Os arquitetos

Força, claridade e simplicidade foram as qualidades que deram aos irmãos Manuel e Francisco Aires Mateus o primeiro lugar no concurso internacional para um conjunto de museus em Lausana, na Suíça. A escolha foi divulgada ontem, Dia Mundial da Arquitetura, que para Portugal foi principalmente o dia a seguir às eleições legislativas. Mas para estes dois arquitetos portugueses o dia de ontem foi provavelmente um dos mais importantes da longa e árdua carreira que têm desenvolvido, reconhecida numa acumulação de prémios e numa constante presença como professores em universidades em todo o mundo. No concurso para os museus do Design e das Artes Aplicadas Contemporâneas e para o Museu da Fotografia, num complexo em Lausana que envolve ainda o Museu de Belas Artes (confiado a um ateliê de Barcelona, também ele premiadíssimo), ficaram de fora propostas de arquitetos laureados com o Pritzker e de outros grandes ateliês. A escolha tem um particular significado se pensarmos como a crise dos últimos anos afetou os arquitetos portugueses. Ateliês que davam trabalho a dezenas de profissionais ficaram reduzidos ao mínimo e muitos foram os arquitetos que tiveram de se desdobrar em viagens em busca de trabalho para as suas equipas. Muitos - e aqui o número é da ordem dos milhares - saíram para ateliês no estrangeiro. O valor a que são pagos - quase sempre à hora - muitos profissionais é ofensivo para quem tem uma formação muito exigente e que chegou às universidades com notas elevadíssimas. Na verdade, é nas palavras que justificam a escolha do projeto dos irmãos Aires Mateus que está a chave para esta questão: força, claridade e simplicidade, diz o júri. Curioso, comparando com o belíssimo critério do preço mais baixo que é sistemático em Portugal. Um critério que desvaloriza o papel dos arquitetos, sem respeito pela imaginação e pela capacidade de criar um novo risco na paisagem.

por ANA SOUSA DIAS
Diário de Notícias