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Autarca de Viseu quer clarificar projecto de via férrea do Centro
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Autarca de Viseu quer clarificar projecto de via férrea do Centro
Há décadas que Viseu exige ter uma ligação ferroviária ao resto do país PAULO PIMENTA
O presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, solicitou esta quarta-feira ao Governo esclarecimentos sobre "as notícias contraditórias" das últimas semanas acerca da ferrovia, que elege como central para a competitividade das regiões do Centro - Norte.
"As últimas semanas trouxeram-nos notícias contraditórias que espero que possam ser ultrapassadas. Depois de sabermos que o Governo candidatou a fundos europeus a concepção da linha Aveiro- Viseu-Vilar Formoso, viemos a saber que, provavelmente, a decisão da sua execução será tomada apenas pelo próximo Governo", lamentou.
Durante a sessão de abertura do 5.º Congresso Empresarial da Região de Viseu - que contou com a presença do secretário de Estado da Administração Local, Leitão Amaro - o autarca de Viseu questionou o Governo sobre o futuro da ferrovia na região. "A ferrovia é uma questão central para a competitividade das regiões Centro - Norte. É uma questão central para a competitividade do país, não é só de Viseu: é um problema do Centro - Norte e do país", sublinhou.
Ao longo da sua intervenção, Almeida Henriques recordou que no último ano e meio "construiu-se um amplo consenso nas regiões do Centro e Norte, onde respira o pulmão industrial e exportador do país, a respeito da prioridade absoluta da ligação ferroviária paralela à A25".
"Empresários, autarcas, gestores portuários do Centro-Norte puseram-se de acordo em relação a esta opção e apresentaram ao Governo estudos e propostas sobre a sua viabilidade. Não se limitaram a fazer lóbi ou a reivindicar. Apresentaram estudos de alternativa que provam a viabilidade desta obra e também a viabilidade do ponto de vista da sua exploração", apontou.
Na sua opinião, o adiar desta decisão "até pode parecer uma posição sensata em ano eleitoral". No entanto, realça que a espera para o país real já vai longa e que há custos elevados a pagar por uma não-decisão.
"Espera-se que quem venha a seguir decida rapidamente? Será credível que um Governo que entra em funções, logo nos primeiros meses, esteja a tomar uma decisão dessas? Não nos encontramos na iminência de desperdiçar ano e meio de trabalho neste processo, deitando fora o consenso que se gerou?", questionou.
O autarca perguntou ainda se é pretensão do Governo "alargar o já extenso cemitério nacional de estudos milionários que não serviram para nada". "Apelo a que o Governo não ceda às habituais insinuações de interesses instalados na capital ou a discursos atávicos, atrasando decisões fundamentais para o país real e para o país exportador", sustentou.
Também o presidente da AIRV - Associação Empresarial da Região de Viseu, João Cotta, destacou as acessibilidades como cruciais para a região de Viseu, elegendo como necessária a requalificação do IP3 em termos rodoviários. "A ferrovia fará a diferença, tornando-nos mais atrativos para as empresas e para as pessoas. No entanto, tivemos a desagradável notícia de que não será este Governo a tomar a decisão sobre os investimentos ferroviários. Para que servem os anúncios? Para que se criam expectativas?", alegou.
No seu entender, com este Governo ou com o próximo, "é indispensável que se criem compromissos políticos indispensáveis para que Viseu não fique prejudicado mais uma vez". "O ensino superior e as acessibilidades exigem concertação estratégica e regional, entre poder político, empresas e ensino", concluiu.
Em resposta, o secretário de Estado da Administração Local, Leitão Amaro, relativizou a importância do tema. "As infraestruturas e as comunicações são importantes, assim como a ligação de que o presidente da Câmara de Viseu falou [ferrovia entre Aveiro-Viseu-Vilar Formoso], designada como prioritária pelo Governo. Mas, nem sequer nestes momentos públicos, podemos deixar que se transforme o tema como se fosse a única bóia de salvação", sustentou..
"É evidente que o domínio das infraestruturas e das comunicações é importante e não podemos dizer que Portugal já fez absolutamente tudo o que tinha a fazer. No entanto, temos muitos dos nossos territórios nesta região, onde as estradas foram feitas, não para as pessoas virem ou as empresas se fixarem, mas para as usarem para partir", apontou.
Ao longo da sua intervenção de mais de meia hora, o representante do Governo disse entender as preocupações do presidente da Câmara de Viseu. "O Governo já assumiu a sua decisão desde logo no Plano Estratégico de Transportes, mas se as infraestruturas e as comunicações são importantes, não são suficientes. É um bocadinho como a questão das infraestruturas de localização empresarial: não é por estendermos mais uns hectares de zona de localização industrial que vamos ter empresas", alegou.
No seu entender, "o lado material e físico é importante, mas não se o pode por sempre no centro da sala", levando a que se distraiam das prioridades. "Confesso que a sensação que tenho é que, o que o país precisa, onde o défice maior está, é noutras áreas, designadamente na qualificação de toda a nossa estrutura de dirigentes e trabalhadores", defendeu.
No final da cerimónia de abertura do 5.º Congresso Empresarial da Região de Viseu, o presidente da Câmara de Viseu, Almeida Henriques, admitiu aos jornalistas ter ficado surpreendido com a resposta do secretário de Estado da Administração Local, Leitão Amaro. "Não vou dizer que a resposta do secretário de Estado não me surpreendeu, até porque não está exactamente em linha com outras intervenções que já fez em Viseu. Mas estou convencido que o bom senso vai imperar, até porque se não estaríamos a transformar todo este Centro Norte numa ilha no contexto ibérico", concluiu.
LUSA 25/03/2015 - 16:34
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