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Mensagem por Admin Qui Jul 02, 2015 10:14 am

O método escolhido pelo governo para terminar abruptamente a vida do BES, chutando para o Banco de Portugal a responsabilidade de encontrar uma saída airosa, vai continuar a dividir o país durante muito tempo. A eutanásia financeira praticada sobre um banco e uma marca com quase 150 anos de história provocou perplexidade, apesar de ter evitado o bail-in direto dos contribuintes, o que em parte serve de atenuante para o valor destruído. Mas o balanço final da operação conduzida pelo governador Carlos Costa dependerá, em grande medida, do desfecho da venda do Novo Banco.

Nestes meses de trabalho, a administração de Eduardo Stock da Cunha, do pouco que se sabe, fez o que era possível fazer. Estancou a hemorragia de clientes e depositantes. Pôs fim à guerrilha interna que despejava para a praça pública todo o género de informações e ajustes de contas que desvalorizavam um negócio ainda com muito a dar. E de certa forma até ajudou a economia portuguesa, restabelecendo normalidade e confiança na relação entre o banco e as empresas.

Onze meses depois deste naufrágio pilotado do Banco Espírito Santo, Eduardo Stock da Cunha só não conseguiu resolver o pântano do papel comercial, apesar de o ter procurado fazer com propostas concretas. Mas o descascar dessa cebola está inteiramente nas mãos do Banco de Portugal. É ao governador que os investidores lesados têm de pedir contas, embora também o devam fazer à CMVM. Aos tribunais caberá justamente a última palavra.

Quanto à venda do Novo Banco, a responsabilidade pela escolha do vencedor cairá nos ombros do governador. Na terça-feira ficou a saber-se que há três candidatos. É melhor haver três do que dois interessados, sempre pode ajudar a fazer subir o preço, mas não é só a quantidade que deve ser tida em conta. A qualidade do comprador também será relevante. O valor do encaixe é importante para não enfraquecer - sobrecarregar - o já debilitado sistema financeiro nacional, forçado a pagar esta conta, mas é curto como principal critério de uma decisão com óbvios efeitos sistémicos e ampla margem de erro.

O que está sobre a mesa é, portanto, a oferta de um fundo de investimento americano (Apollo) e de dois grupos chineses. Nenhum deles é um banco, o que representa um risco para a estabilidade de uma operação estratégica para Portugal. Acresce que há dois conglomerados chineses na corrida. Como é sabido, o setor bancário da China é conhecido pelas más práticas e pela opacidade. De certa forma pode dizer-se que não faltam BES na China, embora quase sempre salvos in extremis pela longa mão do Estado. É isso que vai acontecer ao Novo Banco se for vendido à Fosun ou ao Anbang Insurance Group?

Carlos Costa tem de responder a estas dúvidas. Temos de saber como as avalia. Não chega fazê-lo através de comunicados burocráticos, como se o assunto fosse evidente ou de rotina. Tem ainda de mostrar o retrato preciso do banco hoje, as contas do primeiro semestre, o que mudou e tem ainda de mudar na organização (na governance), para que a história não se repita, desta vez como segunda parte da farsa. No fundo a questão é esta: não se resolve um grande problema importando um ainda maior. Como diz um provérbio chinês, quem tem pressa come cru.

por ANDRÉ MACEDO
01.07.2015
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