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“Beja é o fiel testemunho de uma história riquíssima”
Olhar Sines no Futuro :: Categoria :: Portugal :: Alentejo
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“Beja é o fiel testemunho de uma história riquíssima”
Figura de referência do panorama musical internacional, Ismael Fernández de la Cuesta foi catedrático no Real Conservatório de Madrid e desempenha atualmente o cargo de vice-diretor da Real Academia de Bellas Artes de San Fernando. Deve-se-lhe, como cantor e como musicólogo, o golpe de asa que, a partir de Nova Iorque, colocou o canto gregoriano no top mundial de vendas. Durante uma visita ao Alentejo, onde veio receber o Prémio Internacional Terras Sem Sombra, quis conhecer o espólio musical das nossas igrejas históricas. Encontrou surpresas inesperadas que prometem dar que falar.
Examinou recentemente, com José António Falcão, os fundos musicais dos antigos conventos e mosteiros de Beja, guardados no Arquivo Distrital. Que impressão lhe causou estas obras?
Os fundos musicais antigos que pude analisar, todos eles de procedência litúrgica, merecem atenção. Entre os mais antigos, distingue-se uma série de bifólios pergamináceos com notação musical que servem de envoltórios a documentos da Câmara de Beja. Estes bifólios situam-se entre os séculos XIV e XV e constituem interessantes fragmentos de um Antiphonarium Officii, ou de um Matutinarium, pois contêm vestígios dos Noturnos das Festividades dos Santos. Encontram-se em mau estado, pelo que será oportuno retirá-los da função de involucrar outros manuscritos e proceder ao seu restauro. Observei igualmente vários livros corais, isto é, grandes volumes de cantochão, destinados às estantes monumentais dos coros, para uso das capelas corais. São oriundos do convento bejense da Conceição e contêm as peças de canto gregoriano ou chão da Missa para as mais importantes solenidades litúrgicas do ano. Despertou-me especial interesse um nada vulgar Kyriale, com as peças do Ordinário da Missa em canto figurado: Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei.
Algumas destas composições poderão vir a ser interpretadas, por exemplo numa próxima edição do Festival Terras Sem Sombra?
Os fragmentos medievais que tive oportunidade de estudar dizem respeito a peças do fundo geral romano. As obras dos livros corais de grande formato pertencem igualmente a esse fundo geral, com exceção do Kyriale, mas não constam do Antifonário romano, atualmente em uso, pelo que podemos presumir que eram particulares das igrejas de Beja, como costumava acontecer em outras localidades importantes. Sem dúvida que algumas destas belas peças poderão ser interpretadas, como próprias da região, numa próxima temporada do Terras sem Sombra.
Que sentimento leva do Baixo Alentejo?
Não conhecia esta zona, nem a sua capital. Beja afigura-se-me uma cidade que, pelo urbanismo, pelos monumentos e, sobretudo, pelos habitantes, é o fiel testemunho de uma história riquíssima. Outras terras, como Sines, castro Verde ou Grândola, confirmaram a impressão que já possuía do Alentejo, moldada durante as minhas sucessivas visitas a Évora e respetiva envolvente, por ocasião dos encontros luso--espanhóis de musicologia, quando tive a honra de presidir à Sociedad Española de Musicología. Beja revela uma idiossincrasia específica.
É um bom conhecedor do panorama musical em Espanha e no mundo e tem acompanhado muitos festivais. Há alguma coisa de diferente no que se está a fazer entre nós?
Existem centenas os festivais de música em todo o globo, cada um procurando afirmar a própria marca, nem sempre com real interesse. O Terras Sem Sombra tem, no meu entender, uma personalidade vincada e que não se reduz a uma só nota. Há que destacar a sua ligação ao território e às comunidades, pois é muito mais do que um ciclo de eventos concentrados numa cidade e percorre várias unidades de paisagem, todas elas pujantes. Além disso, valoriza a recuperação e a apresentação do património musical português junto do público alentejano, um dado fundamental.
Parece-me notável o facto, absolutamente pioneiro, de que a associação da música com a região derive para uma salvaguarda da rica, mas algo ameaçada ,biodiversidade da Europa do Sul. Sempre defendi que a música, pela sua natureza efémera enquanto arte, nasce, morre e ressuscita graças à intervenção dos seres humanos que são os intérpretes, tal como sucede com a vida no planeta Terra. O que se está a fazer aqui escreve uma página diferente na história dos festivais.
Como é, hoje, a vida profissional de um músico em Espanha?
A vida de um profissional da arte, em Espanha, como em quase todas as partes do mundo, é complicada. Hoje, medem-se todas as atividades humanas em termos económicos, mas a música não pode entrar nestes parâmetros. A música, que agora – mais do que nunca – está presente em todos os âmbitos da sociedade e da vida quotidiana, só é vista como um produto dotado de real valor económico quando se fala da sua difusão fonográfica. Um erro colossal: apesar da extraordinária imagem sonora que define a época atual, não se dá o devido reconhecimento aos protagonistas do facto musical, especialmente os compositores e os intérpretes. Porém, sem eles, seria impossível colocar a música “no ar”, em direto ou através de gravações. Ou mudamos este paradigma ou arriscamo-nos a não sair da rotina de uma música comercial, sempre dirigida pelas cotações do mercado, o que é empobrecedor.
Por Ana Santos
10:50
Diário do Alentejo
http://da.ambaal.pt/
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