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Mensagem por Admin Qui Jun 18, 2015 6:05 pm

O ponto de partida era diferente mas existia um elemento que era transversal aos três países que recorreram à ajuda internacional.

As medidas impostas pela ‘troika' à Grécia, Irlanda e Portugal foram consideradas inexequíveis, uma espécie de empréstimo com condições incomportáveis. 

Havia mesmo uma certa unanimidade nas críticas ao FMI, BCE e Comissão Europeia por, sob a capa da ajuda solidária, terem introduzido uma componente punitiva com uma dimensão nunca antes vista. 

O dedo foi apontado à Alemanha de Angela Merkel e aos seus aliados europeus, acusados de falta de solidariedade, de subversão dos fundamentos que estiveram na génese da própria União Europeia e de tentarem impor padrões de vida aos países do Sul.

A posição de Angela Merkel, ainda que criticável, compreende-se do ponto de vista da comunicação interna. A Chanceler tem necessidade de mostrar aos alemães que exige dos parceiros europeus a mesma disciplina e rigor que impõe no próprio país. 

Pelo contrário, países como Portugal têm dificuldade em explicar as razões que os levam a exigir ao governo de Atenas que cumpra algumas medidas que Lisboa também ignorou em todo este processo. A reforma da administração pública e o dossier privatizações são apenas alguns exemplos do incumprimento português do memorando de entendimento. 

Podemos estar perante uma variante desconhecida da síndrome de Estocolmo, aplicada a um país que, submetido a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade pelo seu agressor. Mas, no caso de Portugal, o mais certo é que se trate apenas de uma tentativa de se fazer passar por bom aluno para agradar a Bruxelas, ao mesmo tempo que se procura esconder as debilidades estruturais.

O pior é que nessa tentativa desesperada de nos colarmos ao pelotão da frente acabamos por perder a nossa verdadeira identidade de nação justa, genuinamente inclusiva, tolerante e solidária. Ao colocar-se em bicos dos pés, na ânsia de agradar a Berlim e aos seus aliados, o Governo de Lisboa olha para o lado e finge não ver Atenas. Será por receio de que, em algum momento, venha a ser confrontado com o seu próprio reflexo algures no espelho grego? 

A Grécia dificilmente escapa do pesadelo em que vive a menos que esteja disponível para eliminar o governo do Syriza e devolver o poder aos partidos amigos de Bruxelas.

A saída do euro e o regresso ao Dracma teria um preço mais elevado e, ao mesmo tempo, o fracasso da esquerda radical seria a cereja no topo do bolo da estratégia punitiva imposta pela ‘troika'. Seria a demonstração de que não existem caminhos alternativos à austeridade e, em simultâneo, seria travado o efeito de contágio de um eventual sucesso do actual governo grego. 

A liderança europeia saberá recompensar os novos donos do poder em Atenas e encontrará formas de aliviar o cinto. Antes de voltar a apertar.

00:05 h
Fausto Coutinho
Económico
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