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A Alemanha do quero, posso e faço / 25 anos depois
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A Alemanha do quero, posso e faço / 25 anos depois
A Alemanha do quero, posso e faço
"...admiro-os muito. São uma nação industriosa; são, acima de tudo, uma nação sistemática, uma nação científica, e o que quer que seja que comecem, nas artes da paz ou da guerra, fazem avançar com a máxima perfeição possível, pois isso faz parte da sua personalidade." Lord Rosebery fez este discurso sobre os alemães em 1896 e a ideia continua atual. Mas a frase do ex-primeiro-ministro inglês começava: "Tenho medo da Alemanha. E porque tenho medo dos alemães? Porque..." E isso não, não continua atual.
Comparar 2015 com 1896 faz certo sentido. Hoje celebram-se os 25 anos da reunificação, então passavam 25 anos sobre a unificação levada a cabo pelo Kaiser Guilherme I e Bismarck. E se agora, como no século XIX, é evidente o dinamismo da nação germânica, a diferença é que a Alemanha contemporânea não possui colónias, não é dominada por uma elite prussiana belicista, não ocupa uma Alsácia que a França nunca daria por perdida nem se estende para leste até às terras russas. E, sobretudo, aprendeu muito com a derrota nas guerras mundiais.
Mais pequena, mas sempre no coração da Europa. E de uma Europa diferente. Vale a pena ler sobre isso o que escreveu Ulrich Speck, um alemão da Carnegie Europe: "O que era antes uma desvantagem para a Alemanha - a sua posição geopolítica - transformou-se em vantagem. Desde a unificação em 1871 até à Segunda Guerra, o receio de ser cercada por uma aliança hostil foi o principal condutor da política externa alemã, com as bem conhecidas consequências. Mas como os Estados europeus se moveram, na segunda metade do século XX, de um sistema de competição para um de cooperação, a Alemanha pode agora beneficiar da sua localização geográfica, pois liga e reflete a diversidade do continente."
Ora, se a Alemanha já não mete medo, nem tem medo, tudo está em aberto para a sua afirmação internacional, com uma política que reflita o peso cultural, demográfico, económico e mesmo militar (oitavo orçamento mundial). E a verdade é que isso tem acontecido desde o primeiro momento da reunificação, e até nas negociações prévias, pois o chanceler Kohl insistiu junto do Kremlin que toda a Alemanha, incluído o território da defunta RDA, fosse NATO.
A nova Alemanha descomplexada, do quero, posso e faço, mostrou assim nestes 25 anos ser capaz tanto de opções que contrariavam os aliados (como o reconhecimento da Eslovénia e da Croácia logo em 1991 ou a abstenção na ONU sobre o ataque à Líbia), como de conjugar-se com os parceiros - aconteceu na pacificação da Bósnia, no envio de tropas para o Afeganistão ou na negociação sobre o nuclear iraniano.
O futuro da política externa alemã passa agora por ultrapassar os últimos fantasmas do nazismo. E se em 1999 a participação nos bombardeamentos da NATO para expulsar os sérvios do Kosovo significou o fim do tabu dos alemães a combater no estrangeiro, agora a chanceler Merkel fez bem em reunir-se com os líderes do Japão, da Índia e do Brasil para exigir a revisão do Conselho de Segurança da ONU, que continua a ser um espelho da realidade de 1945.
Alguma cautela, porém, recomenda-se. Como se viu pela reação ao modo como Berlim geriu a crise financeira, mantêm-se desconfianças. Mas ninguém sabe disso melhor do que os próprios: "Está esboçado o papel da Alemanha na Europa e no mundo: na Europa, tem de manter a coesão na União Europeia, e no mundo tem de cuidar para que a economia europeia não seja marginalizada através da ascensão dos países da Ásia. Isto ela não pode, naturalmente, fazer sozinha; outros países têm de ajudar." Palavras de Frank-Walter Steinmeier, o ministro dos Negócios Estrangeiros.
por LEONÍDIO PAULO FERREIRA
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25 anos depois
Não é possível perceber a Alemanha de 2015 sem recuar exatamente 25 anos, data da reunificação. Desde aí, o país sedimentou a primazia europeia em tamanho, população e economia. A centralidade geográfica potenciou uma radial a ocidente e a leste, papel de pivô quase perfeito à medida que os alargamentos da NATO e da UE iam valorizando esse posicionamento. O facto de a reunificação ter sido feita no quadro dessas duas organizações só ampliou o poder europeu da Alemanha. Por um lado, acomodou uma inevitável ascensão política e económica sem causar atritos de maior, coincidente com a lógica de Mitterrand ao amarrar Berlim ao euro. Por outro, essa ascensão pacífica ficou garantida pelo vínculo aos EUA na NATO e a Moscovo através de um acordo que limitava as forças armadas alemãs no exterior e oficializava a "boa vizinhança e cooperação". Por outras palavras, durante estes 25 anos, a Alemanha fixou-se como a grande potência do meio, entre Washington e Moscovo, sem um poder militar comparável ou sequer um lugar no Conselho de Segurança. E fê--lo com uma estratégia inteligente: maximizando as relações bilaterais (com Washington, Moscovo, Paris, Londres, Pequim e, depois do grande alargamento, mostrando-se às capitais do Leste Europeu) e os mecanismos multilaterais da UE (moeda única, mercado comum, influência política e institucional) e da NATO (o chapéu de segurança americano permitiu-lhe apostar noutras frentes). Hoje tira partido deste percurso e da estabilidade governativa. Só que chegou ao ponto em que o fardo do poder impõe desafios quase existenciais. Como exercê-lo numa Europa fragmentada? Como balançar a relação com os EUA e a Rússia de Putin? Que uso dar às forças armadas com o caos na vizinhança? 25 anos depois, a Alemanha atingiu o dilema dos grandes: que fazer com tanto poder? Duvido que os líderes alemães saibam a resposta certa.
por BERNARDO PIRES DE LIMA
Diário de Notícias
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