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Um sistema de alerta financeiro
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Um sistema de alerta financeiro
A recente volatilidade dos mercados – tanto nas economias desenvolvidas como nas emergentes - está a mostrar, mais uma vez, o quão as agências de rating e os investidores podem errar na avaliação da vulnerabilidade económica e financeira dos países.~
As agências de rating demoram demasiado tempo a identificar riscos e a baixar a classificação dos países, enquanto os investidores se comportam como rebanhos, ignorando, muitas vezes, a acumulação de riscos antes de alterarem a marcha de forma brusca, causando oscilações exageradas no mercado.
Dada a natureza da turbulência do mercado, pode ser difícil criar um sistema de alerta precoce para tsunamis financeiros; mas o mundo precisa de um, hoje mais do que nunca. Poucas pessoas previram a crise do ‘subprime’ de 2008, o risco de ‘default’ na Zona Euro, ou a turbulência actual nos mercados financeiros em todo o mundo. Apontou-se o dedo aos políticos, bancos e instituições supranacionais. Mas as agências de notação e os analistas que calcularam mal a capacidade de reembolso dos devedores - incluindo os governos - têm passado pelos pingos da chuva.
Em princípio, as notações de risco baseiam-se em modelos estatísticos de incumprimentos passados; na prática, contudo, como ocorreram poucos ‘defaults’ nacionais, os ratings soberanos são, muitas vezes, um assunto subjectivo. Os analistas das agências de rating acompanham a evolução do país pelo qual são responsáveis e, quando necessário, viajam até lá para avaliar a situação.
Este processo significa que as classificações estão muitas vezes atrasadas, as revisões em baixa acontecem tarde demais e que, tipicamente, os países são reclassificados quando os analistas os visitam e não quando os fundamentos mudam. Além disso, as agências de rating não possuem as ferramentas necessárias para controlar factores vitais de forma consistente, tais como mudanças na inclusão social, na capacidade de inovação de um país, e no risco do balanço do sector privado.
E, ainda assim, os ratings soberanos têm uma enorme importância. Para muitos investidores, os ratings ditam onde e quanto podem investir. As classificações influenciam a quantidade de dinheiro que os bancos estão dispostos a emprestar, e quanto é que os países em desenvolvimento – e os seus cidadãos – têm de pagar para ter esses empréstimos. E dão informações às empresas que influenciam as decisões sobre com quem fazer negócios, e em que termos.
Tendo em conta os problemas com as agências de rating, investidores e reguladores reconhecem a necessidade de uma abordagem diferente. Os investidores têm tentado identificar boas alternativas – e, em grande medida, fracassaram. As avaliações de risco, tal como os spreads soberanos e os ‘credit default swaps’ reagem rapidamente (e, por vezes, de forma exagerada); mas, dado que reflectem apenas a compreensão de risco do mercado, não são um mecanismo sistemático para descobrir riscos ocultos e evitar crises. Na verdade, o aumento repentino da volatilidade do mercado sugere que são tão maus como as agências de rating a detectar os sinais de alerta precoce que indiquem problemas.
Os reguladores, por seu lado, estão agora a começar a obrigar os bancos a desenvolver os seus próprios processos internos de classificação. O problema é que poucas instituições têm as ferramentas e a experiência necessárias para fazerem isso sozinhas.
A avaliação abrangente do risco de investimento de um país requer uma análise sistemática dos recursos e fluxos das contas nacionais para avaliar todos os perigos, incluindo os riscos no sistema financeiro e na economia real, bem como questões de risco mais amplas. Como vimos nas crises recentes, a assunção privada de risco e a dívida são socializadas quando ocorre uma crise. Assim, mesmo quando os défices e as dívidas públicas são baixos, eles podem subir acentuadamente depois de estourar uma crise. Os governos que pareciam fiscalmente sólidos tornam-se, repentinamente, insolventes.
Mediante a utilização de 200 variáveis e?? factores quantitativos para classificar 174 países numa base trimestral, identificámos uma série de países onde os investidores não estão a reconhecer os riscos – nem as oportunidades.
A China é um exemplo perfeito. Os construtores, os governos locais e as empresas estatais estão severamente sobrendividadas. A China tem a força do seu balanço para socorrê-los, mas as autoridades enfrentam uma escolha: abraçar a reforma ou confiar mais uma vez na alavancagem para estimular a economia. Mesmo que a China opte pela segunda opção, vai deixar de atingir os seus objectivos de crescimento e tornar-se mais frágil ao longo do tempo.
O rating do Brasil deveria ter baixado o nível de investimento no ano passado, já que a economia enfrentou um défice orçamental crescente, uma dívida cada vez maior, e uma deterioração do ambiente de negócios. O escândalo de corrupção na gigante da energia Petrobras está finalmente a levar as agências de rating a reavaliarem o Brasil, mas o movimento vem tarde demais, e as reclassificações não serão suficientes para reflectir o verdadeiro risco. Outros mercados emergentes também parecem frágeis e em risco de um corte de rating.
Na Zona Euro, os ‘ratings-sombra’ já sinalizavam bandeiras vermelhas no final dos anos 2000 na Grécia e os outros países da periferia. Mais recentemente, Irlanda e Espanha podem merecer uma actualização dos seus ratings, na sequência da consolidação orçamental e das reformas. A Grécia, contudo, continua a ser um caso bicudo. Mesmo com reformas substanciais para melhorar o seu potencial de crescimento, a Grécia nunca será capaz de pagar a sua dívida soberana, que precisa de um alívio substancial.
Uma avaliação do risco soberano que é sistemática e orientada por dados pode ajudar a identificar os riscos implícitos nos desafios cambiantes, a nível mundial. Nessa medida, proporciona exactamente aquilo que o mudo precisa agora: uma metodologia que elimine a necessidade de contar com a abordagem "ad hoc" e lenta das agências de rating e com os sinais ruidosos e voláteis provenientes dos mercados.
Nouriel Roubini é presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com) e professor na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque.
© Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
06 Setembro 2015, 20:00 por Nouriel Roubini | © Project Syndicate www.project-syndicate.org
Negócios
As agências de rating demoram demasiado tempo a identificar riscos e a baixar a classificação dos países, enquanto os investidores se comportam como rebanhos, ignorando, muitas vezes, a acumulação de riscos antes de alterarem a marcha de forma brusca, causando oscilações exageradas no mercado.
Dada a natureza da turbulência do mercado, pode ser difícil criar um sistema de alerta precoce para tsunamis financeiros; mas o mundo precisa de um, hoje mais do que nunca. Poucas pessoas previram a crise do ‘subprime’ de 2008, o risco de ‘default’ na Zona Euro, ou a turbulência actual nos mercados financeiros em todo o mundo. Apontou-se o dedo aos políticos, bancos e instituições supranacionais. Mas as agências de notação e os analistas que calcularam mal a capacidade de reembolso dos devedores - incluindo os governos - têm passado pelos pingos da chuva.
Em princípio, as notações de risco baseiam-se em modelos estatísticos de incumprimentos passados; na prática, contudo, como ocorreram poucos ‘defaults’ nacionais, os ratings soberanos são, muitas vezes, um assunto subjectivo. Os analistas das agências de rating acompanham a evolução do país pelo qual são responsáveis e, quando necessário, viajam até lá para avaliar a situação.
Este processo significa que as classificações estão muitas vezes atrasadas, as revisões em baixa acontecem tarde demais e que, tipicamente, os países são reclassificados quando os analistas os visitam e não quando os fundamentos mudam. Além disso, as agências de rating não possuem as ferramentas necessárias para controlar factores vitais de forma consistente, tais como mudanças na inclusão social, na capacidade de inovação de um país, e no risco do balanço do sector privado.
E, ainda assim, os ratings soberanos têm uma enorme importância. Para muitos investidores, os ratings ditam onde e quanto podem investir. As classificações influenciam a quantidade de dinheiro que os bancos estão dispostos a emprestar, e quanto é que os países em desenvolvimento – e os seus cidadãos – têm de pagar para ter esses empréstimos. E dão informações às empresas que influenciam as decisões sobre com quem fazer negócios, e em que termos.
Tendo em conta os problemas com as agências de rating, investidores e reguladores reconhecem a necessidade de uma abordagem diferente. Os investidores têm tentado identificar boas alternativas – e, em grande medida, fracassaram. As avaliações de risco, tal como os spreads soberanos e os ‘credit default swaps’ reagem rapidamente (e, por vezes, de forma exagerada); mas, dado que reflectem apenas a compreensão de risco do mercado, não são um mecanismo sistemático para descobrir riscos ocultos e evitar crises. Na verdade, o aumento repentino da volatilidade do mercado sugere que são tão maus como as agências de rating a detectar os sinais de alerta precoce que indiquem problemas.
Os reguladores, por seu lado, estão agora a começar a obrigar os bancos a desenvolver os seus próprios processos internos de classificação. O problema é que poucas instituições têm as ferramentas e a experiência necessárias para fazerem isso sozinhas.
A avaliação abrangente do risco de investimento de um país requer uma análise sistemática dos recursos e fluxos das contas nacionais para avaliar todos os perigos, incluindo os riscos no sistema financeiro e na economia real, bem como questões de risco mais amplas. Como vimos nas crises recentes, a assunção privada de risco e a dívida são socializadas quando ocorre uma crise. Assim, mesmo quando os défices e as dívidas públicas são baixos, eles podem subir acentuadamente depois de estourar uma crise. Os governos que pareciam fiscalmente sólidos tornam-se, repentinamente, insolventes.
Mediante a utilização de 200 variáveis e?? factores quantitativos para classificar 174 países numa base trimestral, identificámos uma série de países onde os investidores não estão a reconhecer os riscos – nem as oportunidades.
A China é um exemplo perfeito. Os construtores, os governos locais e as empresas estatais estão severamente sobrendividadas. A China tem a força do seu balanço para socorrê-los, mas as autoridades enfrentam uma escolha: abraçar a reforma ou confiar mais uma vez na alavancagem para estimular a economia. Mesmo que a China opte pela segunda opção, vai deixar de atingir os seus objectivos de crescimento e tornar-se mais frágil ao longo do tempo.
O rating do Brasil deveria ter baixado o nível de investimento no ano passado, já que a economia enfrentou um défice orçamental crescente, uma dívida cada vez maior, e uma deterioração do ambiente de negócios. O escândalo de corrupção na gigante da energia Petrobras está finalmente a levar as agências de rating a reavaliarem o Brasil, mas o movimento vem tarde demais, e as reclassificações não serão suficientes para reflectir o verdadeiro risco. Outros mercados emergentes também parecem frágeis e em risco de um corte de rating.
Na Zona Euro, os ‘ratings-sombra’ já sinalizavam bandeiras vermelhas no final dos anos 2000 na Grécia e os outros países da periferia. Mais recentemente, Irlanda e Espanha podem merecer uma actualização dos seus ratings, na sequência da consolidação orçamental e das reformas. A Grécia, contudo, continua a ser um caso bicudo. Mesmo com reformas substanciais para melhorar o seu potencial de crescimento, a Grécia nunca será capaz de pagar a sua dívida soberana, que precisa de um alívio substancial.
Uma avaliação do risco soberano que é sistemática e orientada por dados pode ajudar a identificar os riscos implícitos nos desafios cambiantes, a nível mundial. Nessa medida, proporciona exactamente aquilo que o mudo precisa agora: uma metodologia que elimine a necessidade de contar com a abordagem "ad hoc" e lenta das agências de rating e com os sinais ruidosos e voláteis provenientes dos mercados.
Nouriel Roubini é presidente da Roubini Global Economics (www.roubini.com) e professor na Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque.
© Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
06 Setembro 2015, 20:00 por Nouriel Roubini | © Project Syndicate www.project-syndicate.org
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