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A democracia é baratucha
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A democracia é baratucha
É tão certo como o destino ou eu ser careca: entra-se em período eleitoral e logo surgem textos a falar dos custos da democracia. É como o primeiro domingo em que faz calor, têm que se filmar as praias cheias; ou a invasão do Algarve e as filas na autoestrada; ou o primeiro dia de aulas; ou as compras de Natal; ou as primeiras chuvadas com mais de três canalizações entupidas. Nunca falha.
Por causa das dúvidas, e depois de ontem ler um artigo sobre o tópico neste jornal, fui googlar. A convicção empírica ganhou logo estatuto de tese científica. De facto, estes textos são às manadas, sempre com a mesma conclusão: a nossa democracia é caríssima.
Cada voto, parece, custa três euros. A mim parece-me coisa pindérica. São excessivos 30 milhões de euros para um povo decidir? Sim, de facto é muito dinheiro.
Mas a premissa do muito dinheiro só não será ridícula se não houver despesas inaceitáveis (e há-as aos magotes no dia a dia). E só não será patética se forem demonstradas duas outras coisas. A primeira, que a democracia se esgota no processo eleitoral (e não, claro). A segunda, a de que a ausência de eleições é mais eficiente do ponto de vista económico-financeiro (e não é).
Por falar de dispêndios "comparáveis", abro um jornal e leio que o Estado, que nunca me foi apresentado, paga 12 milhões de euros por edifícios que não usa. Ora bem, aqueles desgraçados que estão nas mesas de voto durante um dia inteiro e que admiro cada vez mais, porque cada vez menos me sentiria capaz de os substituir, recebem pela tarefa a enorme parvoíce de 50 euros. Tudo somado, três milhões de euros. A democracia é uma amante cara, como antes se dizia? Haja paciência...
Aliás, espera aí... Se o Estado, o tal Estado, conseguisse a proeza extraordinária de só pagar por imóveis que efetivamente utiliza, esse desperdício anual cobria a despesa de quatro atos eleitorais de todas aquelas pessoas que estão nas mesas de voto?
Deve escrutinar-se cada euro público gasto no funcionamento da democracia? Sem dúvida.
Mas, pelo menos, falemos a sério do que custa cada eleição quando conseguirmos falar sem corar do que nos custou, muito democraticamente, o BPN. Porque, senão, é como criticar as maminhas com que deparámos numa revista enquanto vemos gulosamente um filme porno.
*PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
30.08.2015
AZEREDO LOPES
Jornal de Notícias
Por causa das dúvidas, e depois de ontem ler um artigo sobre o tópico neste jornal, fui googlar. A convicção empírica ganhou logo estatuto de tese científica. De facto, estes textos são às manadas, sempre com a mesma conclusão: a nossa democracia é caríssima.
Cada voto, parece, custa três euros. A mim parece-me coisa pindérica. São excessivos 30 milhões de euros para um povo decidir? Sim, de facto é muito dinheiro.
Mas a premissa do muito dinheiro só não será ridícula se não houver despesas inaceitáveis (e há-as aos magotes no dia a dia). E só não será patética se forem demonstradas duas outras coisas. A primeira, que a democracia se esgota no processo eleitoral (e não, claro). A segunda, a de que a ausência de eleições é mais eficiente do ponto de vista económico-financeiro (e não é).
Por falar de dispêndios "comparáveis", abro um jornal e leio que o Estado, que nunca me foi apresentado, paga 12 milhões de euros por edifícios que não usa. Ora bem, aqueles desgraçados que estão nas mesas de voto durante um dia inteiro e que admiro cada vez mais, porque cada vez menos me sentiria capaz de os substituir, recebem pela tarefa a enorme parvoíce de 50 euros. Tudo somado, três milhões de euros. A democracia é uma amante cara, como antes se dizia? Haja paciência...
Aliás, espera aí... Se o Estado, o tal Estado, conseguisse a proeza extraordinária de só pagar por imóveis que efetivamente utiliza, esse desperdício anual cobria a despesa de quatro atos eleitorais de todas aquelas pessoas que estão nas mesas de voto?
Deve escrutinar-se cada euro público gasto no funcionamento da democracia? Sem dúvida.
Mas, pelo menos, falemos a sério do que custa cada eleição quando conseguirmos falar sem corar do que nos custou, muito democraticamente, o BPN. Porque, senão, é como criticar as maminhas com que deparámos numa revista enquanto vemos gulosamente um filme porno.
*PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
30.08.2015
AZEREDO LOPES
Jornal de Notícias
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