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Um problema maior
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Um problema maior
O método escolhido pelo governo para terminar abruptamente a vida do BES, chutando para o Banco de Portugal a responsabilidade de encontrar uma saída airosa, vai continuar a dividir o país durante muito tempo. A eutanásia financeira praticada sobre um banco e uma marca com quase 150 anos de história provocou perplexidade, apesar de ter evitado o bail-in direto dos contribuintes, o que em parte serve de atenuante para o valor destruído. Mas o balanço final da operação conduzida pelo governador Carlos Costa dependerá, em grande medida, do desfecho da venda do Novo Banco.
Nestes meses de trabalho, a administração de Eduardo Stock da Cunha, do pouco que se sabe, fez o que era possível fazer. Estancou a hemorragia de clientes e depositantes. Pôs fim à guerrilha interna que despejava para a praça pública todo o género de informações e ajustes de contas que desvalorizavam um negócio ainda com muito a dar. E de certa forma até ajudou a economia portuguesa, restabelecendo normalidade e confiança na relação entre o banco e as empresas.
Onze meses depois deste naufrágio pilotado do Banco Espírito Santo, Eduardo Stock da Cunha só não conseguiu resolver o pântano do papel comercial, apesar de o ter procurado fazer com propostas concretas. Mas o descascar dessa cebola está inteiramente nas mãos do Banco de Portugal. É ao governador que os investidores lesados têm de pedir contas, embora também o devam fazer à CMVM. Aos tribunais caberá justamente a última palavra.
Quanto à venda do Novo Banco, a responsabilidade pela escolha do vencedor cairá nos ombros do governador. Na terça-feira ficou a saber-se que há três candidatos. É melhor haver três do que dois interessados, sempre pode ajudar a fazer subir o preço, mas não é só a quantidade que deve ser tida em conta. A qualidade do comprador também será relevante. O valor do encaixe é importante para não enfraquecer - sobrecarregar - o já debilitado sistema financeiro nacional, forçado a pagar esta conta, mas é curto como principal critério de uma decisão com óbvios efeitos sistémicos e ampla margem de erro.
O que está sobre a mesa é, portanto, a oferta de um fundo de investimento americano (Apollo) e de dois grupos chineses. Nenhum deles é um banco, o que representa um risco para a estabilidade de uma operação estratégica para Portugal. Acresce que há dois conglomerados chineses na corrida. Como é sabido, o setor bancário da China é conhecido pelas más práticas e pela opacidade. De certa forma pode dizer-se que não faltam BES na China, embora quase sempre salvos in extremis pela longa mão do Estado. É isso que vai acontecer ao Novo Banco se for vendido à Fosun ou ao Anbang Insurance Group?
Carlos Costa tem de responder a estas dúvidas. Temos de saber como as avalia. Não chega fazê-lo através de comunicados burocráticos, como se o assunto fosse evidente ou de rotina. Tem ainda de mostrar o retrato preciso do banco hoje, as contas do primeiro semestre, o que mudou e tem ainda de mudar na organização (na governance), para que a história não se repita, desta vez como segunda parte da farsa. No fundo a questão é esta: não se resolve um grande problema importando um ainda maior. Como diz um provérbio chinês, quem tem pressa come cru.
por ANDRÉ MACEDO
01.07.2015
Diário de Notícias
Nestes meses de trabalho, a administração de Eduardo Stock da Cunha, do pouco que se sabe, fez o que era possível fazer. Estancou a hemorragia de clientes e depositantes. Pôs fim à guerrilha interna que despejava para a praça pública todo o género de informações e ajustes de contas que desvalorizavam um negócio ainda com muito a dar. E de certa forma até ajudou a economia portuguesa, restabelecendo normalidade e confiança na relação entre o banco e as empresas.
Onze meses depois deste naufrágio pilotado do Banco Espírito Santo, Eduardo Stock da Cunha só não conseguiu resolver o pântano do papel comercial, apesar de o ter procurado fazer com propostas concretas. Mas o descascar dessa cebola está inteiramente nas mãos do Banco de Portugal. É ao governador que os investidores lesados têm de pedir contas, embora também o devam fazer à CMVM. Aos tribunais caberá justamente a última palavra.
Quanto à venda do Novo Banco, a responsabilidade pela escolha do vencedor cairá nos ombros do governador. Na terça-feira ficou a saber-se que há três candidatos. É melhor haver três do que dois interessados, sempre pode ajudar a fazer subir o preço, mas não é só a quantidade que deve ser tida em conta. A qualidade do comprador também será relevante. O valor do encaixe é importante para não enfraquecer - sobrecarregar - o já debilitado sistema financeiro nacional, forçado a pagar esta conta, mas é curto como principal critério de uma decisão com óbvios efeitos sistémicos e ampla margem de erro.
O que está sobre a mesa é, portanto, a oferta de um fundo de investimento americano (Apollo) e de dois grupos chineses. Nenhum deles é um banco, o que representa um risco para a estabilidade de uma operação estratégica para Portugal. Acresce que há dois conglomerados chineses na corrida. Como é sabido, o setor bancário da China é conhecido pelas más práticas e pela opacidade. De certa forma pode dizer-se que não faltam BES na China, embora quase sempre salvos in extremis pela longa mão do Estado. É isso que vai acontecer ao Novo Banco se for vendido à Fosun ou ao Anbang Insurance Group?
Carlos Costa tem de responder a estas dúvidas. Temos de saber como as avalia. Não chega fazê-lo através de comunicados burocráticos, como se o assunto fosse evidente ou de rotina. Tem ainda de mostrar o retrato preciso do banco hoje, as contas do primeiro semestre, o que mudou e tem ainda de mudar na organização (na governance), para que a história não se repita, desta vez como segunda parte da farsa. No fundo a questão é esta: não se resolve um grande problema importando um ainda maior. Como diz um provérbio chinês, quem tem pressa come cru.
por ANDRÉ MACEDO
01.07.2015
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