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Na primeira fila da história
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Na primeira fila da história
Para a minha geração, nascida no final dos anos 1960, sempre foi difícil imaginar como Hitler, Mussolini, Franco ou Salazar chegaram ao poder, e por lá se mantiveram por muitos e maus anos. Lembro-me de discutir o tema, em longas e inflamadas conversas de amigos, entre liceu e faculdade. Fomos crescendo, o país mudou, o acesso à informação aumentou, as fontes e as teses diversificaram--se, mas, por muita teoria que lêssemos, o início e o fim de cada conversa era sempre o mesmo: "Mas como foi possível?!" Não estávamos lá. Historiadores e biógrafos ajudavam, mas era curto.
Pois bem, agora estamos aqui, a dois dias das eleições norte-americanas, e Donald Trump ainda sobrevive como candidato. As sondagens mostram uma estabilização da vantagem de Hillary Clinton, mas, mesmo num cenário de vitória da candidata democrata, o facto é que Trump conseguiu seduzir milhões de eleitores.
No início do ano, na Carolina do Sul, durante as primárias, vi como em pouco mais de uma semana Trump deixou de ser um mero elemento decorativo nesta eleição. Ali, no Sul dos Estados Unidos, senti algo de familiar. O mesmo despeito e desrespeito pela política e pelos políticos que podemos encontrar à mesa de qualquer café ou restaurante em Portugal, mas com uma diferença de grau. Há por lá uma indiferença inquietante em relação a factos e argumentos racionais, um quase ódio a Washington, e uma espécie de vertigem revolucionária. Sim, Bernie Sanders foi o único a usar a palavra, mas é disso mesmo que se trata. Um impulso de mudança. Hoje no DN, contamos-lhe o estado de prontidão de diversas milícias e grupos paramilitares de extrema-direita nos Estados Unidos. Estão preparados para vigiar a eleição, e defender a segunda emenda.
Não sei se chega a explicação de que há um exército de deserdados da globalização, como me contava há dias o politólogo Pedro Magalhães, e os sinais não apontam para uma doença passageira das democracias ocidentais. É algo de mais profundo. O certo é que, ganhe Hillary ou Trump, vamos viver sobressaltos semelhantes na Europa no próximo ano, com eleições em França e na Alemanha, e um referendo em Itália. A democracia dá trabalho, e andamos distraídos.
06 DE NOVEMBRO DE 2016
00:01
Paulo Tavares
Diário de Notícias
Pois bem, agora estamos aqui, a dois dias das eleições norte-americanas, e Donald Trump ainda sobrevive como candidato. As sondagens mostram uma estabilização da vantagem de Hillary Clinton, mas, mesmo num cenário de vitória da candidata democrata, o facto é que Trump conseguiu seduzir milhões de eleitores.
No início do ano, na Carolina do Sul, durante as primárias, vi como em pouco mais de uma semana Trump deixou de ser um mero elemento decorativo nesta eleição. Ali, no Sul dos Estados Unidos, senti algo de familiar. O mesmo despeito e desrespeito pela política e pelos políticos que podemos encontrar à mesa de qualquer café ou restaurante em Portugal, mas com uma diferença de grau. Há por lá uma indiferença inquietante em relação a factos e argumentos racionais, um quase ódio a Washington, e uma espécie de vertigem revolucionária. Sim, Bernie Sanders foi o único a usar a palavra, mas é disso mesmo que se trata. Um impulso de mudança. Hoje no DN, contamos-lhe o estado de prontidão de diversas milícias e grupos paramilitares de extrema-direita nos Estados Unidos. Estão preparados para vigiar a eleição, e defender a segunda emenda.
Não sei se chega a explicação de que há um exército de deserdados da globalização, como me contava há dias o politólogo Pedro Magalhães, e os sinais não apontam para uma doença passageira das democracias ocidentais. É algo de mais profundo. O certo é que, ganhe Hillary ou Trump, vamos viver sobressaltos semelhantes na Europa no próximo ano, com eleições em França e na Alemanha, e um referendo em Itália. A democracia dá trabalho, e andamos distraídos.
06 DE NOVEMBRO DE 2016
00:01
Paulo Tavares
Diário de Notícias
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