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Encomendas e amor próprio
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Encomendas e amor próprio
Há aqui qualquer coisa de errado, que tem a ver desde o brio de patriota até às regras mais básicas da gestão de stocks, passando, seguramente, pela eficácia e pela racionalidade económica.
Em certos aspetos, os portugueses têm aceitado situações próprias de países de terceiro mundo. Cada vez mais, quando vamos pôr o carro a arranjar, ou quando fazemos uma obra em casa, ou quando se avaria uma aparelhagem, ou quando encomendamos uma peça num grande armazém, cada vez mais ouvimos dizer que "ah, temos de mandar vir da Alemanha, de França", ou até, vergonha das vergonhas, "temos de mandar vir de Espanha". Isto não acontecia aqui há alguns anos. Lembro-me do tempo em que se discutia muito a possibilidade das multinacionais de transferirem as suas sedes de Lisboa para Madrid ou, noutros casos, em vez de terem naquelas duas cidades, passarem a ter só na capital espanhola.
Depois os anos foram passando e começaram a chegar à conclusão, com resultados empíricos, de que era pouco vantajoso, pouco prático e até mais caro. Lembro-me de algumas encomendas em grandes superfícies terem de ser feitas para os escritórios em Madrid.
Aqui há alguns anos aconteceu-me - e cheguei a escrever sobre isso - que para substituir os pneus de um carro que tinha repetia-se a mesma cena: tinha de vir de Espanha porque não havia pneus em Portugal. E como o carro passava a vida a precisar de pneus, já que era um sistema novo sem câmara de ar, que estava sempre a rebentar, acabava por passar o tempo todo na garagem, precisamente porque não havia pneus…. É um género Burundi.
Falo com conhecimento de causa recente: ainda na semana passada, um carro de um familiar foi à marca para uma reparação e foi preciso esperar para o arranjo de substituição de embraiagem, de modo que as peças viessem de Espanha.
Sinceramente, penso que não se justifica num país da União Europeia. Há aqui qualquer coisa de errado, que tem a ver desde o brio de patriota até às regras mais básicas da gestão de stocks, passando, seguramente, pela eficácia e pela racionalidade económica.
Uma questão como esta pode parecer de pormenor ou mero detalhe. Mas está enganado quem assim pensa. E, sinceramente, estou convencido de que o Ministério da Economia devia ter algumas conversas com as empresas portuguesas ou sediadas em Portugal que agem deste modo. Ainda por cima, a propósito de automóveis, somos um país com um setor de construção automóvel bastante considerável e com um peso significativo na indústria nacional. Se fôssemos um país que não andasse de carro, que não produzisse carros, das mais variadas gamas, se não fabricássemos peças para essas mesmas viaturas - e temos muitas fábricas na área dos moldes e dos plásticos para os veículos automóveis, (nomeadamente na Figueira da Foz) era outra coisa… Portanto, volto a dizer, indo ao mais básico: provavelmente tem a ver só com uma boa gestão provisional de stocks disponíveis face aos balanços de anos anteriores.
Agora, será admissível estar-se a encomendar peças ou roupa, ou embraiagem, ou caixas de frigorífico, ou ferramentas, ou componentes agrícolas, etc., de cada vez que uma pessoa vai à loja ou à oficina de uma marca estrangeira.
É normal acontecer nalguns países africanos ou menos desenvolvidos, agora num país que está há quinze anos na moeda única e há trinta na UE, não faz qualquer sentido.
Em nada na vida nos devemos rebaixar a não ser perante símbolos da religião que professamos ou perante a bandeira nacional. E aí não se trata de nos rebaixarmos, mas de nos curvarmos respeitosamente. Rebaixar, nunca e, sinceramente, cada vez que ouço isso do "temos de mandar vir de…", confesso que me incomoda bastante.
Advogado
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
29 Julho 2015, 21:05 por Pedro Santana Lopes
Negócios
Em certos aspetos, os portugueses têm aceitado situações próprias de países de terceiro mundo. Cada vez mais, quando vamos pôr o carro a arranjar, ou quando fazemos uma obra em casa, ou quando se avaria uma aparelhagem, ou quando encomendamos uma peça num grande armazém, cada vez mais ouvimos dizer que "ah, temos de mandar vir da Alemanha, de França", ou até, vergonha das vergonhas, "temos de mandar vir de Espanha". Isto não acontecia aqui há alguns anos. Lembro-me do tempo em que se discutia muito a possibilidade das multinacionais de transferirem as suas sedes de Lisboa para Madrid ou, noutros casos, em vez de terem naquelas duas cidades, passarem a ter só na capital espanhola.
Depois os anos foram passando e começaram a chegar à conclusão, com resultados empíricos, de que era pouco vantajoso, pouco prático e até mais caro. Lembro-me de algumas encomendas em grandes superfícies terem de ser feitas para os escritórios em Madrid.
Aqui há alguns anos aconteceu-me - e cheguei a escrever sobre isso - que para substituir os pneus de um carro que tinha repetia-se a mesma cena: tinha de vir de Espanha porque não havia pneus em Portugal. E como o carro passava a vida a precisar de pneus, já que era um sistema novo sem câmara de ar, que estava sempre a rebentar, acabava por passar o tempo todo na garagem, precisamente porque não havia pneus…. É um género Burundi.
Falo com conhecimento de causa recente: ainda na semana passada, um carro de um familiar foi à marca para uma reparação e foi preciso esperar para o arranjo de substituição de embraiagem, de modo que as peças viessem de Espanha.
Sinceramente, penso que não se justifica num país da União Europeia. Há aqui qualquer coisa de errado, que tem a ver desde o brio de patriota até às regras mais básicas da gestão de stocks, passando, seguramente, pela eficácia e pela racionalidade económica.
Uma questão como esta pode parecer de pormenor ou mero detalhe. Mas está enganado quem assim pensa. E, sinceramente, estou convencido de que o Ministério da Economia devia ter algumas conversas com as empresas portuguesas ou sediadas em Portugal que agem deste modo. Ainda por cima, a propósito de automóveis, somos um país com um setor de construção automóvel bastante considerável e com um peso significativo na indústria nacional. Se fôssemos um país que não andasse de carro, que não produzisse carros, das mais variadas gamas, se não fabricássemos peças para essas mesmas viaturas - e temos muitas fábricas na área dos moldes e dos plásticos para os veículos automóveis, (nomeadamente na Figueira da Foz) era outra coisa… Portanto, volto a dizer, indo ao mais básico: provavelmente tem a ver só com uma boa gestão provisional de stocks disponíveis face aos balanços de anos anteriores.
Agora, será admissível estar-se a encomendar peças ou roupa, ou embraiagem, ou caixas de frigorífico, ou ferramentas, ou componentes agrícolas, etc., de cada vez que uma pessoa vai à loja ou à oficina de uma marca estrangeira.
É normal acontecer nalguns países africanos ou menos desenvolvidos, agora num país que está há quinze anos na moeda única e há trinta na UE, não faz qualquer sentido.
Em nada na vida nos devemos rebaixar a não ser perante símbolos da religião que professamos ou perante a bandeira nacional. E aí não se trata de nos rebaixarmos, mas de nos curvarmos respeitosamente. Rebaixar, nunca e, sinceramente, cada vez que ouço isso do "temos de mandar vir de…", confesso que me incomoda bastante.
Advogado
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
29 Julho 2015, 21:05 por Pedro Santana Lopes
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