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“A procura interna é um indicador decisivo no comportamentos dos eleitores?”
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“A procura interna é um indicador decisivo no comportamentos dos eleitores?”
Numa economia tão pequena e tão aberta como a portuguesa, tentar fazer crescre a procura interna para fazer crescer a economia é um excelente contributo para o crescimento do PIB ... espanhol, ou alemão.
Procura interna é um conceito, construído no âmbito da macroeconomia. Respeita aos bens e serviços que uma população compra durante um ano. Engloba a compra de bens de consumo pelas famílias, e pelo Estado, e a compra de bens de investimento pelas famílias, pelo Estado e pelas empresas. Rondará, em Portugal, os 170 mil milhões de euros por ano. É satisfeita em cerca de 40% por importações (bens, portanto, que os dez milhões de portugueses compram mas não produzem); como exportamos um valor da mesma ordem de grandeza, acabamos por produzir também 170 mil milhões de euros por ano – valor do PIB.
O conceito parece-me demasiado abstracto para poder influenciar o comportamento, leia-se, o voto dos eleitores.
Estes reagem mais, penso eu, a categorias mais empíricas, e mais próximas do seu quotidiano, como sejam o emprego (que têm ou não têm), o salário (que auferem ou não auferem), as pensões (que recebem ou não recebem), os preços dos bens e serviços (sobretudo quando sobem muito), os impostos que pagam (muitos ou poucos, sempre quando se dão conta). Tudo isto, não saindo da economia, e deixando de lado outras realidades como o poderão ser o funcionamento das escolas, dos hospitais, a segurança, etc., etc.
A questão da procura interna ganha, no entanto, relevância política porque se pode actuar sobre o crescimento económico (e, portanto, sobre o PIB, e o emprego, e o rendimento das pessoas), manipulando politicamente a procura interna. Ensina-se nas escolas (pelo menos nas que não são muito más) que esta manipulação faz tanto mais sentido, e se revela tanto mais eficaz, quanto mais fechada a economia. Funcionou melhor no passado do que no presente; funciona, hoje, melhor numa economia grande do que numa economia pequena.
Numa economia tão pequena e tão aberta como a portuguesa, tentar fazer crescer, hoje, a procura interna para fazer crescer a economia afigura-se-me um arcaísmo, e um erro; esvai-se em importações, sendo um excelente contributo para o crescimento do PIB... espanhol, ou alemão. É um daqueles “actos de ternura” contra os quais é necessária a coragem de lutar, tanto mais quanto mais suportados por dívida (como será necessariamente o caso). Há quem pense que rende votos; não sei, talvez... Em minha opinião, rende sobretudo resgates, como se os que já tivemos, precisamente pelas mesmas razões, não tivessem sido suficientes.
Daniel Bessa
22/09/2015 - 10:28
Público
Procura interna é um conceito, construído no âmbito da macroeconomia. Respeita aos bens e serviços que uma população compra durante um ano. Engloba a compra de bens de consumo pelas famílias, e pelo Estado, e a compra de bens de investimento pelas famílias, pelo Estado e pelas empresas. Rondará, em Portugal, os 170 mil milhões de euros por ano. É satisfeita em cerca de 40% por importações (bens, portanto, que os dez milhões de portugueses compram mas não produzem); como exportamos um valor da mesma ordem de grandeza, acabamos por produzir também 170 mil milhões de euros por ano – valor do PIB.
O conceito parece-me demasiado abstracto para poder influenciar o comportamento, leia-se, o voto dos eleitores.
Estes reagem mais, penso eu, a categorias mais empíricas, e mais próximas do seu quotidiano, como sejam o emprego (que têm ou não têm), o salário (que auferem ou não auferem), as pensões (que recebem ou não recebem), os preços dos bens e serviços (sobretudo quando sobem muito), os impostos que pagam (muitos ou poucos, sempre quando se dão conta). Tudo isto, não saindo da economia, e deixando de lado outras realidades como o poderão ser o funcionamento das escolas, dos hospitais, a segurança, etc., etc.
A questão da procura interna ganha, no entanto, relevância política porque se pode actuar sobre o crescimento económico (e, portanto, sobre o PIB, e o emprego, e o rendimento das pessoas), manipulando politicamente a procura interna. Ensina-se nas escolas (pelo menos nas que não são muito más) que esta manipulação faz tanto mais sentido, e se revela tanto mais eficaz, quanto mais fechada a economia. Funcionou melhor no passado do que no presente; funciona, hoje, melhor numa economia grande do que numa economia pequena.
Numa economia tão pequena e tão aberta como a portuguesa, tentar fazer crescer, hoje, a procura interna para fazer crescer a economia afigura-se-me um arcaísmo, e um erro; esvai-se em importações, sendo um excelente contributo para o crescimento do PIB... espanhol, ou alemão. É um daqueles “actos de ternura” contra os quais é necessária a coragem de lutar, tanto mais quanto mais suportados por dívida (como será necessariamente o caso). Há quem pense que rende votos; não sei, talvez... Em minha opinião, rende sobretudo resgates, como se os que já tivemos, precisamente pelas mesmas razões, não tivessem sido suficientes.
Daniel Bessa
22/09/2015 - 10:28
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