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Uma fatia do país no balcão da EMEL
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Uma fatia do país no balcão da EMEL
Lisboa, ontem de manhã. Na fila para levantar o meu carro rebocado sem piedade pela EMEL - a mal amada empresa municipal de parqueamento - é impossível não ouvir o diálogo do homem à minha frente com o outro lado do vidro.
Não está ali para resgatar o carro dele, mas para caçar o carro de "um terceiro" - está ali, subcontratado por um banco, à procura do carro de alguém que deixou de pagar o crédito automóvel.
Somos os únicos na saleta e é fácil conversarmos um pouco. Conta que cenas destas são frequentes. "Nem imagina as histórias", diz. Imagino, imagino.
"Não, não imagina". Pessoas com dívidas às costas que fintam gestores de insolvência, que nunca se deixam contactar, que mandam bens para o estrangeiro, que se mandam a si próprias para o estrangeiro.
A crise deve ter piorado muito a situação é a ‘la palissada' que me ocorre dizer.
"Sempre tivemos coisas destas", conta do alto de catorze anos nas trincheiras da recuperação de bens, lembrando que a crise não é fundadora de todos os males em Portugal.
"Mas em 2012 foi uma loucura", acrescenta.
Construção, serviços, empresas, pessoas, muita coisa varrida.
"Muitos negócios sem sustentação, sem negócio". E agora, melhor?
"Sim, mas ainda há muitos casos novos - empresas que se safaram e que depois não aguentam".
O carro que procura tinha estado ali rebocado, confirma o funcionário da EMEL. Mas o caçador não tem sorte - o proprietário já o tinha ido buscar há algum tempo.
Em breve haverá um mandato de apreensão, mas mesmo assim será preciso andar em cima, "porque a polícia tem mais que fazer", reconhece sem crítica implícita.
Saímos para a luz da manhã lisboeta, ele para nova batalha na guerra da dívida, eu para as notícias sobre essa guerra.
Quando estiver a ler este texto é possível que o leitor já saiba do bom desempenho da economia no primeiro trimestre deste ano, divulgado hoje de manhã pelo INE.
Ao virar esta página ficará também a conhecer os dados sobre incumprimento bancário no primeiro trimestre - mais 14.639 famílias em apuros, mais empresas em dificuldades.
Nos últimos meses, e ao longo dos próximos, as notícias sobre a economia serão sempre assim, com lado solar e lunar.
Há uma tendência geral de retoma na economia e no emprego? Sim, mas o retrato do mercado de trabalho é ainda devastador.
Sinais de recuperação no consumo?
Sim, mas os incumprimentos e as insolvências somam e seguem.
Em ano eleitoral, o jogo político amplia o exercício costumeiro do copo meio cheio e meio vazio.
Tirando os exageros próprios da propaganda, as duas leituras são complementares.
Sugerem a solidificação de um país dual, entre sobreendividados e livres, protegidos e temporários, preparados e impreparados, empregados e desempregados.
Este é o país que já existia antes da crise, agora com as cicatrizes de um "ajustamento" violento, contas externas equilibradas e algumas reformas estruturais no bolso.
Não é a Grécia - mas também não é a Irlanda, muito menos o Reino Unido.
É Portugal em 2015.
BRUNO FARIA LOPES
00:05 h
Económico
Não está ali para resgatar o carro dele, mas para caçar o carro de "um terceiro" - está ali, subcontratado por um banco, à procura do carro de alguém que deixou de pagar o crédito automóvel.
Somos os únicos na saleta e é fácil conversarmos um pouco. Conta que cenas destas são frequentes. "Nem imagina as histórias", diz. Imagino, imagino.
"Não, não imagina". Pessoas com dívidas às costas que fintam gestores de insolvência, que nunca se deixam contactar, que mandam bens para o estrangeiro, que se mandam a si próprias para o estrangeiro.
A crise deve ter piorado muito a situação é a ‘la palissada' que me ocorre dizer.
"Sempre tivemos coisas destas", conta do alto de catorze anos nas trincheiras da recuperação de bens, lembrando que a crise não é fundadora de todos os males em Portugal.
"Mas em 2012 foi uma loucura", acrescenta.
Construção, serviços, empresas, pessoas, muita coisa varrida.
"Muitos negócios sem sustentação, sem negócio". E agora, melhor?
"Sim, mas ainda há muitos casos novos - empresas que se safaram e que depois não aguentam".
O carro que procura tinha estado ali rebocado, confirma o funcionário da EMEL. Mas o caçador não tem sorte - o proprietário já o tinha ido buscar há algum tempo.
Em breve haverá um mandato de apreensão, mas mesmo assim será preciso andar em cima, "porque a polícia tem mais que fazer", reconhece sem crítica implícita.
Saímos para a luz da manhã lisboeta, ele para nova batalha na guerra da dívida, eu para as notícias sobre essa guerra.
Quando estiver a ler este texto é possível que o leitor já saiba do bom desempenho da economia no primeiro trimestre deste ano, divulgado hoje de manhã pelo INE.
Ao virar esta página ficará também a conhecer os dados sobre incumprimento bancário no primeiro trimestre - mais 14.639 famílias em apuros, mais empresas em dificuldades.
Nos últimos meses, e ao longo dos próximos, as notícias sobre a economia serão sempre assim, com lado solar e lunar.
Há uma tendência geral de retoma na economia e no emprego? Sim, mas o retrato do mercado de trabalho é ainda devastador.
Sinais de recuperação no consumo?
Sim, mas os incumprimentos e as insolvências somam e seguem.
Em ano eleitoral, o jogo político amplia o exercício costumeiro do copo meio cheio e meio vazio.
Tirando os exageros próprios da propaganda, as duas leituras são complementares.
Sugerem a solidificação de um país dual, entre sobreendividados e livres, protegidos e temporários, preparados e impreparados, empregados e desempregados.
Este é o país que já existia antes da crise, agora com as cicatrizes de um "ajustamento" violento, contas externas equilibradas e algumas reformas estruturais no bolso.
Não é a Grécia - mas também não é a Irlanda, muito menos o Reino Unido.
É Portugal em 2015.
BRUNO FARIA LOPES
00:05 h
Económico
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