Turismo. Algarve com ocupação a 95%, culpa dos portugueses

Sector recupera de anos mais fracos, mas retoma total só será possível dentro de alguns anos.

Se o Algarve em Agosto servir de balão de medida para a saúde económica do país, Portugal já entrou no caminho da retoma. Os resultados consolidados da taxa de ocupação do “mês quente” do turismo algarvio só estarão fechados no final desta semana mas, ao i, o presidente da Associação dos Hotéis e Empreen-dimentos Turísticos do Algarve (AHETA) admite que esse valor rondou os 95% – uma subida de três pontos face ao ano passado.

Os turistas estrangeiros deram uma ajuda, sobretudo os do Reino Unido. Este mês “houve uma maior procura desse mercado”, refere Elidérico Viegas. Mas o verdadeiro boom aconteceu graças aos clientes que vieram de dentro de portas. “Registámos uma maior procura por parte dos turistas nacionais, com uma subida das dormidas de turistas portugueses na ordem dos 11%” em toda a região Sul do país, sublinha o responsável da AHETA. “É uma melhoria francamente positiva”, admite.

São números positivos e que têm vindo a consolidar-se nos últimos anos, mas a história recente lembra que o Algarve ainda está longe dos anos dourados. “O melhor resultado que tivemos, no que respeita à taxa média de ocupação anual, foi 2007”, recorda Elidérico. Nesse ano, o Algarve andou pelos 65% de camas ocupadas, em média.

O ano de 2015 ainda vai a pouco mais de meio e, por isso, as previsões carecem de rigor absoluto. Mas o responsável por uma das principais associações de turismo algarvio antevê “um acumulado de ocupação média na ordem dos 60%”.

Chegar aos números dos “anos de abundância” é um objectivo na mente dos responsáveis do sector hoteleiro algarvio, certos de que essa realidade não será alcançada num futuro imediato. “Os portugueses já estão a mostrar que houve alguma reposição do poder de compra, mas os números terão de subir gradualmente nos próximos anos”, antevê Elidérico.

Portugal in Nos últimos três anos, os bons resultados do turismo nacional foram hasteados como bandeira de propaganda do governo. Foi, de resto, um dos sectores com melhor prestação, mesmo – ou apesar de – em tempo de aguda contracção económica. Recentemente entrou pela “pré-pré-campanha” eleitoral dentro, com o secretário-geral do PS a defender uma melhor “redistribuição da receita pública” gerada com o turismo – mas nada de aumentar taxas nem taxinhas. Graças ao comportamento dos últimos anos, o sector ganhou nova relevância no panorama político.

Portugal com 16 milhões de turistas No início deste ano fizeram eco as notícias que davam conta de um recorde nos números do turismo de 2014. “O melhor ano de sempre” materializou-se em 16 milhões de hóspedes recebidos e 10 393 mil milhões de euros deixados pelos turistas em Portugal, uma subida de 12,4% face a 2013. Títulos que foram rapidamente seguidos do anúncio de uma expectativa: a de que este ano, 2015, se registasse nova superação.

O início de 2016 dirá se as previsões se confirmam, ainda que os primeiros meses deste ano tenham dado um sinal de crescimento face a 2014 – cenários rapidamente suavizados peloTurismo de Portugal, com o presidente, João Cotrim de Figueiredo, a sublinhar que não dava “por adquirido que 2015 vá ser um ano tão forte como foi 2014”.

Mesmo assim, cumpria-se a primeira metade do ano quando o Banco de Portugal (BdP) lançou o seu boletim económico de Junho. “Relativamente às exportações de serviços, destaque-se a manutenção de um elevado crescimento homólogo das exportações de turismo, que se situa em cerca de 15% no primeiro trimestre de 2015, em termos nominais”, pôde ler-se então no documento. Para os anos seguintes (2016 e 2017), a previsão continuava animadora, com o BdP a referir que “a evolução projectada para as exportações” nesse futuro mais próximo “inclui a manutenção de um crescimento dinâmico quer da componente de bens, quer de serviços, em particular do turismo”.

Certo é que não houve região que no ano passado tivesse ficado fora do crescimento do número de turistas, com o Alentejo à cabeça em termos absolutos. Naquela região, os 730 mil visitantes passaram 1,3 milhões de noites – mesmo assim, bastante longe ainda do Algarve, com 16,3 milhões de dormidas e 3,6 milhões de turistas. Lisboa, regiões Norte e Centro e arquipélagos somaram quase 23 milhões de visitas em conjunto.

PEDRO RAINHO
31/08/2015 10:27:42
Jornal i