dos que se abespinham diariamente contra as “façanhas” de José Sócrates andam  agora a tentar “lavar” tudo o que tenha a ver com Pedro Passos Coelho. Já tinham tentado fazê-lo com Paulo Portas. E descobrem de imediato rabos de palha em António Costa. O que me leva a considerar que algo não está bem na república de Portugal (tal como não estava bem no reino da Dinamarca!).

Esta história de comportamentos à Benfica-Porto adaptados à coisa pública e à que deveria ser a mui nobre arte da governação deixa--me perplexo. Qualquer cidadão consciente e bem formado só deverá ter uma atitude: há dúvidas quanto à honestidade de ex ou actuais governantes, pois pesquise-se, analise-se, leve-se a tribunal, faça-se justiça. Doa a quem doer, e para lá de qualquer simpatia pessoal ou partidária. Estes joguinhos de sujar de um lado e lavar do outro são objectivamente ardilosos e só mostram que andam por aqui a navegar interesses inconfessáveis.

Sempre que alguém neste governo de aparentes inimputáveis é acusado de alguma irregularidade, o coro das carpideiras (saído dos partidos e da comunicação social) vem logo tentar limpar o sujo, desqualificando a infracção, apregoando a honestidade dos visados, mostrando a insignificância da transgressão, etc. Grave, mas grave mesmo, é a dívida de 4808,85 euros relativa a portagens não pagas por O Coração da Cidade, uma associação de apoio social do Porto, que, por isso mesmo, foi penhorada pelas Finanças, que, ao que se lê nas notícias, levou “pão, fruta, hortaliças, massas, arroz e leite para a sopa dos pobres, alimentos doados por um hipermercado no dia 23 de Fevereiro”. Levou, ou procurou levar, porque quando chegaram parece que os carenciados já se tinham, entretanto, alimentado.

Já se temia que assim fosse, mas agora sabemos que estamos num país de comédia. Que, todavia, não dá para rir. Como não dão para rir os dislates ouvidos diariamente na comissão do BES pelos que eram “donos disto tudo” (e não, não será só Ricardo Salgado!), os esquecimentos dos maiores gestores do reino, ou a actividade do gangue de polícias que assaltava residências e que nos dizem chefiado por um ex-investigador da PJ (faltava o verde do Sporting, também já cá canta!), e tanta mais tropelia que por aí campeia. 
O que nos vale é que Portugal não é a Grécia!

Escreve à sexta-feira

Por Lauro António
publicado em 6 Mar 2015 - 08:00
Jornal i