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Barulho das Luzes
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Barulho das Luzes
Onde está a realização? Onde deixámos a construção das nossas vidas? Onde deixámos de fazer, para dar aos Outros o poder dessa satisfação?
Onde aprendemos a esperar que tudo se resolva sem participar verdadeiramente nisso?
Numa cidade ninguém é alguém e o contrário também se verifica!
Com o barulho das luzes, páro e apercebo-me…
Tenho esta necessidade, às vezes! Necessidade de observar o que me rodeia e colocar-me à prova.
Ninguém tem voz. Não te oiço! Alguém se ouve?!
Casa onde não há pão, todos ralham… e ninguém tem razão.
Somos números!
Apenas mais um nas estatísticas. Apenas mais um entre tantos que não existem.
Mais um.
Sucumbimos aos sons envolventes. Pequenos estalidos de um isqueiro avariado. Ínfimas partículas supostamente pensantes.
Opinadores. Trazemos para a mesa do café preocupações vazias.
Todos temos opinião certa no lugar errado.
O clube perdeu. O político ganhou. A quinta é uma dor de cabeça. “A Nina já aumentou as mamas, o Sérgio traiu a namorada”. “A vizinha do 2° direito levou “outro” lá para casa”. A velha do 1º andar olha pela janela, sempre à espera da novidade fresca do dia, tipo o pão.
Nada mais acontece de interessante.
Mas a culpa é dos outros. Nunca minha.
A culpabilidade externa não me dá que fazer e a minha responsabilidade esvai -se com a culpa alheia.
Sabe-se tudo sobre todos os temas.
Falam-se de cidades vazias, onde nada acontece e a vida se perde, onde outrora o mundo começou e a realidade dos dias em nada se parecia com a qual nos deparamos!
Cidades que tanto deram. Pessoas que tanto fizeram para crescer e mostrar que se pode ter qualidade quando a comunidade deseja e o sonho acontece. Colaboração e dedicação.
Motivação para mudar. Para criar. Avançar. Não estagnar.
Agora espera-se que os Outros, esses outros que somos nós, façam.
Todos sabem sobre tudo. Sabem falar das vidas e dos pressupostos. Têm ideia de como os Outros devem escolher as nossas vidas e deixamos as certezas, precisamente nas suas mãos.
Temos medo.
Onde é que aprendemos a não fazer?
No início era o verbo. Mas e a acção?!
Onde está a realização? Onde deixámos a construção das nossas vidas? Onde deixámos de fazer, para dar aos Outros o poder dessa satisfação?
Onde aprendemos a esperar que tudo se resolva sem participar verdadeiramente nisso?
Onde?
Como?
Como podemos continuar à espera de uma realidade que não vai acontecer?
Nunca ninguém se ouve. Ninguém se dá o prazer de tomar a vida nas mãos. De decidir. De fazer por isso e orgulhar-se da obra feita.
Desaprendeu-se.
Ninguém se ouve. Ninguém nos ouve.
E nunca vai ouvir!
Porque o que é nosso, o que queremos que seja nosso, nunca poderá ser concretizado pelos Outros.
Nunca nada poderá satisfazer-nos plenamente se não o sentirmos como nosso.
Parte de nós.
Mas neste barulho infernal, neste ruido sem precedentes, perdemo-nos.
Continuamos a perpetuar a ideia de que há-de recompor-se. Tudo há-de resolver-se.
Mas não.
Temos de libertar-nos do medo que nos instalaram. Do medo de pensar pela nossa cabeça. Aprender a pensar. Conhecer e participar nas decisões.
Nada se resolve por si. Somos nós que temos o poder da escolha. É uma escolha.
Ir ou ficar. Construir ou esperar. Fazer ou usar.
Sentir ou morrer.
Quando todos sentirem a urgência de crescer, o movimento que impele a mudança, quando todos decidirem responsabilizar-se pela sua parte e avançar...
Aí...
Estaremos juntos.
15.02.2016 - 16:17
Por Cláudia Russo
Psicóloga Clínica
Barreiro
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