Siga a fila

Os turistas que nos procuram não querem só tuk-tuks. Diga-se o que se quiser: que Portugal está na moda, que os estrangeiros foram desviados do Norte de África, que são enchentes de pés descalços. Portugal afirmou-se nos últimos anos como destino turístico com uma oferta de qualidade, diversificada, que atrai todo o tipo de clientes. No ano passado, passaram por cá quase tantos turistas quantos os portugueses que aqui vivem. E não foi decerto a comer sanduíches feitas em casa, a acampar na praia e a andar à boleia que cá deixaram mais de dez mil milhões de euros. Não foram os miúdos de mochila às costas que dormem no primeiro sofá disponível e só querem saber de copos, praia e festivais que contribuíram para os melhores resultados de sempre nos museus, palácios e monumentos. As receitas até junho foram de seis milhões de euros, 60% acima das registadas no ano passado, e dois terços dos visitantes eram estrangeiros. 

Há quem não goste de ter o trânsito entupido, de ver a sua esplanada preferida inundada, de encontrar as zonas mais bonitas da cidade a deitar por fora de estrangeiros de iPhone em punho a registar tudo - imagino que não viajam ou que, se o fazem, no mínimo deixem à saída as suas desculpas aos que lá vivem. Mas mesmo esses, para quem é sobretudo incómodo ter o país cheio de turistas, terão de entender que esta área sacudiu - ajudou brutalmente a recuperar - a nossa economia. Veja-se os números aqui expostos. Mas este reconhecimento de Portugal lá fora que atrai cada vez mais pessoas aqui também pode ter um outro papel importante: ajudar-nos a ver o que o país tem de melhor, de mais bonito, de mais rico. Como os museus, monumentos e palácios que estão mesmo aqui ao lado mas nós já nem vemos. Talvez agora os portugueses os redescubram. Basta que sigam as filas de turistas.

por JOANA PETIZ
Diário de Notícias