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Os transportes e os políticos
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Os transportes e os políticos
Os transportes precisam de líderes competentes, não de políticos irresponsáveis e sem sentido de Estado.
Devido à importância e complexidade do sector dos transportes, qualquer intervenção política deve ser baseada no bom senso e numa visão estratégica de longo prazo, de modo a poder haver progresso e uma mobilidade sustentável de pessoas e mercadorias.
É um facto que a falta de conhecimentos técnicos tem contribuído para o fracasso das decisões políticas na indústria de transportes. Daí, a necessidade de haver planos estratégicos e uma política de transportes que tenha como objectivo estabelecer um sistema de transportes e de logística que esteja ao serviço da economia – e não de interesses instalados – e que se mantenha actualizado nas décadas seguintes.
Ao contrário do que afirmam alguns políticos, os transportes são a espinha dorsal da economia nacional. Os transportes são, de facto, uma peça essencial para o desenvolvimento económico e social de qualquer país. Como exemplo, em 2009, os transportes representavam cerca de 7% do Produto Interno Bruto e mais do que 5% do emprego total, da União Europeia.
Além deste facto, a abertura do mercado dos transportes da União Europeia contribuiu para um aumento de eficiência e, ao mesmo tempo, para uma baixa de custos tarifários. Neste aspecto, o transporte aéreo é um bom exemplo a seguir. De facto, o baixo custo das tarifas aéreas e o aumento das rotas têm proporcionado um aumento substancial do tráfego aéreo de passageiros e carga.
A competitividade da economia depende, entre outras coisas, da capacidade das empresas e dos transportadores se adaptarem à inovação e às novas necessidades do mercado internacional. Porém, alguns agentes económicos não se preocupam com isso e muito menos em inovar. A sua maior preocupação parece ser com o preço dos meios de transporte que utilizam, quando deveria ser com a qualidade dos produtos que exportam e com os prazos de entrega das mercadorias no destino.
Lamentavelmente, Portugal é um dos países onde as infra-estruturas de transporte têm causado elevados prejuízos ao Estado. Em muitos casos, devido à falta de planeamento e de visão estratégica dos políticos. Como exemplo, lembramos as SCUT, o novo aeroporto de Lisboa na Ota, o aeroporto civil na Base Aérea de Beja, a Terceira Ponte sobre o Tejo, a terceira auto-estrada Lisboa/Porto, o TGV Lisboa Madrid e Lisboa/Porto, entre outras obras megalómanas.
Nesse período de loucura governamental, estas irresponsáveis decisões políticas talvez quisessem dar a ideia de que Portugal era uma grande potência económica, ou então que possuía minas de ouro ou poços de petróleo. De facto, só assim seria possível financiar estas e outras obras faraónicas, consideradas como desnecessárias e inúteis para o País.
No ano 2000, o então secretário de Estado dos Transportes defendia “a construção de um novo aeroporto internacional, com o desenvolvimento de um centro de carga aérea de nível europeu.” Guilhermino Rodrigues até garantia que “o novo aeroporto e a rede de transportes de TGV teriam um papel preponderante.” Apesar de não explicar como e onde, confirmava que a NAER estava a lançar um concurso para a realização do projecto do novo aeroporto na Ota, que nunca viu a luz do dia.
Guilhermino Rodrigues também defendia “a criação de condições para o crescimento do transporte rodoviário de mercadorias, o desenvolvimento de uma rede nacional de plataformas logísticas e a constituição de um mercado tendencialmente unificado a nível da Península, para tornar o modo rodoviário largamente dominante nas relações comerciais entra Portugal e Espanha.”
Ao mesmo tempo, o secretário de Estado dos Transportes defendia a ligação ferroviária de mercadorias Lisboa/Madrid/Barcelona e a introdução de um comboio de alta velocidade, entre Lisboa e Madrid. Estas contradições revelavam, não só a ausência de conhecimentos, como também a falta de uma estratégia nacional para o sector dos transportes.
Além destes factos, havia o projecto TGV, liderado pelo ex-ministro Mário Lino, que custava cerca de 7,9 mil milhões de euros. Segundo o projecto, em 2013 deveria estar em funcionamento o eixo Lisboa/Madrid e, em 2015, os eixos Lisboa/Porto e Porto/Vigo. Mas nada aconteceu.
Certamente que tudo isto contribuiu para o descrédito dos governantes e para aumentar os passivos das empresas públicas de transporte. Em 2009, atingiam os 27 mil milhões de euros! É o resultado da política desastrosa de sucessivos governos, nomeadamente do anterior Governo. Logo, os transportes precisam de líderes competentes, não de políticos irresponsáveis e sem sentido de Estado.
Especialista em transporte aéreo
coutinho.mp@gmail.com
J. MARTINS PEREIRA COUTINHO
06/10/2015 - 05:22
Público
Devido à importância e complexidade do sector dos transportes, qualquer intervenção política deve ser baseada no bom senso e numa visão estratégica de longo prazo, de modo a poder haver progresso e uma mobilidade sustentável de pessoas e mercadorias.
É um facto que a falta de conhecimentos técnicos tem contribuído para o fracasso das decisões políticas na indústria de transportes. Daí, a necessidade de haver planos estratégicos e uma política de transportes que tenha como objectivo estabelecer um sistema de transportes e de logística que esteja ao serviço da economia – e não de interesses instalados – e que se mantenha actualizado nas décadas seguintes.
Ao contrário do que afirmam alguns políticos, os transportes são a espinha dorsal da economia nacional. Os transportes são, de facto, uma peça essencial para o desenvolvimento económico e social de qualquer país. Como exemplo, em 2009, os transportes representavam cerca de 7% do Produto Interno Bruto e mais do que 5% do emprego total, da União Europeia.
Além deste facto, a abertura do mercado dos transportes da União Europeia contribuiu para um aumento de eficiência e, ao mesmo tempo, para uma baixa de custos tarifários. Neste aspecto, o transporte aéreo é um bom exemplo a seguir. De facto, o baixo custo das tarifas aéreas e o aumento das rotas têm proporcionado um aumento substancial do tráfego aéreo de passageiros e carga.
A competitividade da economia depende, entre outras coisas, da capacidade das empresas e dos transportadores se adaptarem à inovação e às novas necessidades do mercado internacional. Porém, alguns agentes económicos não se preocupam com isso e muito menos em inovar. A sua maior preocupação parece ser com o preço dos meios de transporte que utilizam, quando deveria ser com a qualidade dos produtos que exportam e com os prazos de entrega das mercadorias no destino.
Lamentavelmente, Portugal é um dos países onde as infra-estruturas de transporte têm causado elevados prejuízos ao Estado. Em muitos casos, devido à falta de planeamento e de visão estratégica dos políticos. Como exemplo, lembramos as SCUT, o novo aeroporto de Lisboa na Ota, o aeroporto civil na Base Aérea de Beja, a Terceira Ponte sobre o Tejo, a terceira auto-estrada Lisboa/Porto, o TGV Lisboa Madrid e Lisboa/Porto, entre outras obras megalómanas.
Nesse período de loucura governamental, estas irresponsáveis decisões políticas talvez quisessem dar a ideia de que Portugal era uma grande potência económica, ou então que possuía minas de ouro ou poços de petróleo. De facto, só assim seria possível financiar estas e outras obras faraónicas, consideradas como desnecessárias e inúteis para o País.
No ano 2000, o então secretário de Estado dos Transportes defendia “a construção de um novo aeroporto internacional, com o desenvolvimento de um centro de carga aérea de nível europeu.” Guilhermino Rodrigues até garantia que “o novo aeroporto e a rede de transportes de TGV teriam um papel preponderante.” Apesar de não explicar como e onde, confirmava que a NAER estava a lançar um concurso para a realização do projecto do novo aeroporto na Ota, que nunca viu a luz do dia.
Guilhermino Rodrigues também defendia “a criação de condições para o crescimento do transporte rodoviário de mercadorias, o desenvolvimento de uma rede nacional de plataformas logísticas e a constituição de um mercado tendencialmente unificado a nível da Península, para tornar o modo rodoviário largamente dominante nas relações comerciais entra Portugal e Espanha.”
Ao mesmo tempo, o secretário de Estado dos Transportes defendia a ligação ferroviária de mercadorias Lisboa/Madrid/Barcelona e a introdução de um comboio de alta velocidade, entre Lisboa e Madrid. Estas contradições revelavam, não só a ausência de conhecimentos, como também a falta de uma estratégia nacional para o sector dos transportes.
Além destes factos, havia o projecto TGV, liderado pelo ex-ministro Mário Lino, que custava cerca de 7,9 mil milhões de euros. Segundo o projecto, em 2013 deveria estar em funcionamento o eixo Lisboa/Madrid e, em 2015, os eixos Lisboa/Porto e Porto/Vigo. Mas nada aconteceu.
Certamente que tudo isto contribuiu para o descrédito dos governantes e para aumentar os passivos das empresas públicas de transporte. Em 2009, atingiam os 27 mil milhões de euros! É o resultado da política desastrosa de sucessivos governos, nomeadamente do anterior Governo. Logo, os transportes precisam de líderes competentes, não de políticos irresponsáveis e sem sentido de Estado.
Especialista em transporte aéreo
coutinho.mp@gmail.com
J. MARTINS PEREIRA COUTINHO
06/10/2015 - 05:22
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