A falácia da procura interna

Todos nós - e eu incluo nestes todos nós Passos Coelho e Seguro - tirámos um curso de Economia nos últimos quatro anos. No entanto, há coisas que ainda não consigo compreender. Uma delas é a ligação que muita gente da esquerda faz entre o aumento da procura interna e a decisão do Tribunal Constitucional em devolver os subsídios aos funcionários públicos.

Eu sustento que isto é uma falácia, porque este argumento não leva em conta outro: a decisão do TC, que não permitiu o ajustamento pela despesa (ou seja pelo corte da despesa do Estado correspondente a subsídios) levou ao chamado "brutal aumento de impostos" para todos e quaisquer trabalhadores. Ou seja, todos nós ficámos com menos salário (a exceção, mas só em relação ao ano anterior, foram os funcionários públicos que conseguiram reaver meio ou um salário dos dois perdidos). E a ser assim, como pode ter aumentado a procura interna com a maioria a ganhar menos?

Há duas hipóteses:

Uma é não andarmos a perder dinheiro. Mas isso contraria a lógica da própria esquerda que acusa o Governo de tirar o dinheiro aos cidadãos. Além de contrariar o que cada um sente na carteira e na vida.

A outra hipótese (que, para mim, faz mais sentido) é as famílias terem-se ajustado e já conseguirem, mesmo com menos dinheiro, poupar. Isso permite-lhes, por sua vez, algum alívio em matérias como férias ou bens de consumo.

Em qualquer dos casos, o Governo sai-se bem destas contas. De onde se sai mal é das contas que ninguém no Parlamento faz e corresponde à seguinte questão: por que razão tendo-se ajustado as famílias e tendo-se, até ajustado a maioria das empresas, não fez o Estado o mesmo e continua a gastar disparates que nos levam parte substancial do rendimento em impostos e taxas?

É aqui que, por muitos debates que existam, reina maior silêncio. Na verdade, ninguém quer cortar no Estado, embora se troquem acusações sobre o PSD querer o Estado mínimo, o próprio PSD ainda não abdicou do Estado máximo que em conjunto com o PS foi construindo.

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