Fuga em massa para o Brasil

A Assembleia selvagem acabou às primeiras horas do dia 12 de Março. Os jornais fresquinhos faziam manchete: banca e seguros nacionalizados. Oficiais do quadro e milicianos reunidos em Pedrouços não faziam a mínima ideia de que o Estado ia ficar, por arrasto, proprietário de empresas de muitos sectores da economia. Estava dado o primeiro passo na longa caminhada para a sociedade sem classes, para o socialismo, diziam uns, para o comunismo, diziam outros.

E tinha sido dado o tiro de aviso para a fuga em massa para o Brasil de empresários, gestores, capitalistas, da média burguesia assustada com a revolução. Casas, automóveis, ouro, prata, jóias, tudo começou a ser vendido ao desbarato, em troca de dinheiro fresco nos bolsos. Escudos ou dólares, não importava, até porque nasceram cambistas improváveis que resolviam o problema das divisas. Barbeiros, sapateiros, oportunistas de qualquer revolução encheram os bolsos dos que fugiam com a roupa no corpo e notas escondidas em malas, carteiras, sutiãs, cuecas, berços. E os que ficaram por medo da aventura esconderam os carros de média e alta gama nas garagens, compraram Fiat 600 e andavam pelas ruas disfarçados de revolucionários. Ano louco de gente louca.

Por António Ribeiro Ferreira
publicado em 13 Mar 2015 - 09:22
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