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A natureza do melhor da nossa natureza
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A natureza do melhor da nossa natureza
O velho Doutor Homem, meu pai, considerava que a idade desvaloriza ou as doenças ou a necessidade de sobreviver.
O meu médico de Viana do Castelo defendia a primeira opção, achando que o meu corpo sobreviveria mais uns tempos – depreendi isso quando percebi que manteve a minha dose habitual de comprimidos para os males gerais e apenas confirmou a existência dos males particulares. A minha visita semestral já não é como a de outros tempos, quando ia carregado de amostras e relatórios de "especialistas" – em primeiro lugar, porque passou de semestral a trimestral; depois, porque o meu médico de Viana foi substituído pela dra. Teresa, que me consulta na sua casa de Venade, entre conversações sobre a beleza das magnólias e outras sobre as belezas do Minho, que no Verão a dra. Teresa troca pelas do Algarve – vem daí uma grande diferença de opiniões entre nós. De qualquer modo, com esta idade sou apenas uma "amostra geral" de como no mundo uma personagem resignada consegue resistir à passagem do tempo, às decepções e desilusões – nada de especial. A certa altura, ninguém fica admirado com alterações de humor, defeitos de funcionamento e deficiências motoras, que ficam a ser o retrato de conjunto deste vosso cronista.
O velho Doutor Homem, meu pai, habituado – pela sua profissão de advogado – a escutar queixas e a ouvi-las com respeito (ou perderia a clientela), desvalorizava as suas, menosprezando achaques e avarias no seu sistema hepático. Ele dizia que, ao contrário do que se pensava, se envelhecia com mais dignidade se poupássemos nas queixas porque o rio do mundo corre quase na mesma direcção. A lição do estóico – ou do epicurista – tem a ver com a contemplação desse rio, enumerando as etapas até ao encontro final com a morte. Dona Ester, minha mãe, não gostava dessa conversa – que era rara paredes dentro, uma vez que estava inscrito na nossa natureza que não seríamos hipocondríacos. Ela acreditava que bastava nascer e envelhecer no Minho para que a vida tivesse sentido. De alguma maneira tinha razão; o Minho tem prolongado a minha vida como se se tratasse de um bálsamo milagroso.
A necessidade de sobreviver deixou de ser um tema na minha vida; além de ser desinteressante, trata-se de uma evidência: sobrevivemos a quase tudo. A minha sobrinha Maria Luísa acha isto de um conformismo terrível. Eu acho que é o melhor da natureza humana.
18.10.2015 00:30
ANTÓNIO SOUSA HOMEM
Correio da Manhã
O meu médico de Viana do Castelo defendia a primeira opção, achando que o meu corpo sobreviveria mais uns tempos – depreendi isso quando percebi que manteve a minha dose habitual de comprimidos para os males gerais e apenas confirmou a existência dos males particulares. A minha visita semestral já não é como a de outros tempos, quando ia carregado de amostras e relatórios de "especialistas" – em primeiro lugar, porque passou de semestral a trimestral; depois, porque o meu médico de Viana foi substituído pela dra. Teresa, que me consulta na sua casa de Venade, entre conversações sobre a beleza das magnólias e outras sobre as belezas do Minho, que no Verão a dra. Teresa troca pelas do Algarve – vem daí uma grande diferença de opiniões entre nós. De qualquer modo, com esta idade sou apenas uma "amostra geral" de como no mundo uma personagem resignada consegue resistir à passagem do tempo, às decepções e desilusões – nada de especial. A certa altura, ninguém fica admirado com alterações de humor, defeitos de funcionamento e deficiências motoras, que ficam a ser o retrato de conjunto deste vosso cronista.
O velho Doutor Homem, meu pai, habituado – pela sua profissão de advogado – a escutar queixas e a ouvi-las com respeito (ou perderia a clientela), desvalorizava as suas, menosprezando achaques e avarias no seu sistema hepático. Ele dizia que, ao contrário do que se pensava, se envelhecia com mais dignidade se poupássemos nas queixas porque o rio do mundo corre quase na mesma direcção. A lição do estóico – ou do epicurista – tem a ver com a contemplação desse rio, enumerando as etapas até ao encontro final com a morte. Dona Ester, minha mãe, não gostava dessa conversa – que era rara paredes dentro, uma vez que estava inscrito na nossa natureza que não seríamos hipocondríacos. Ela acreditava que bastava nascer e envelhecer no Minho para que a vida tivesse sentido. De alguma maneira tinha razão; o Minho tem prolongado a minha vida como se se tratasse de um bálsamo milagroso.
A necessidade de sobreviver deixou de ser um tema na minha vida; além de ser desinteressante, trata-se de uma evidência: sobrevivemos a quase tudo. A minha sobrinha Maria Luísa acha isto de um conformismo terrível. Eu acho que é o melhor da natureza humana.
18.10.2015 00:30
ANTÓNIO SOUSA HOMEM
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