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Luzes acesas
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Luzes acesas
Conduzir com luzes acesas durante o dia é aumentar a segurança a custo zero
Este é um combate em que estou pessoalmente empenhado há muitos anos, e desde que conduzo (há mais de 40 anos) ligo sempre os médios durante o dia, o que já me fez passar com certeza por parvo, a avaliar pelo desmedido interesse que os peões e outros automobilistas me dedicam a avisar do facto. É curioso, porque tanta coisa passa sem que as pessoas notem, e ver outra pessoa a conduzir com luzes acesas durante o dia não deixa ninguém indiferente: ou ficam furiosos ou querem ajudar, fazendo sinais com as mãos, fechando-as e abrindo-as, ao estilo flash.
Um dos argumentos usados pelos meus detractores é que “não estamos na Suécia”, o que, para lá de um certo acinte do estilo “julgas-te evoluído?”, revela a milenar inveja que temos dos países nórdicos e da sua capacidade de organização, a par do argumento de que “lá é noite todo o dia”, o que é falso.
Mas vamos aos factos: se é verdade que Portugal tem muitos meses de dias compridos e de luminosidade intensa, também o é que os Invernos não são tão claros como se pode pensar. Mas mais: é que é precisamente nos dias muito escuros ou nos muito luminosos que o risco é maior. Surpreendente? Nem por isso, se pensarmos que, com o sol forte, cerramos mais os olhos, vendo, portanto, pior, ou usamos óculos de sol, que nos retiram, não apenas a luz (é a função deles…), mas também a nitidez e o contraste dos objectos. Perde-se, assim, acuidade visual.
Um automóvel é, ele próprio, muito mais visível aos olhos das outras pessoas (condutores, peões) se tiver os médios acesos, ou seja, andarmos com as luzes acesas durante o dia não é para nós vermos melhor a estrada, mas permitir que o carro seja mais bem visto. A prova de que esta evidência funciona é que as motas já há muito tempo têm de andar obrigatoriamente de luzes acesas.
Acresce que a maioria dos carros têm cores pouco visíveis – preto, cinzento-escuro, azul-escuro – que se confundem com o alcatrão. As luzes permitirão ver os automóveis mais longe e o olhar “apanha-os” com maior rapidez, factor decisivo para a condução segura.
Alguns fabricantes de automóveis já instalam sistemas em que as luzes ligam e desligam automaticamente, em sintonia com o carro. Noutros ouve-se um apito se se retira a chave e ficam as luzes acesas – assim se evita o que amedronta muita gente, que é deixar as luzes acesas e, no dia seguinte, ter a bateria em baixo.
Durante o dia, e mesmo com sol, a diferença de visibilidade de um veículo com os médios acesos é enorme, comparativamente com os médios apagados. O aumento é de cerca de 7 vezes, de 115 metros para 850 metros – a 90 km/h, isto implica aumentar o tempo de visibilidade de 4 segundos e meio para 34 segundos, o que ajuda a preparar o cruzamento, corrigir a trajectória, gizar manobras evasivas, pôr de lado factores distrativos, etc. Em 4 segundos e meio, tudo acontece sem margem para correcções.
Por outro lado, as luzes traseiras, que ficam acesas quando se acendem os médios, tornam o próprio carro mais visível para quem vem atrás, passando a ser identificado a uma distância de 165 metros.
Os dados que se conhecem relativamente ao uso sistemático dos médios durante o dia, em qualquer estação do ano, revelam uma grande diminuição do número de mortes e de feridos graves, exactamente porque ele evita muitos dos choques frontais, que são os mais violentos e mortíferos: os dados internacionais referem uma diminuição de cerca de 8% de acidentes deste tipo, embora, se estiverem descalibradas, as luzes podem encandear os condutores dos veículos de duas rodas. O aumento do consumo de energia (1% no combustível) é negligenciável quando cotejado com os ganhos em saúde.
Foi com base nesta verdade científica que a Comissão Europeia aprovou uma directiva, em Setembro de 2008, que diz respeito aos automóveis ligeiros em 2011 e aos pesados em 2012. Por cá, como habitualmente, a legislação deve estar algures, perdida no deserto. Mesmo na ausência de lei, desafio o leitor a ligar sempre os médios a partir de agora, na cidade ou na estrada, a todas as horas do dia. Pode contribuir para evitar um acidente e os outros automobilistas vê-lo-ão melhor. E se a sua vida depender deste pequeno acto? Já pensou bem?
Pediatra
Escreve à terça-feira
Mário Cordeiro
08/09/2015 08:00
Jornal i
Este é um combate em que estou pessoalmente empenhado há muitos anos, e desde que conduzo (há mais de 40 anos) ligo sempre os médios durante o dia, o que já me fez passar com certeza por parvo, a avaliar pelo desmedido interesse que os peões e outros automobilistas me dedicam a avisar do facto. É curioso, porque tanta coisa passa sem que as pessoas notem, e ver outra pessoa a conduzir com luzes acesas durante o dia não deixa ninguém indiferente: ou ficam furiosos ou querem ajudar, fazendo sinais com as mãos, fechando-as e abrindo-as, ao estilo flash.
Um dos argumentos usados pelos meus detractores é que “não estamos na Suécia”, o que, para lá de um certo acinte do estilo “julgas-te evoluído?”, revela a milenar inveja que temos dos países nórdicos e da sua capacidade de organização, a par do argumento de que “lá é noite todo o dia”, o que é falso.
Mas vamos aos factos: se é verdade que Portugal tem muitos meses de dias compridos e de luminosidade intensa, também o é que os Invernos não são tão claros como se pode pensar. Mas mais: é que é precisamente nos dias muito escuros ou nos muito luminosos que o risco é maior. Surpreendente? Nem por isso, se pensarmos que, com o sol forte, cerramos mais os olhos, vendo, portanto, pior, ou usamos óculos de sol, que nos retiram, não apenas a luz (é a função deles…), mas também a nitidez e o contraste dos objectos. Perde-se, assim, acuidade visual.
Um automóvel é, ele próprio, muito mais visível aos olhos das outras pessoas (condutores, peões) se tiver os médios acesos, ou seja, andarmos com as luzes acesas durante o dia não é para nós vermos melhor a estrada, mas permitir que o carro seja mais bem visto. A prova de que esta evidência funciona é que as motas já há muito tempo têm de andar obrigatoriamente de luzes acesas.
Acresce que a maioria dos carros têm cores pouco visíveis – preto, cinzento-escuro, azul-escuro – que se confundem com o alcatrão. As luzes permitirão ver os automóveis mais longe e o olhar “apanha-os” com maior rapidez, factor decisivo para a condução segura.
Alguns fabricantes de automóveis já instalam sistemas em que as luzes ligam e desligam automaticamente, em sintonia com o carro. Noutros ouve-se um apito se se retira a chave e ficam as luzes acesas – assim se evita o que amedronta muita gente, que é deixar as luzes acesas e, no dia seguinte, ter a bateria em baixo.
Durante o dia, e mesmo com sol, a diferença de visibilidade de um veículo com os médios acesos é enorme, comparativamente com os médios apagados. O aumento é de cerca de 7 vezes, de 115 metros para 850 metros – a 90 km/h, isto implica aumentar o tempo de visibilidade de 4 segundos e meio para 34 segundos, o que ajuda a preparar o cruzamento, corrigir a trajectória, gizar manobras evasivas, pôr de lado factores distrativos, etc. Em 4 segundos e meio, tudo acontece sem margem para correcções.
Por outro lado, as luzes traseiras, que ficam acesas quando se acendem os médios, tornam o próprio carro mais visível para quem vem atrás, passando a ser identificado a uma distância de 165 metros.
Os dados que se conhecem relativamente ao uso sistemático dos médios durante o dia, em qualquer estação do ano, revelam uma grande diminuição do número de mortes e de feridos graves, exactamente porque ele evita muitos dos choques frontais, que são os mais violentos e mortíferos: os dados internacionais referem uma diminuição de cerca de 8% de acidentes deste tipo, embora, se estiverem descalibradas, as luzes podem encandear os condutores dos veículos de duas rodas. O aumento do consumo de energia (1% no combustível) é negligenciável quando cotejado com os ganhos em saúde.
Foi com base nesta verdade científica que a Comissão Europeia aprovou uma directiva, em Setembro de 2008, que diz respeito aos automóveis ligeiros em 2011 e aos pesados em 2012. Por cá, como habitualmente, a legislação deve estar algures, perdida no deserto. Mesmo na ausência de lei, desafio o leitor a ligar sempre os médios a partir de agora, na cidade ou na estrada, a todas as horas do dia. Pode contribuir para evitar um acidente e os outros automobilistas vê-lo-ão melhor. E se a sua vida depender deste pequeno acto? Já pensou bem?
Pediatra
Escreve à terça-feira
Mário Cordeiro
08/09/2015 08:00
Jornal i
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