FMI: polícia mau agora, polícia bom em breve

Já se sabia que a proposta grega, que depende em quase 100% este ano de aumentos da carga fiscal e contributiva, não colhia adeptos no FMI e em várias capitais europeias, como Berlim.

Mas poucos esperavam que a troika apresentasse as propostas gregas completamente rasuradas a vermelho. 

Com o tempo disponível é impossível chegar a um acordo que se aproxime da versão da troika. Quer o FMI, quer a Alemanha sabem disto. Dado que a pressão para um acordo que mantenha a Grécia no euro é grande - e dado que a margem de Tsipras para desfigurar a sua já impopular proposta é reduzida - é previsível que se façam alguns acertos na proposta grega (menos impostos, mais cortes) e que se avance para um acordo esta semana. Previsível, não seguro. 

O FMI é o polícia mau porque a liderança de Lagarde está muito comprometida com os resgates gregos, um desastre para a credibilidade do Fundo (e a para a credibilidade da sua directora-geral). Por isso, Lagarde - que enfrenta uma eleição no Fundo em breve - aperta nas medidas. Esta posição significará, em breve, que o FMI será o polícia bom: Lagarde quer que a Europa resolva o problema da sustentabilidade da dívida grega e que aceite reestruturar. Nessa altura, o Fundo será o melhor amigo da causa de Tsipras e Varoufakis - causa que tem pouco apoio em Bruxelas e nas capitais europeias, que aceitam algumas cedências nos prazos e nas taxas, mas não querem ouvir falar de perdas nominais. Apertados entre a política do FMI, a política dos líderes europeus e a política do governo de Tsipras, os gregos prosseguirão a sua via sacra.

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Económico