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Mensagem por Admin Sáb Jul 18, 2015 11:24 am

Ficou célebre o arrependimento de Robert Oppenheimer por ter construído a bomba que os Estados Unidos usaram para derrotar o Japão e acabar a Segunda Guerra Mundial. "Tornei-me a Morte, a destruidora de Mundos", terá dito o cientista, citando um épico hindu, quando assistiu à explosão a 16 de julho de 1945 que serviu de teste para Hiroxima e Nagasáqui, que aconteceriam menos de um mês depois. Seja graças ao alerta de Oppenheimer, ao humanismo dos governantes ou simplesmente ao medo da autodestruição a verdade é que nestes 70 anos nunca mais voltaram a ser usadas as bombas atómicas. E conseguiu-se que as potências nucleares não chegassem à dezena, isto incluindo Israel, que nunca assumiu o estatuto, exceto numa gaffe em 2006 do então primeiro-ministro Olmert.

Com o acordo em Viena com as seis potências (não por acaso, os cinco do clube nuclear oficial mais a Alemanha - o P5+1) o Irão renuncia à ambição de se dotar da mais destrutiva das armas. Aceitando reduzir as capacidades já instaladas e acolher inspeções, o Irão compromete-se a usar o nuclear apenas para fins civis. Ora, mesmo conseguido graças a sanções duríssimas que afetaram a exportação de petróleo, este êxito diplomático tem óbvias razões para ser celebrado.

No contexto geopolítico do Médio Oriente, onde se assiste a uma guerra mal disfarçada entre muçulmanos sunitas e xiitas que envolve o Irão em múltiplas frentes, a arma nuclear era uma tentação óbvia. A isso acresce que um tradicional inimigo do regime dos ayatollahs, Israel, é já senhor de armas nucleares (o que mesmo assim não tranquiliza o primeiro-ministro Netanyahu). E sublinhe-se que na fronteira leste há um vizinho, o Paquistão, que conseguiu tornar-se uma potência nuclear apesar de todas as ameaças e sanções. Denominada pela imprensa internacional de "bomba islâmica" não sem chauvinismo, a capacidade nuclear paquistanesa continua.

Vale a pena um olhar breve para a história da bomba nuclear. Se em 1945 esta era monopólio dos Estados Unidos, duas décadas depois tinha passado a estar na posse de cinco países, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que se tornaram também as potências nucleares oficiais até hoje - Estados Unidos, União Soviética/Rússia, China, Grã-Bretanha e França. Britânicos e franceses, embora com número reduzido de ogivas, fizeram questão de não depender na Guerra Fria da solidariedade americana; enquanto a China, última a armar-se, em 1964, viu o conflito ideológico dentro do Bloco Comunista aconselhá-la a criar o seu próprio arsenal.

Oficializado o restrito clube nuclear em 1970 com a entrada em vigor do Tratado de Não Proliferação (TNP), confiou-se na diplomacia para limitar a capacidade destrutiva denunciada por Oppenheimer, judeu que terá morrido de consciência pesada apesar de o projeto Manhattan ter tido como incentivo derrotar os nazis na corrida ao átomo.

E assim tem sido um sucesso relativo o do TNP. Sabe-se que as ditaduras brasileira e argentina se esforçaram no final dos anos 1970 por obter armas nucleares (sem lá chegar) e que a África do Sul, na transição do apartheid para o multipartidarismo, destruiu o arsenal que terá acumulado com a ajuda dos israelitas.

Outros suspeitos de candidatura ao nuclear como a Líbia de Kadhafi desistiram para evitar um destino como o do Iraque de Saddam, atacado pelos Estados Unidos com o pretexto de possuir armas de destruição maciça (químicas e biológicas, note-se). E há o caso especial da Ucrânia, que na era soviética tinha armas nucleares mas concordou, após a desagregação de 1991, que nisso a Rússia seria a única herdeira.

Centremo-nos, pois, nos quatro países que recusam até hoje o TNP e que uns tenham mais direito ao nuclear que outros: Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte. Deles, Israel terá sido o mais precoce, logo na década de 1960, a conseguir a arma nuclear, mas com um tal secretismo que as suspeitas só se concretizaram quando em 1986 um antigo técnico na central de Dimona, Mordechai Vanunu, entregou documentos ao Sunday Times.

Já a Índia, desde 1974 que se percebia que tinha alcançado o estatuto nuclear, depois de um ensaio no deserto do Rajastão, com o nome de código "Buda Sorridente". Mas a confirmação chegou em 1998, quando efetuou novo teste. 

E, de forma surpreendente, o Paquistão respondeu com uma série de ensaios que confirmou a Ásia do Sul como foco de tensão nuclear; o que não é de somenos se pensarmos que Paquistão e Índia já travaram três guerras. Sanções foram logo decretadas, a começar pelos Estados Unidos, mas três anos depois os atentados do 11 de Setembro obrigaram a garantir o apoio contra os santuários da Al-Qaeda no Afeganistão e chegou a era da benevolência.

Terá sido até o pai do programa nuclear paquistanês, Khan, a traficar a tecnologia para a Coreia do Norte, que fez o primeiro teste em 2006. Apesar das sanções durarem desde então, o nuclear acaba por ser o garante da sobrevivência da dinastia Kim.

Ora, este papel do nuclear na defesa dos regimes incómodos para as potências será uma das explicações da vontade iraniana de dotar-se da tecnologia. A somar-se ao nacionalismo persa.

Kerry, chefe da diplomacia americana, disse que o Irão, que estava a três meses de poder fabricar uma bomba, passa a necessitar de um ano, caso desrespeite o compromisso internacional. Pode não ser suficiente para tranquilizar a Arábia Saudita. Talvez venha a haver a "bomba árabe", para desgosto de Oppenheimer e desrespeito do TNP.

por LEONÍDIO PAULO FERREIRA
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